SÃO LUIS 31 DE JANEIRO DE 1965

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SÃO LUIS – SEGUNDA-FEIRA, 31 DE JANEIRO DE 1966.

BENEDITO BUZAR

Permita-me o leitor fazer de conta que hoje não é domingo, mas segunda-feira, 31 de janeiro de 1966.  Feito isto, imagino que estou em São Luis e assistindo um dia memorável. Pela minha memória, desfilam atos, fatos e acontecimentos ocorridos há 50 anos e que não consigo esquecê-los porque foram marcantes e radiosos em relação ao futuro.

Foi um dia diferente, que o povo esperava ver e dele participar, tal como na campanha eleitoral, quando abraçou de modo empolgante a candidatura de um jovem político, que prometeu nas praças públicas, fazer mudanças, trazer o progresso e ser o representante de uma coletividade ansiosa por tempos melhores e de novas oportunidades de  vida.

Para 31 de janeiro de 1966 não ser esquecido e ficar marcado na História do Maranhão, uma vasta programação foi caprichosamente organizada para que todos compartilhassem de uma festa que não pertencia a um partido ou uma facção política, mas foi o resultado de uma mobilização popular que levou José Sarney ao poder.

Dias antes daquela memorável data, os jornais da cidade conclamavam o povo maranhense para não deixar de participar da posse de Sarney e de Dino, os quais proclamaram em toda a campanha que a vitória deles levaria o povo ao governo.

Para que a participação da população fosse irrestrita, as classes produtoras emitiram nota pública em que assumiram o compromisso de não funcionar nesse dia tão auspicioso.

De acordo com a programação, as festividades começaram rigorosamente no primeiro minuto do dia 31 de janeiro, com a cidade acordada por intensas salvas de foguetes. Após essa alvorada pirotécnica, às 9 horas, na Igreja da Sé, veio a missa campal, celebrada com toda a pompa, pelo Arcebispo Metropolitano, Dom João José Mota e Albuquerque, com a participação do Coral do Maranhão.  Por causa da chuva que desabou sobre a cidade, a missa não foi campal, mas celebrada dentro da igreja.

Às 11 horas, dois eventos se realizaram simultaneamente: nos cinemas, exibições de filmes de longa metragem; no estádio Santa Isabel, torneio futebolístico entre os principais times da cidade. Enquanto esperavam o momento mais importante do dia, ou seja, a posse na Assembleia Legisllativa, e a transmissão do cargo, a céu aberto, um lauto banquete foi oferecido às autoridades e convidados, às 13 horas, no Clube Jaguarema.

Depois desse rega-bofe, iniciava-se a programação mais importante do evento político. O relógio do Largo do Carmo marcava 16 horas quando José Sarney e Antônio Dino chegaram à Biblioteca Pública (o prédio da Assembleia Legislativa, na Rua do Egito, estava em obras) e ingressaram no improvisado plenário da Casa do Povo, depois de passarem em revista as tropas militares ali posicionadas e comandadas pelo coronel Riod Ayoub Jorge.

A sessão, muito concorrida, presidida pelo deputado caxiense, Aldenir Silva, não foi longa e sem a ocorrência de imprevistos. Dentro do tempo programado, os eleitos prestaram o juramento oficial e prometeram seguir os ditames das leis e das Constituições. Além de José Sarney, discursaram os líderes do novo Governo e da velha Oposição. Foram orações breves e protocolares.

Encerrada a solenidade e já investidos nos cargos de governador e de  vice, com os familiares, convidados, políticos e o povo, seguiram a pé da Praça do Panteon à Avenida Pedro II, palco devidamente preparado para a transmissão do cargo. Ali, estava o vice-governador Alfredo Duailibe, com aquela serenidade que lhe é peculiar, para cumprir a tarefa a ele outorgada pelo governador Newton Bello, que, para não passar o cargo a Sarney, que o maltratara severamente na campanha eleitoral, renunciou ao governo três dias antes do mandato acabar.

Se o palanque foi pequeno para abrigar autoridades e convidados, o que dizer do local escolhido para um simbólico ato da mais alta significação política, onde uma compacta multidão se instalaria para aplaudir os novos detentores do poder? Todas as dependências da avenida estavam tomadas por gente vinda dos bairros e do interior do Estado, com a única finalidade: ver Sarney e Dino receber a faixa governamental e ouvir  o discurso do novo governador.

Sarney, como prometera, proferiu um discurso compatível com o seu talento intelectual, ao longo do qual fez questão de pontuar a herança recebida e ressaltar o que pretendia fazer para corresponder às expectativas da coletividade, que nas urnas destronou do poder uma estrutura política carcomida e responsável pelo atraso social e econômico do Maranhão.

Como em São Luis, naqueles idos, o carnaval começava no réveillon, realizaram-se eventos compatíveis com o momento em que a cidade vivia: os bailes carnavalescos. Para os convidados e autoridades, nos salões do Grêmio Lítero Português, cuja sede funcionava na Praça João Lisboa. Para o povo, os clubes populares abriram as portas para todos comemorarem data tão memorável e esperançosa. Sarney e Dino fizeram questão de marcar presença nos bailes, nos quais foram recebidos com alegria e emoção.

PRESENÇA DE GLAUBER

Quem veio a São Luis assistir e filmar a solenidade de posse de Sarney foi o jovem cineasta Glauber Rocha, que já se notabilizava no cenário cinematográfico brasileiro pelo seu trabalho inovador.

Glauber chegou até Sarney pelas mãos do produtor de cinema, Luis Carlos Barreto, que indicou o cineasta para fazer um documentário político sobre o Maranhão que o novo governador iria administrar e recuperá-lo.

Por conta disso, o cineasta filmou cenas incríveis no que tange à miséria e à pobreza reinante no estado e que serviram posteriormente para incluir no seu famoso longa metragem, “Terra em transe”.

GERAÇÃO DOS POETAS

A tônica dos discursos de José Sarney, na Assembleia Legislativa e na Avenida Pedro II era um só. A sua eleição representava a vitória política da geração dos poetas, que chegava ao poder com a garra da juventude e sem compromisso com o passado.

Aquela geração, também chamada de “Geração de 1945”, produziu uma safra de intelectuais do porte de Ferreira Gullar, Lago Burnett, Bandeira Tribuzi, Reginaldo Teles, José Bento Neves, Bello Parga, Carlos Madeira e tantos outros, que tiveram de migrar para outras plagas por lhes faltar oportunidade na terra natal.

MARQUÊS DE SAPUCAÍ

 

Os desfiles das escolas de samba, que se realizam no Rio de Janeiro, acontecem na Marquês de Sapucaí.

Essa figura humana, que deu o nome ao sambódromo, pouca gente sabe, teve participação importante em fatos ocorridos no Maranhão após as lutas pela independência do Brasil.

Com o nome de Cândido José de Araújo Viana, foi o quarto presidente do Maranhão, no primeiro reinado, e governou de janeiro de 1829 a outubro de 1931.

Em São Luis, o Marquês de Sapucaí mandou libertar o jornalista José Cândido de Moraes e Silva, pela sua participação nos embates travados entre nativos e portugueses, fato que o levou a ser bem visto pela população.

LOBÃO E FLÁVIO

Há quem ache o estilo de trabalho do governador Flávio Dino semelhante ao do ex-governador Edison Lobão.

Os dois têm em comum uma característica que salta aos olhos: chegam cedo ao trabalho e são os últimos a deixar o Palácio dos Leões.

Descobri mais fato que pode também aproximá-los: o slogan. Enquanto Lobão usava “O governador de todos”, Flávio optou pelo “Governo de todos”.

SARNEY E DINO

Para as solenidades de posse e transmissão de cargo dos eleitos, um tópico interessante se presta a ilações políticas, em termos de passado e presente.

Reporta-se ao convite, divulgado pelos jornais, para o povo maranhense  comparecer, no dia 31 de janeiro de 1966, na Avenida Pedro II, “ à posse de Sarney e Dino”.

Aquele Dino não era o governador Flávio, mas o vice de Sarney, o médico Antônio Dino.

SALVOU MARCELO

Era tida como certa a demissão do ex-deputado Marcelo Tavares da Casa Civil  após o regresso do governador Dino.

Mas o que aconteceu para a situação se reverter e Marcelo continuar no cargo que ocupa?

Resposta: a publicação do artigo do deputado José Reinaldo, tio de Marcelo, no qual fez considerações sobre o governo de Flávio, elogiado do ponto de vista operacional, mas criticado severamente na parte política.

Pela repercussão da matéria de Zé Reinaldo na opinião pública, o governador pensou duas vezes: manteve Marcelo no cargo, mas com outras atribuições.

FOGUETES NO AR

No governo Flávio Dino, está voltando o antigo costume de estourar  foguetes em regozijo à derrota ou revés imposto ao adversário político.

Recentemente, em dois momentos, foguetes foram para o ar e estouraram a valer por conta da demissão de ocupantes de cargos de primeiro escalão.

A primeira vez nas proximidades do Quartel da Polícia Militar, quando o comandante-geral da corporação foi exonerado do cargo.  A segunda, com a demissão da secretária do Turismo, Delma Andrade.

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