ADVERSÁRIOS, MAS CIVILIZADOS

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O saudoso professor Jerônimo de Viveiros legou um trabalho sobre a política maranhense, que, segundo ele, nos tempos do Império, era movida a cacete.

Tão maldita prática política não foi exclusividade da fase imperial. Chegou ao regime republicano e com maior incidência na Velha República.

No Maranhão, casos e episódios da época em que a política se sustentava na cacetocracia (neologismo) são eloqüentes e registradas nas páginas de nossa História.

Mas não só de exemplos deploráveis e nada construtivos tem vivido a política maranhense. Ocasiões houve em que se registraram cenas edificantes de homens que, embora adversários e defensores de causas conflitantes, souberam se conduzir com dignidade e seriedade e usaram a diplomacia e a civilidade como armas.

José Sarney e Renato Archer estão na galeria de políticos que não comungavam de mesmas idéias, mas se respeitavam e primavam pela cordialidade. Os dois começaram trilhar na vida política simultaneamente, ou seja, na década de 1950, engajados no PSD vitorinista, mas se projetaram nacionalmente e encontraram caminhos distintos na militância partidária.

Em 1965, Sarney e Renato estavam em posições de eqüidistância na política regional e nacional. Sarney era da UDN e disputava a eleição de governador pelos partidos oposicionistas; Renato pertencia ao PSD, mas rompido com o chefe do Executivo maranhense, teve a candidatura lançada pelo PTB.

Ao longo daquela campanha eleitoral, Sarney e Renato chegaram a discordar publicamente, pois um defendia o regime militar e o outro não media palavras para vergastar o autoritarismo imposto ao país, mas tudo dentro das regras da boa convivência política.

Se no plano nacional o regime militar separava-os, no plano estadual, o governo de Newton Bello os conduzia ao uso da mesma linguagem quanto à administração vigente no Maranhão. Eles não poupavam o governador de severas críticas, por isso dele se afastaram em momentos distintos em que estava em jogo a sucessão governamental.

Naquelas eleições de 1965, por conta da divisão do vitorinismo e da revisão eleitoral, que eliminou milhares de votos das folhas de votação, o candidato José Sarney, por fazer uma campanha vibrante e prometendo mudanças, derrotou os candidatos Renato Archer e Costa Rodrigues.

Derrotado nas urnas, Renato passou praticamente três anos ausente do Maranhão.  Em outubro de 1968, vem a São Luis para estruturar o MDB, como membro da cúpula do partido. Em aqui chegando, concede longa e palpitante entrevista à TV Difusora, ao final da qual surpreende o meio político por não economizar elogios o governador José Sarney, que, no seu modo de ver, fazia uma administração invejável, competente e brilhante, tirando o Maranhão do secular atraso em que se encontrava.

O pronunciamento do líder emedebista foi convincente e verdadeiro, a ponto de dizer que se ele, Renato, fosse o governador do Maranhão faria tudo igual. Essa declaração, que deixou o governador em estado de graça, fez Renato receber ácidas críticas das hostes oposicionistas, que passaram a hostilizá-lo e levantar a suspeita de ele desejar ser o próximo governador do Maranhão com o apoio de Sarney.

No dia seguinte à entrevista, Sarney, agradecido, visita Renato e ainda o convida a ver ao vivo as obras realizadas em São Luis: Barragem do Bacanga, Ponte São Francisco, TV Educativa, Faculdades de Administração, Engenharia e Agronomia, Ginásios Bandeirantes, Conjuntos Residenciais e Prodata, irritando mais ainda os oposicionistas, liderados pelo prefeito Epitácio Cafeteira, rompido com o governador.

ATUALIDADE DO PADRE VIEIRA

Nada mais saboroso do que reler os Sermões e as Cartas do Padre Antônio Vieira, para ver como seus textos são lúcidos e atuais.

Tais documentos ajudam a descobrir que certos acontecimentos históricos, a exemplo da corrupção, não são atos do nosso cotidiano ou introduzidos no Brasil nos últimos tempos.

O jesuíta prova com a maior eloqüência possível que no Maranhão, no século XVII, a corrupção campeava à vontade, sendo considerada uma das causas do nosso atraso.

Nesse pequeno trecho Vieira diz tudo: “São os interesses dos que governam com as rendas dos dízimos de Vossa Majestade em todo aquele Estado, que chegam a montar seis a oito mil cruzados, três dos quais toma o governador”.

PRAÇA BANDEIRA TRIBUZI

Na área de lazer do Ceuma, no Renascença, Mauro Fecury  vai construir a futura Praça dos Escritores do Maranhão.

Nela serão introduzidos os bustos dos nossos mais renomados poetas e prosadores.

O primeiro intelectual maranhense a ter representação na Praça dos Escritores será o poeta Bandeira Tribuzi.

TEMER E SARNEY

Antes de se mudar com a família do Palácio Jaburu para o Palácio do Planalto, o presidente Michel Temer tomou uma providência digna de assumido supersticioso.

Pediu ao padre paulista José Eduardo, nas horas vagas praticante do exorcismo, para benzer as dependências do Palácio da Alvorada.

Não é a primeira vez que um presidente da República, por cultivar a superstição, assim procede.

José Sarney,  um tremendo místico, antes de morar no Palácio da Alvorada, mandou retirar todos os pingüins de geladeira ali encontrados.

OS BANCOS NO MARANHÃO

Foi no governo de José Sarney (1966-1970) que agências bancárias estatais e privadas invadiram o Maranhão.

O processo de desenvolvimento e os investimentos oficiais injetados na economia maranhense, estimularam a instalação na capital e no interior do Banco do Nordeste, Banespa, Banerj, BNCC, Nacional de Minas Gerais, Mercantil de São Paulo, Bradesco, Real, Bamerindus, Bandeirantes e outros.

Com a economia em recessão, a desativação dos investimentos estatais e privados e os assaltos, as agências bancárias estão fechando as portas e migrando para locais mais seguros.

POSSE DE GOVERNADORES

Com o advento do regime militar, em 1964, as regras para a investidura dos governadores estaduais mudaram.

De 31 de janeiro, passaram para 15 de março.

Nessa data, no Maranhão, foram empossados em 15-03-1971, Pedro Neiva de Santana; 15-03-1975, o vice, José Murad, por motivo de doença do governador Nunes Freire; 15-03-1979, João Castelo Ribeiro Gonçalves; 15-03-1983, Luiz Rocha; 15-03-1987, Epitácio Cafeteira; 15-03-1991, Edison Lobão.

Os três primeiros foram eleitos por via indireta, pela Assembleia Legislativa; os três últimos, por eleição direta, universal e secreta.

Com a nova Constituição do Brasil, promulgada em 1988, os governadores estaduais assumiram os mandatos em nova data: 01 de janeiro. Roseana Sarney inaugurou o novo ciclo, investindo-se no cargo de governadora em 01 de janeiro de 1995.

INCÊNDIO ROMANCEADO

Há 63 anos, na manhã de 16 de março de 1954, São Luis perdia a sua costumeira calma por conta de um pavoroso incêndio do navio-cargueiro Maria Celeste, ancorado defronte à Rampa do Palácio.

Muitos dos tripulantes e estivadores morreram em função da explosão dos combustíveis. A cidade parou para acompanhar aquela tragédia.

Ano passado, a Academia Maranhense de Letras, sob os auspícios da Lei de Incentivo à Cultura, editou o romance da autoria do escritor Waldemiro Viana, “Maria Celeste da Terra e do Mar”, pano de fundo para a história de uma jovem que se encontrava naquele sinistro navio.

PERDÃO AOS LEITORES

Peço mil desculpas aos leitores pela impropriedade cometida na edição de Roda Viva, na semana passada. Por conta de meus deteriorados neurônios, identifiquei o escritor Graciliano Ramos como paraibano. Nada disso. Trata-se de um ilustre alagoano, que exerceu o cargo de prefeito de Palmeira dos Índios, em 1928. Como dizia o grande compositor Ataulfo Alves, “perdão foi feito pra gente pedir”.

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