AS COPAS QUE EU NÃO ESQUEÇO

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Nesta quinta-feira, as atenções de milhões de seres humanos estarão voltadas para São Paulo, onde se travará a partida inaugural da vigésima Copa do Mundo, entre as seleções do Brasil e da Croácia.

Para este escriba, a Copa do Mundo é muito importante e emblemática. Explico: tive a ventura de nascer em 1938, ano em que, na França, a equipe da Itália sagrou-se campeã do terceiro campeonato mundial de futebol.

Por isso, bato no peito e digo que das 19 Copas do Mundo já organizadas e disputadas, apenas 3 não tive a oportunidade de acompanhá-las intensamente: a de 1930, no Uruguai; a de  1934, na Itália; e a de 1938, na França. As duas primeiras porque ainda não era gente. A de 1938, porque acabara de nascer.

Só a partir de 1950, quando contava com 12 anos – com o sangue do futebol a correr nas veias , passei a viver as emoções proporcionadas pelos jogos da Copa do Mundo, transmitidos através das emissoras de rádio e posteriormente mostrados pela televisão.

Das 19 Copas, realizadas no período de 1950 a 2010, três delas merecem destaque especial e jamais vou esquecê-las. A primeira, tendo o Rio de Janeiro por palco, tudo levava a crer que o Brasil seria indiscutivelmente o grande campeão, mas perdeu a última e decisiva partida para o Uruguai.

Mas não foi por causa da derrota para os uruguaios, a 16 de julho de 1950, em pleno estádio do Maracanã, que aquela Copa do Mundo ficou retida na minha memória.  O motivo foi este: em Itapecuru acabara de ser inaugurado um serviço de alto falante, que, à época, exercia uma poderosa influência junto às comunidades do interior do estado.

Dado o grande interesse da população itapecuruense de ouvir os jogos do Brasil, transmitidos pela Rádio Nacional, cuja potência permitia chegar aos mais longínquos rincões do país, o prefeito do município, Miguel Fiquene, coincidentemente, o proprietário do serviço de alto falante – “Voz Marília”, deu um jeito de levar para o ar, ainda que o som não fosse de boa qualidade, os lances narrados pelos os locutores e comentaristas esportivos da mais importante emissora do Brasil, que pertencia ao governo federal.

Assim é que, nos jogos do Brasil, eu, a população de Itapecuru e de cidades vizinhas nos postávamos na frente da casa onde a “Voz Marília” estava instalada e ali permanecíamos atentos para ouvir as transmissões da Radio Nacional.

A segunda Copa do Mundo a ficar eternizada dentro de mim foi a de 1958, quando o Brasil conquistou, na Suécia, a sua primeira taça de ouro. Naquele ano, estava no Rio de Janeiro, preparando-me para o vestibular. Morava com quatro maranhenses num apartamento alugado no Largo do Machado. Como não dispúnhamos de aparelho de televisão, produto ainda não acessível ao consumo popular, contentávamos em torcer pelo rádio, então, o grande e fantástico meio de comunicação social do país.

Daquela Copa do Mundo, guardei, também, a magnífica recepção do povo carioca aos jogadores brasileiros ao regressarem vitoriosos da Suécia, com destaque para Pelé e Garrincha. O ápice das homenagens ocorreu no Palácio do Catete, ainda sede do Poder Executivo, chefiado pelo presidente Juscelino Kubitscheck.

Sendo eu vizinho do Palácio do Catete, assisti de perto a toda aquela manifestação de vibração, carinho e júbilo, que até hoje permanece viva no meu pensamento.

A terceira Copa do Mundo que continua intocável no meu consciente foi a do México, em 1970, quando a equipe brasileira, pela terceira vez, arrebatou de maneira indiscutível a ambicionada Taça Jules Rimet. Nessa época, morava definitivamente em São Luis, casado com Solange e prestando serviços profissionais ao governo do estado.

Os jogos daquela Copa, pela primeira vez foram transmitidos direta e ao vivo do país mexicano pela televisão, via satélite. Mas nem todos os estados brasileiros receberiam o sinal do satélite. O Maranhão era um desses. Quem quisesse ver os jogos ao vivo teria de viajar a Teresina, pois ali o sinal do satélite chegaria sem problemas. Por conta disso, a capital do Piauí, nos dias de jogos do Brasil, ficava repleta de gente daqui. Na partida final, quando o Brasil ganhou da Itália e sagrou-se campeão, lá fui eu com milhares de conterrâneos para Teresina, onde éramos recebidos afetuosamente, mas com pitadas de gozação.

Lembro ainda que na entrada da cidade, após a “Ponte da Amizade”, que liga o Maranhão ao Piauí, várias faixas nos saudavam, porém, de maneira irônica. Uma delas dizia: – Maranhenses, sejam bem-vindos à capital do México.

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