Há dois meses, este blog chamou atenção para o aluguel do prédio onde funcionou a Clínica Eldorado para abrigar uma unidade de saúde do Estado. A matéria foi publicada dias depois de o programa Fantástico, da Rede Globo, ter escancarado para todo o país o desvio de mais de R$ 1 bilhão do sistema de saúde pública estadual no Maranhão, via Instituto de Desenvolvimento e Apoio à Cidadania (Idac).

O esquema foi descoberto pela Polícia Federal, que deflagrou a Operação Remora, em conjunto com a Controladoria Geral da União (CGU), para prender os acusados e apreender documentos e arquivos de computador que pudessem ajudar a investigação, além de dinheiro e bens que os suspeitos mantinham em seu poder, como carros de luxo.

Nessa época, o imóvel ainda tinha afixada em sua fachada a placa com a indicação do valor da reforma e adaptação (quase R$ 1 milhão) e outros detalhes da obra. A placa foi removida recentemente, tão logo o caso foi denunciado na Assembleia Legislativa pela deputada estadual Andréa Murad (PMDB).

A parlamentar revelou que o Governo do Estado vem pagando R$ 90 mil pela locação do prédio, desde agosto do ano passado, o que totaliza um gasto de mais de R$ 1 milhão só com a locação. Detalhe:

Difícil acesso

Publicado em 12 de junho, com o título “Flávio Dino ignora escândalo na saúde e banca reforma de clínica particular em bairro nobre da capital“, o post alertou para a dificuldade de acesso à clínica, localizada no Jardim Eldorado, bairro de classe alta entre o Turu, a Rua do Aririzal e a Vila Fialho, servido por uma única linha de ônibus, meio de trasporte mais utilizado por pacientes da rede pública de saúde.

Avenida mais próxima e com maior oferta de linhas de coletivos, a São Luís Rei de França está a cerca de 500 metros da clínica, o que obrigará doentes e seus acompanhantes a caminhar longa distância para chegar ao local do atendimento. A não ser que estes estejam dispostos a pagar táxis, Uber ou tenham transporte próprio, o trajeto até o prédio será marcado por percalços, inclusive por risco de assaltos nas ruas desertas do bairro.

Reforma

Só pela reforma do imóvel, o governador Flávio Dino (PCdoB) pagou quase R$ 1 milhão em recursos públicos. Apesar do gasto, nenhum atendimento médico foi prestado a pacientes da rede pública, até hoje. O uso de dinheiro público sem o devido retorno ocorre no exato momento em que Flávio Dino vem a público lamentar que o Estado está quebrado.

Ao recorrer à metáfora da vaca magra para alegar que o caixa está vazio, o governador comete, no mínimo, uma incoerência, já que o apetite dos que a devoram continua voraz e insaciável.