Invasões, miséria e oportunismo

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Após serem expulsos, invasores deixam terreno na Jerônimo de Albuquerque, onde está sendo construído galpão

A ocupação irregular de áreas em plena zona urbana de São Luís é um problema que está longe de ser erradicado. O exemplo mais recente foi a invasão de um terreno à margem da Avenida Jerônimo de Albuquerque, nas imediações do antigo Roque Santeiro, que, não fosse a mobilização imediata dos proprietários, com apoio da polícia, se instalaria em uma das regiões mais movimentadas da cidade. Mais do que expor as condições de carência por teto de centenas de famílias, as invasões demonstram quão próspera continua sendo a exploração da pobreza.

A falta de utilização do espaço foi o motivo alegado pelas cerca de 200 famílias, a maioria residente no bairro Cantinho do Céu, para ocupar o terreno. Mesmo murada, a área foi invadida sábado (26). Desde então, dezenas de casebres passaram a ser erguidos, transformando aquela região da capital maranhense, onde o comércio está em franco desenvolvimento, em um cenário deprimente, marcado pela ilegalidade.

A indústria das invasões é um fenômeno antigo em São Luís. Da mesma forma como projetaram e continuam projetando muito econômica e politicamente, as ocupações já fizeram inúmeras vítimas, principalmente na periferia. Vila Luizão e Residencial Carlos Augusto, este último em Paço do Lumiar, são exemplos de bairros da região metropolitana que nasceram invasões e foram batizados com os nomes de pessoas mortas na disputa por áreas para fins de moradia.

Não fosse a intervenção da polícia, a ocupação na Jerônimo de Albuquerque poderia ter tido um desfecho sangrento. Isso porque além de se instalar na área ilegalmente, os invasores saquearam uma obra que está em andamento no terreno, levando vários sacos de cimento do local. Em resposta, homens contratados pelo proprietário teriam efetuado disparos de arma de fogo, conforme relatado ao delegado Rodson Almeida, titular do 14º Distrito Policial, no Bequimão, onde o caso está sendo investigado. Felizmente, ninguém foi atingido e o clima, pelo menos por enquanto, é de tensão controlada.

Várias outras áreas da Ilha de São Luís estão suscetíveis a invasões, algumas também situadas em vias com intenso movimento, como a Avenida dos Africanos e a MA-203, rodovia estadual que dá acesso ao Araçagi. Se por um lado os proprietários facilitam as ocupações ilegais ao não murar ou cercar seus terrenos, por outro as autoridades pecam por não exercer efetivamente o poder de fiscalização. Vítimas da ganância e da busca inescrupulosa por dividendos políticos, muita famílias acabam seduzidas pela promessa de moradia fácil e pagam por lotes em propriedades alheias, sem obter qualquer garantia dos vendedores, na maioria falsários.

A invasão é um fenômeno que escancara a falta de controle das autoridades municipais sobre o espaço urbano. Também evidencia a atuação de verdadeiras quadrilhas especializadas em usurpar a sociedade por meio da apropriação indevida de áreas públicas e privadas. Diante dos prejuízos que causa, é, em última instância, um grave atentado às normas de civilidade.

Editorial publicado em O Estado do Maranhão nesta quinta-feira

Foto: Edivan Fonseca/O Estado do Maranhão

1 comentário para "Invasões, miséria e oportunismo"


  1. Luiz Eduardo

    Daniel, esse problema é antigo mesmo em São Luís, na realidade, o crescimento vertiginoso do município nos últimos 40 anos é representado pelas invasões. Os espaços marginais da cidade existem milhares de famílias nessa situação, em estado de miséria social e residindo em áreas se nenhuma infraestrutura, absolutamente nada, mas a culpa não deve recair somente sobre o município (que é omisso e negligente), mas também sobre o Estado, que muito ajuda na perpetuação dos bolsões de pobreza na cidade e no resto do Maranhão!!! Parabéns pelo Post Daniel, bem escrito e muito elucidativo. Abraços!!!

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