Atravessando a ponte

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O texto abaixo me foi enviado por minha ex-mulher, a artista plástica, Ivana Farias. Ela encontrou-o vasculhando sites de livros e leituras http://www.skoob.com.br/livro/400669-a-ponte, e mandou para mim. Obrigado Vanvan, você me deu o quinto melhor presente desse dia dos pais de 2014. O primeiro foi o vídeo maravilhoso feito por minha filhota Joama; O segundo foi um abraço dado por nossa filha Laila; O terceiro foi a mensagem de Ananda, direto da Terra do Fogo; O quarto foi a feijoada comemorativa da data na casa de minha mãe; O quinto e não menos importante foi saber notícias de “Dona Sucoro”, como carinhosamente a chamava Tiago, uma espécie de empregado-filho que tive por alguns anos na TV Maranhão Central, em Santa Inês.

Tiago e Socorro desde cedo formaram uma linda e honrada família, baseada nos bons princípios e no trabalho.

Tiago aprendeu fazendo. De cinegrafista e editor, daí para diretor de TV, depois para diretor de operações. Hoje é sócio de um canal de televisão em Santa Inês e deve isso a três importantes fatores: Ter trabalhado em uma escola e ter estudado em um trabalho (fico honrado em ter podido propiciar isso a ele em nossa empresa); Ter escolhido uma mulher que o levou a crescer na vida, dando a ele toda a tranquilidade para mostrar o que de melhor tinha nele, sua perseverança; E por ser boa pessoa e um sujeito honesto.

Li o que escreveu “Dona Sucorro” e fiquei emocionado. Vez por outra a nossa vida nos prova que sermos verdadeiros tem uma vantagem inestimável, nos faz ser vistos e sentidos pelas pessoas da forma que realmente somos.

Obrigado Socorro. Abraço em Tiago. Diz pra ele não deixar de ensinar para as pessoas tudo que sabe, que o conhecimento que ele adquiriu na vida só serve para ele se ele passá-lo adiante, que o que ele aprendeu na vida e no trabalho ele não deve levar para o túmulo. Beijos nas crianças que já devem ser bem grandes.

J.H.

 

Atravessando a ponte
Acompanho Joaquim Haickel desde 1989 quando ele era, então, patrão do meu marido.

A princípio chamou-me atenção a relação patrão/empregado pouco comum entre os dois. Parecia mais uma relação de amor e ódio.

Ora Joaquim ligava muito cedo para minha casa para falar com meu marido e, ao atendê-lo, a ele tecia elogios inacreditáveis de se ouvir de um patrão, ora dizia xingamentos raivosos e incompreensíveis… eu era espectadora daquela convivência conflituosa.

Do outro lado meu marido ora era só adoração pelo patrão/ídolo, ora era só destempero e berros ao telefone como um empregado jamais, em tempo algum pode tratar um patrão.

E assim eles seguiam até que a vida os distanciou por completo. Não brigaram, apenas se afastaram depois de rompido o vínculo patrão/empregado. Uma pena.

Desde sempre percebi que Joaquim Haickel não era um tipo comum. Ele mandava pegar na minha locadora seis filmes pra ver numa só noite quando pairava por essas bandas… Mesmo antes de me conhecer, falava comigo ao telefone como se tivéssemos crescido juntos.

Sua pessoa despertou-me interesse e curiosidade e fiquei orgulhosa de observar seu nome no meu velho exemplar da Constituição Brasileira. Deputado constituinte. Político que fez história.

Depois descobri que também era escritor e que amava cinema e uns anos mais tarde, esperando para ser atendida em um consultório médico, folheando uma revista o vi vestido de chef ensinando uma receita à base de babaçu. Que criatura surpreendente esse menino do Pindaré, esse filho do bom e velho Nagib.

Nos honra, a mim e com certeza ao meu marido, ter caminhado um bom pedaço do nosso caminho tão perto dele.

Dia desses, também por acaso lendo um velho jornal descobri sua explícita e apaixonada admiração por Sebastião Moreira Duarte. Que coincidência das melhores! Sebastião, como se diz lá no sertão, é lá de nós. Olho D’agua do Melão, terra onde ele nasceu, é a terra do meu avô e do meu pai. Cajazeiras, onde ele estudou, eu nasci em 1966!

Acho que minha mente, eterna admiradora do estilo Joaquim Haickel de ser, fica buscando pontos de intersecção entre minha existência e a dele.

Esse texto, que já está ficando grande demais para o meu gosto (não gosto de conversa comprida) não é pra falar do escritor. Imagina se fosse!

A intenção a princípio era comentar a obra A Ponte.

Tenho esse livro na minha humilde biblioteca desde 1991 com uma singela dedicatória “para Tiago e Socorro com amizade” . Está lá na minha estante entre Dayle Haddon e Milton Hatoum. Hoje resolvi relê-lo depois de mais de vinte anos.

Foi um prazer. Literalmente. Se na literatura tivesse aquelas relações familiares próprias das religiões afro eu diria que Joaquim Haickel é um autêntico filho de Eros.

São contos deliciosos de serem lidos e impossíveis de não serem imaginados numa linguagem cinematográfica como têm sido apresentados ultimamente pelo autor. Tal qual Chico Buarque evoluiu da música para a literatura, Joaquim Haickel o fez da literatura para o cinema. Há caminhos que desde sempre estão traçados. Pois é.

São histórias do Pindaré, de São Luís, histórias de brigas, de piadas, de chifres, de prostituição, de amor, (em todas as suas formas), de pessoas e acontecimentos diversos no conteúdo e no tempo, tudo contado de um jeito ágil, rápido, ansioso e ao mesmo tempo romântico, escandaloso, surpreendente e inesperado como se a alma do autor pontuasse todas as linhas.

E chega de conversa. Continuarei, mesmo de longe, espiando Joaquim Haickel, lendo seus textos, vendo seus curtas. Dele, tenho sempre uma certeza: vai me surpreender!

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