OS DEUSES NÃO ENVELHECEM E NEM SAEM DE CENA

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Até o final de seu mandato, dia 31 de janeiro de 2015, os holofotes da mídia eletrônica e impressa estarão direcionados para o senador José Sarney, um político incomum e que exerceu os mais importantes cargos públicos da República, todos eletivos: deputado federal, governador, senador, vice e presidente da República.

Ao longo desse tempo, o povo brasileiro ouvirá discursos de deputados e senadores, veiculados pelas emissoras de rádio e televisão, bem como verá nos jornais e revistas do país inteiro, artigos, comentários e opiniões sobre o político maranhense que decidiu não mais concorrer aos postos eletivos, ele que desde 1954, submeteu o seu nome ao sufrágio universal, direto e secreto, excetuando-se as eleições de presidente e vice da República, realizadas em 15 de março de 1985, ao ser eleito por um Colégio Eleitoral, composto de senadores, deputados federais e representantes das Assembleias Legislativas.

Por conta dessas manifestações parlamentares e midiáticas, a opinião pública será informada sobre a trajetória de um político que teve participação ativa nas esferas legislativa e executiva e atuação marcante em episódios da cena brasileira durante seis décadas.

Por todo esse tempo de atividade, Sarney, como qualquer ser humano, cometeu erros e falhas, mas são irrelevantes quando confrontadas com os atos e as ações positivas que realizou em favor do bem comum e do país.

Os não maranhenses não o perdoam pela projeção alcançada no plano nacional, como político e intelectual. São ataques descabidos e agressões irracionais movidas por paixões partidárias e regionais, emanadas de setores preconceituosos, que não admitem ver os nordestinos no exercício de espaços até então reservados aos privilegiados e da época “do café com leite”, em que o cargo de presidente e vice da República se destinava apenas aos políticos de Minas Gerais e São Paulo.

Chegar aos oitenta e quatro anos, amealhando mais vitórias do que derrotas, proeza conseguida por Sarney, realmente é um privilégio e provoca inveja a muita gente. Quem no Brasil, pergunto eu, atingiu essa idade com uma história de vida política tão rica e gloriosa, tendo o mais alto cargo da República como ápice?

Não é por outro motivo que passou a ser hostilizado e receptáculo de ofensas, até mesmo de maranhenses. Alguns por desconhecimento ou ignorância, outros por má-fé e inveja, que tratam de denegri-lo ou de demonizá-lo como se fosse o único responsável pelas mazelas sociais vividas pelo nosso povo.

Os que assim procedem, propositadamente ou não, ignoram o que era o Maranhão antes de Sarney assumir o governo do Estado em 1966, ao vencer uma eleição limpa, democrática e sem auxílio da fraude eleitoral, que campeava à vontade.

Se procurassem saber o que aqui ocorreu, com relação à mudança de mentalidade, modernização da gestão pública e transformação da estrutura sócio-econômica, deixariam de ser tão implacáveis e reconheceriam, como atesta a minha geração, o magnífico trabalho realizado na formatação do Maranhão Novo e notabilizado por obras e serviços do porte do asfaltamento da estrada São Luis-Teresina, da criação de ginásios Bandeirantes, escolas João de Barros, faculdades de Engenharia, Administração, Comunicação e Educação, Televisão Educativa, da construção da barragem do Bacanga, Vila Anjo da Guarda, ponte de São Francisco, porto do Itaqui, da instalação de novos eixos rodoviários, de novas linhas de transmissão de energia elétrica, Companhia de Telecomunicações, sistema de computação, e por aí vai.

Mas o que se vê e ouve é uma acusação sórdida, orquestrada pela mídia nacional, responsabilizando-o pela montagem no Maranhão de uma “oligarquia”, como se esse tipo de governo ainda tivesse lugar no mundo contemporâneo, e por ações praticadas por alguns governadores que o sucederam e não deram continuidade ao que fora implantado, fazendo, ao contrário, o Estado caminhar para trás.

A longevidade de Sarney na cena pública não deve ser creditada apenas à sua capacidade e competência política. Ele chegou a esse estágio de vida, indiscutivelmente, por ser dono de virtudes, qualidades e sentimentos, que o fizeram um homem fora do comum, generoso, amigo dos amigos, e cultor de uma arte que domina com propriedade: conquistar e cativar aliados.

Com tantos e tão valiosos predicados, adquiridos ao longo de sua existência e incorporados à sua personalidade, só poderia ser uma figura humana ímpar e singular. O Maranhão nunca teve um filho que se projetasse no cenário nacional como Sarney. Queiram ou não os seus inimigos e adversários, ele marcou a sua época e nenhum outro maranhense, até hoje, chegou aos seus pés. Pessoas do quilate dele só aparecem de cem em cem anos.

Para chegar aonde chegou e ser o que é, deve-se, sem dúvida, aos seus méritos pessoais e aos valores que abraçou. Seu nome não ficará registrado na história por conta de atos que os desafetos lhe imputam, mas pela visão de estadista, por ser um político competente, inteligente e sagaz, pelas obras que fez ou ajudou a fazer, pela quantidade imensa de amigos que conquistou no país e no mundo, pela generosidade, pelo amor aos livros, pela família que construiu e pela formação espiritual e religiosa.

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