DO DOUGLAS DC-3 AOS BOEINGS 777-300

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Eu e Solange acabamos de regressar de uma viagem a São Paulo, de onde partimos para Nova York num Boeing 777-300, da American Air Line. Por vivermos tempos de avanços científicos e tecnológicos, viajamos em sofisticadas aeronaves, dessas que nos levam em curto período aos mais distantes lugares do universo.

Nessa longa trajetória aérea, realizada em duas etapas, uma nacional e outra internacional, tive tempo de sobra para fazer um exercício comparativo de minhas primeiras viagens, realizadas nos anos 1950 e 1960, com as da década de 1970 em diante, que marcaram uma nova e auspiciosa fase no setor do transporte aéreo.

Como viajei em aeronaves bi motores, turbo hélices e movidas a jato, que correspondem a momentos marcantes da história da aviação comercial, posso dizer, sem medo de incorrer em erros, que a olho nu são evidentes e gritantes as diferenças entre os equipamentos que operaram no passado e os que hoje cruzam os céus mundiais.

Basta citarmos quesitos tipo velocidade, eficiência, conforto, segurança e espaço, para se dimensionar como a tecnologia se encarregou de separar, de modo visível e forte, três gerações de aviões, em que cada uma prestou serviços compatíveis com os métodos de trabalho da época e balizou comportamento próprio nas relações entre passageiros, tripulantes e comandantes de vôos.

Com base na máxima de que a primeira vez a gente não esquece, afirmo que no começo de 1959 tive o prazer de viajar de avião, num modelo Douglas DC-3, que prestava serviços às empresas Condor, Real-Aerovias, NAB- Navegação Aérea Brasileira e Loid Aéreo. Neles, os passageiros de São Luis viajavam para outras cidades brasileiras, com predominância para o Rio de Janeiro, então capital da República.

Viajei para a Cidade Maravilhosa, a fim de preparar-me a ingressar no curso superior, nas asas da Real- Aerovias, com passagem comprada com 50 % de abatimento e utilizando a carteira do deputado federal, Líster Caldas, no qual o meu pai, Abdala Buzar, carregava de votos. Naquela época, cometia-se esse tipo de abuso, que o regime militar acabou.

O Douglas DC-3 tinha a capacidade de transportar não mais do que 30 passageiros. O avião decolava de um simulacro de aeroporto e deixava São Luis nas primeiras horas da manhã, operava em dias alternados, e pousava no Galeão, Rio de Janeiro, ao final da tarde. Vôo direto, nem pensar, pois as aeronaves não tinham autonomia para isso. Até chegar ao destino final, o avião escalava em cinco ou seis aeroportos, por exemplo, Carolina, Parnaíba, Fortaleza, Ilhéus, Bom Jesus da Lapa e Salvador. Neles, se abasteciam de combustível e os passageiros obrigavam-se a descer para almoçar ou lanchar, por conta das companhias. A tripulação era a mínima possível e formada de mulheres, chamadas aero moças, que nem sempre apresentavam essa aparência.

Nenhum passageiro, fosse homem ou mulher, viajava de maneira inadequada como nos dias de hoje. Voar de avião era tão importante que os homens não relaxavam o terno completo e as mulheres apresentavam-se vestidas com roupas da moda e bem embelezadas. Ninguém viajava de chinelo, sandália, camiseta, bermuda e coisas que tais, como nos dias correntes. Fumar, contudo, paradoxalmente, permitia-se.

A partir dos anos 1970, o transporte aéreo ingressa em tempos de significativa transformação tecnológica. Os Douglas DC-3, com apenas dois motores, cedem lugar a aeronaves mais possantes, rápidas, seguras e espaçosas, movidas a quatro motores ou a turbo hélices, que invadiram o mercado aeronáutico com os nomes de Constellation, Caravelle, Viscount, Hirondelle, que prestavam serviços a novas companhias aéreas: Panair do Brasil, Cruzeiro do Sul, Varig, Vasp,Paraense, Sadia, depois Transbrasil, todas com presença em São Luis.

Nesses aviões também viajei com freqüência e o tempo de voo até o Rio de Janeiro já não se fazia tão longo como nos Douglas DC-3, graças à supressão das escalas no interior, substituídas pelas capitais dos estados. A Cruzeiro do Sul, por exemplo, antes de pousar no Rio de Janeiro, parava em Fortaleza, Recife e Salvador. A Panair do Brasil, na qual o deputado Renato Archer gozava de muito prestígio, era a única companhia que fazia voo direto São Luis-Rio de Janeiro e vice-versa. Decolava da Cidade Maravilhosa à meia-noite e amanhecia aqui às 6:00 horas.  A Vasp tinha como final de linha São Paulo, pois era empresa majoritariamente formada com recursos do governo paulista. A Transbrasil e a Varig também operavam em nossa capital, conduzindo passageiros para Brasília, a nova capital e ao sudeste do país. Os Hirondeles pertenciam a um grupo paraense, mas teve pouco tempo de vida, pois não conseguiu recuperar-se de um desastre, que ceifou muitas vidas.

Com vôos mais curtos, os almoços e jantares passaram a ser servidos a bordo, com cardápios caprichados e servidos em pratos de louças, guardanapos finos, talheres de metal, copos de vidros e adequados ao gosto do consumidor, com direito a beber refrigerantes, sucos, cervejas, uísque, gim, conhaque e similares, a custo zero para os passageiros, que bebiam à vontade e muitas vezes causavam cenas constrangedoras. Por isso, foram eliminadas e substituídas por bebidas leves e com dinheiro na frente. Isto, um absurdo.

A partir do acidente com o Caravelle, da Cruzeiro do Sul, em 1973, ocorrido durante o pouso, no aeroporto do Tirirical, em São Luis, quando passageiros, tripulantes e comandantes perderam as vidas,  salvo melhor juízo, as companhias aéreas, por medida de segurança, proibiram o consumo de cigarro a bordo. A tragédia não teve nada a ver com o fumo.

Não demorou muito para uma nova revolução se instalar no setor do transporte aéreo mundial. Surgiram os jatos – Boeings, Airbus, Douglas DC-10, MD-11, Ilyshin, Lockheeed e outros, que deixaram para trás os turbo hélices e os quadrimotores. Mais confortáveis, ligeiros, amplos e seguros se impuseram no mercado aéreo. Viagens de longas horas encurtaram-se para felicidade do passageiro. Para o Rio de Janeiro ou São Paulo, em voo direto, três horas de duração. Em cinco horas, com escalas, através da TAM, Gol e Azul.

Mas se é verdade que os aviões a jato criaram condições excepcionais para a gente conhecer novas cidades, chegar a países distantes e atravessar continentes, não é falso dizer que a empresas aéreas (nacionais) desprezaram coisas que as antecessoras praticavam de bom grado e que ficaram na memória de quem viveu aqueles tempos e usufruiu daquelas viagens, nas quais sanduíches frios e de péssima qualidade não tinham vez e gente com roupa suja, de calção, despenteada e portadora de mau cheiro, viajasse a bordo e ao lado de pessoas que procuram se cuidar e estar de bem com a vida.

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