PADRES NA POLÍTICA

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PADRES NA POLITICAPADRES NA POLÍTICA DO MARANHÃO
BENEDITO BUZAR
Foram tantos os padres que pediram à arquidiocese de Natal, no Rio Grande do Norte, para disputar os cargos de prefeitos que o arcebispo, dom Jaime Vieira Rocha, divulgou nota proibindo todos eles de se lançarem candidatos.
No Maranhão, houve tempo em que a cúpula do clero proibiu os padres de se candidatarem a cargos políticos, sob pena de serem afastados dos ofícios eucarísticos. Essa enérgica providência foi tomada, de um lado, para as paróquias, especialmente as do interior, não ficarem ameaçadas de vacância, diante da sedução produzida pela política sobre o clero. De outro lado, para evitar que os cultos católicos fossem usados para as pregações da politiquice e os padres se envolvessem com as maquiavélicas astúcias dos politiqueiros.
Um dos prelados que assumiu essa postura foi o arcebispo, dom José de Medeiros Delgado. No seu vicariato, de fevereiro de 1952 a maio de 1963, através de circular, proibiu rigorosamente os padres de se imiscuírem na atividade política, para não prejudicar “a atividade pastoral, que se desgasta no entrechoque da política maranhense”.
Se houve época em que o clero foi cerceado de atuar na cena partidária, em outro e longo período, teve ampla e irrestrita liberdade para concorrer a postos eletivos.
Com a criação do Conselho Geral da Província, em 1829, e da instalação da Assembleia Legislativa Provincial, em 1834 até a proclamação da República, tivemos no exercício da atividade parlamentar 36 padres, dentre os quais dois prelados: dom Luís Raimundo da Silva Brito, 1º arcebispo de Olinda, e dom Marcos Antônio de Sousa, bispo do Maranhão. A presença de numerosos sacerdotes na cena política imperial, indiscutivelmente, deveu-se à força política da igreja católica na sociedade de então.
Já, na Velha República, de 1891 a 1930, os padres não tiveram presenças tão marcantes na Assembleia Legislativa. Na primeira legislatura, os padres Balduíno Pereira Maia e Carvílio Pereira da Silva Lobo; na terceira legislatura, o cônego Damasceno Ferreira; nas décima segunda e décima terceira legislaturas, o cônego João dos Santos Chaves; na segunda e terceira legislaturas, o monsenhor João Tolentino Mourão; na sétima legislatura, o cônego José Gonçalves Serejo.
Às eleições para Constituinte federal, em maio de 1933, e Constituinte estadual, em outubro de 1934, a igreja católica maranhense organizou a LEC – Liga Eleitoral Católica que não elegeu nenhum padre à deputação federal, mas para o parlamento do Estado foi eleito o padre João Possidônio de Sousa Monteiro.
Em São Luís, os principais mentores da Liga Eleitoral Católica foram os párocos Francisco Godinho, reitor do Seminário de Santo Antônio, Dionísio Azevedo, vigário da igreja de São João, Newton Pereira, professor secundário, e Carlos Bacelar, diretor das Vocações Sacerdotais.
Com o fim do Estado Novo e a volta do país ao regime democrático, a cúpula da igreja maranhense, excetuando-se a fase em que Dom Delgado esteve à sua frente, não tolheu e nem proibiu os padres de se filiarem a partidos políticos e se candidatarem a cargos eletivos.
De 1946 até os dias correntes, deu-se uma reviravolta no comportamento político dos membros do clero secular. Os padres voltaram as suas vistas mais para os cargos executivos, visando às prefeituras, do que para os cargos legislativos (deputados e vereadores). À frente das prefeituras, salvo poucas exceções, nem sempre se conduzem a contento, inclusive, comprometendo a missão evangelizadora da igreja.
Nesse período temporal, apenas dois sacerdotes se candidataram e foram eleitos: os deputados estaduais Joel Barbosa, em 1947 e 1954, e Manoel da Penha Oliveira, em 1982. Coincidentemente, ambos deixaram a batina, casaram e tiveram filhos.
Numerosos fatos e episódios envolvendo os padres com as atividades políticas marcaram a história do Maranhão. Merece registro o que teve como protagonista o padre Astolfo Serra. Depois de ordenado, assumiu a paróquia de Mirador, onde passou a atuar politicamente e apoiando os revoltosos da Coluna Prestes, que invadiram o Maranhão e enfrentaram as forças da Polícia. Dom Otaviano de Albuquerque, arcebispo do Maranhão, foi pressionado pelo governador Godofredo Viana, a removê-lo de Mirador.
Transferido para a paróquia de Flores, o padre não se intimidou e continuou a usar o púlpito da igreja, por meio do qual fazia sermões inflamados e discursos revolucionários a favor da Aliança Liberal e da Revolução de 30. Esses movimentos levaram Getúlio Vargas ao poder, afastaram o governador Pires Sexto do palácio e viabilizaram a formação de uma Junta Governativa, da qual fazia parte o jornalista Reis Perdigão, que, como figura proeminente, indicou o padre Astolfo Serra ao cargo de interventor federal.
A nomeação do pároco não foi bem vista por dom Otaviano de Albuquerque, que fazia restrições ao seu comportamento político, moral e pouco condizente com as normas do Poder Espiritual. O sacerdote só assumiu o comando do Estado depois de o presidente Getúlio Vargas mover gestões junto ao arcebispo, que, a muito custo, concordou com a nomeação, como se adivinhasse os problemas políticos que ele causaria e que resultaram na sua demissão em 18 de agosto de 1931.

1 comentário para "PADRES NA POLÍTICA"


  1. Marcos D’olival

    Sr. Buzar, parabéns excelente texto histórico de itapecuru mirim-Ma
    por gentileza sou estudante de História Faculdade Projeção-DF, e tenho interesse nas memorias de igrejas antigas a Igreja Nossa Senhora das Dores, creio eu é de 1801, solicito a especial gentileza de tecer comentários histórico a respeito da mencionada Igreja bem como a genealogia sacerdotal desta igreja? quais os padres mais carismáticos? os com mais tempo de sacerdócio? conta a história do funeral de uma padre o traslado da igreja até o cemiterio se deu por meio de carroça? em que ano ocorreu isto? e a igreja em si mantem a sua originalidade? é tombada? desculpe, mas são informações fundamentais para meu trabalho acadêmico?Grato Marcos D’olival

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