CEM DIAS SEM MÍDIA

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Quem compulsar os jornais de São Luis, a partir do advento da República, tomará ciência do interesse dos governadores maranhenses pela mídia e de seu uso para informar à opinião pública sobre as ações realizadas em favor da sociedade.

Não é de hoje, portanto, que a mídia impressa tem sido objeto da atenção de nossos governantes, que dela se servem para levar ao conhecimento da sociedade, especialmente a de São Luis, onde se concentra a maior parte da população esclarecida, das atividades do Poder Executivo na prestação de bens e serviços à coletividade.

Na verdade, nos primeiros tempos do regime republicano, em que só os jornais tinham vez, as noticias e as informações chegadas ao domínio da elite letrada se manifestavam através de anúncios, editais, avisos, editoriais e artigos da lavra dos que tinham o dom de escrever e faziam parte da facção ou do partido ora no poder.

A partir dos anos 1930, com o progresso gráfico, os jornais de São Luis passaram a sofrer alterações e os governantes começaram a melhor usá-los para informar a população, que aumentara quantitativamente e qualitativamente, sobre as obras construídas na cidade, que sofria um processo de modernização, com a inauguração de bondes elétricos, iluminação elétrica, telefones e água encanada.

Também deve ser lembrado que os jornais nessa época tornaram-se mais atraentes e procurados por conta dos embates políticos travados entre os partidos que lutavam para abocanhar o poder estadual.

Mas foi na década de 1940, quando o país vivia sob o tacão da ditadura do Estado Novo e o Maranhão governado pelo interventor Paulo Ramos, que a opinião pública obteve mais informações com respeito ao aparelho estatal. Com a maioria dos jornais fechados, Paulo Ramos passou a fazer do Diário Oficial o órgão veiculador de suas ações pessoais e administrativas.

Contava para isso com a intelectualidade maranhense, cooptada por ele para, nas páginas do DO, enaltecer a sua figura de governante e elogiar as obras construídas em São Luis e no interior do Estado.

Como se não bastasse ter ao seu lado a mídia impressa, Paulo Ramos foi mais longe. Por sua iniciativa, inaugurou a primeira estação radiofônica e oficial em São Luis: a Rádio Difusora do Maranhão, mais tarde transformada em Rádio Timbira. Através dela, o interventor divulgava a sua imagem de bom administrador – que na verdade o era -, mas escondia as atrocidades cometidas contra os que não rezavam na sua cartilha.

Com a derrubada do Estado Novo, a volta do país à democracia, a abolição da censura, a restauração as liberdades e as eleições dos representantes do povo, estes, ao chegarem ao poder priorizavam a comunicação na construção de suas imagens pessoais e políticas.

Foi assim no período vitorinista. Enquanto os situacionistas se sustentavam na Rádio Timbira e nos jornais Diário de São Luis, Diário Popular e A Tarde para divulgar seus objetivos políticos e esmagar nas urnas os oposicionistas, estes, controlavam a Rádio Ribamar, o Jornal do Povo, O Combate e o Jornal Pequeno, os quais tratavam de estigmatizar os governistas, acusando-os de fraudadores de eleições e benfeitores do mal.

A fase que sucedeu ao vitorinismo, conhecida por sarneísmo, levou ao poder o jovem governador José Sarney, que soube usar como ninguém os meios de comunicação. Ele aproveitou de maneira competente as emissoras de rádio, os jornais e a televisão, inaugurada recentemente em São Luis, para propagar a renovação e as mudanças, voltadas para o desenvolvimento e o progresso do Estado.

Ainda que na fase do regime militar, os meios de comunicação estivessem sob censura, Sarney e os que o sucederam, uns mais, outros menos, souberam se valer da mídia impressa e eletrônica para dar conhecimento das promessas feitas ao longo da campanha eleitoral.

Com o fim do sarneísmo e a vitória do candidato Flávio Dino, o Maranhão passa a ver algo diferente na área da comunicação social. Os jornais, o rádio e a televisão, sempre importantes na divulgação das ações de governo, foram relegados a plano secundário.

Pela primeira vez, desde a instalação do regime republicano, um governante maranhense chega ao comando do Poder Executivo e prefere ficar na contra mão dos ex-ocupantes do Palácio dos Leões, no que se refere ao uso da mídia impressa e eletrônica.

Pelo que se tem visto e ouvido, desde que Flávio Dino assumiu a direção do Estado, o governo deu pouca atenção aos jornais e às emissoras de rádio e televisão, por entender que os mesmos, nos dias de hoje, como meios de comunicação, não são mais capazes de influenciar e de convencer à população como outrora.

Para o governador, a humanidade vive agora um momento diferenciado e marcado fortemente pela presença da internet, que estar a bombar e a fazer o mundo estremecer diante de seu fantástico poderio de convencimento social.

A propósito: dias antes de Flávio Dino assumir o governo, lembro de uma conversa que tive com o empresário e amigo, Roberto Albuquerque.  Disse-me sem rodeios que o atual governador, como bom tuiteiro, acredita mais no poder das redes sociais do que na força da mídia impressa e eletrônica.

Nesses cem primeiros dias da gestão de Flávio Dino, comprova-se claramente que as redes sociais (tuiteres, blogs, watzaps, face books e instagrams), foram mais usadas do que os tradicionais veículos de comunicação social. Com isso, vale dizer, a maioria da opinião pública deixou de ficar do seu lado, ela que, no Maranhão, dá mais credibilidade e deposita mais confiabilidade na mídia impressa e eletrônica do que nos veículos que as redes sociais projetam pela internet.

Como o governador não dá aos tradicionais veículos de comunicação o tratamento que merecem, como formadores de opinião, ainda permite que seus auxiliares, a exemplo dos secretários de Indústria, e Comércio e de Segurança, adotem comportamentos grosseiros e de baixo nível aos jornais da cidade, que criticam o governo atual com as armas adequadas e civilizadas.

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