No dia 11 de maio de 1933, há 79 anos, a população de São Luís assistia estupefata a um ato inédito no Maranhão: a prisão de diretores da Associação Comercial do Maranhão a mando do interventor Martins de Almeida.
O capitão Antônio Martins de Almeida foi nomeado interventor federal no Maranhão, a 3 de junho de 1933, pelo presidente Getúlio Vargas com dupla finalidade: comandar o processo eleitoral, com vistas às eleições para a Câmara Federal e Assembleia Constituinte do Estado, que ocorreriam em outubro de 1934, e recuperar a credibilidade do Movimento de Trinta, desgastado pelo insucesso dos ex-interventores Reis Perdigão, Astolfo Serra e Seroa da Mota.
O novo interventor preenchia os requisitos para comandar o estado: militar, não era maranhense e politicamente neutro. Recebeu orientação do presidente da República para colocar ordem na política e nas finanças do Estado. Formou sua equipe com pessoas de fora do Estado. Para ajudá-lo, trouxe em sua companhia o pernambucano Vitorino de Brito Freire, que conheceu na Revolução Constitucionalista de São Paulo, para ocupar o cargo de Secretário de Governo, órgão encarregado de conduzir a política maranhense.
O capitão Martins de Almeida era um homem valente e destemido, daí o apelido de “Bala na Agulha”. Na sua gestão, organizaram-se os “Bandos de Papai Noel”, integrado por pistoleiros nordestinos, com a tarefa de aplicar surras em plena rua nos desafetos do governo. Essa política de violência respigou também em Vitorino Freire, por isso, a fama que conquistou de truculento.
O interventor sabia que não ficaria muito tempo no Maranhão, portanto, não deveria se preocupar em realizar grandes obras. Não por acaso a construção da estrada Coroatá-Pedreiras foi paralisada, obra de seu antecessor Seroa da Mota, militar como ele, que a considerava um investimento público de relevância.
A prioridade do governo era o desenvolvimento de ações administrativas, para a contenção de despesas e pela obtenção de aumento das disponibilidades financeiras, a fim de equilibrar o orçamento por meio do incremento da arrecadação e de rigorosa cobrança de impostos. Por isso, ao assumir demitiu funcionários, reduziu salários e não recorreu a empréstimos junto à rede bancária.
A Associação Comercial do Maranhão não desejava repetir o péssimo relacionamento que teve no governo anterior, quando bateu de frente com o modo de administrar do interventor Seroa da Mota, que ignorava as propostas e reivindicações do empresariado local.
Como as primeiras iniciativas de Martins de Almeida agradaram à Associação Comercial, a diretoria da entidade procurou aproximar-se do interventor, emprestando-lhe apoio e solidariedade às medidas por ele anunciadas com o propósito de melhorar a situação do Maranhão.
Em a nota publicada na imprensa maranhense, em julho de 1933, os diretores da ACM informavam o seguinte: “Recebido neste estado com as mais robustas provas de simpatia e confiança, S. Excia. vem praticando atos que merecem justos louvores, revelando seus honestos propósitos de soerguer o Maranhão, restaurando sua precária situação financeira, com medidas de compressão nas despesas, fomentando as fontes de receita e desenvolvendo sua expansão comercial”.
Estabelecido o diálogo com o interventor, o qual prometeu ver com bons olhos as reivindicações da Associação Comercial, dentre as quais a formação de uma comissão mista, composta de auxiliares do governo e de representantes da ACM, para a elaboração da proposta orçamentária para o exercício de 1934.
As reuniões, a princípio bem produtivas, deixaram de ser amistosas a partir do momento em que Martins de Almeida decidiu que a elevação da receita orçamentária estadual só poderia alcançar bom resultado com o aumento de impostos do comércio.
Aí coisa começou a degringolar, com desencontros entre os pontos de vista do governo e dos empresários, que passaram a ser constantes e diferenciados. De um lado, a ACM com o argumento de que a proposta do governo só seria viável se houvesse redução do total da receita prevista para o orçamento. De outro, Martins de Almeida irredutível e em oposição a ela.
A situação chegou a um ponto de tamanha discordância que os representantes do empresariado maranhense deixaram a comissão. Com isso, a paz que reinava entre o interventor e a Associação Comercial foi de ladeira abaixo. Os impostos foram aumentados e cobrados, mas as críticas dos comerciantes a Martins de Almeida ocorreram na mesma proporção, através de notas na imprensa, movimentos de protesto para boicotar a política de tributação, denúncias às autoridades federais.
A crise atingiu um clima tão incontrolável a partir do momento em que os empresários mandaram expedientes considerados pelo interventor de injuriosos à sua pessoa. Sentindo-se ofendido, sem pestanejar, mandou prender os diretores Eden Saldanha Bessa, Arnaldo de Jesus Ferreira, Afonso Matos, Arnaldo Correia e Aurino Penha por terem incitados os comerciantes a uma greve geral, como reação ao aumento do Imposto de Transações Mercantis.
Os diretores da ACM só foram libertados quatro dias depois, por força de “habeas corpus”.