A contabilidade da Vida

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Já falei desse assunto aqui, mas acredito que nunca seja demais comentar, principalmente usando uma abordagem nova, tendo como base uma matéria que realmente não controlo e que me deixa um tanto inseguro. Trata-se de contabilidade, mas não aplicada aos negócios ou às empresas. Falo da contabilidade necessária para aferirmos se somos felizes ou não, ou melhor dizendo, se somos mais ou menos felizes, nesse ou naquele tópico da vida.

Vou fazer a minha contabilidade para que você use-a como base para fazer a sua e possa ter uma noção do que se passa com sua vida.

Comecemos pela contabilidade da saúde: eu tenho um pouco mais de crédito do que débito nesse setor. Imagino que por enquanto o balanço aqui seja de 55 x 45. Fico pouco enfermo, uma ou outra dorzinha de cabeça, raramente fico resfriado, mas tenho um relevante sobrepeso, minha taxa de tolerância a insulina começa a se elevar, aos 55 anos fiquei hipertenso e preciso repor minha B12… O quadro parece difícil, mas tudo isso é controlável, desde que eu obedeça aos médicos, tome os remédios, faça dieta e exercícios físicos… O que me leva diretamente a uma segunda análise. Sou mais desobediente que obediente.

Outro quesito a ser analisado é o da família. A minha é uma família equilibrada, bem estruturada, nela as pessoas se amam e os problemas que enfrentamos são apenas os problemas inerentes ao dia a dia. Nesse campo poderia dizer que o jogo contábil seria de 85 x 15.

Amigos: nesse âmbito posso dizer que sou um artilheiro. Tenho infinitamente mais pessoas que posso chamar de amigos que aquelas que seriam o oposto disso, coisa que imagino não ter nenhum. Ter um Inimigo é como ter um câncer. Quem tivesse vários inimigos teria vários cânceres. Eu gosto de imaginar que tenha adversários em algumas questões. Gosto até de cultivá-los para que na lida com eles possa aparecer o melhor de mim. Preocupo-me muito em não permitir que nenhum adversário se torne um inimigo. Se aparecer algum terá sido por escolha dele, jamais minha.

É bem verdade que existem algumas pessoas que não gostam de gente. Alguns têm até certa razão para isso. Não os culpo, mas o problema é muito mais deles do que meu. Alguém magoado ou inconformado com algo que eu tenha feito, com uma posição minha… O certo é que nesse balanço contábil da amizade tenho um superávit de 90% contra apenas 10% de déficit, além do que, eu costumo dizer que pra gostar de mim só precisa esquecer os preconceitos e me conhecer melhor!

Nos negócios, o balanço, apesar de ser também superavitário, é mais complexo. Existem fatores extremamente delicados e voláteis a serem analisados. Nossos negócios nunca dependem só de nós. Uma série de fatores influenciam a análise desse tópico, mas vamos tentar.

Mesmo sofrendo as influências do mercado, das regulamentações do poder público que a maioria das vezes é caolho e tacanha, mesmo sendo atingidos por concorrentes nem sempre bem intencionados, temos sobrevivido satisfatoriamente. Não somos tão poderosos quanto algumas pessoas imaginam, mas também não somos tão fracos quanto outros supõem. Imagino que esse balanço esteja na casa do 60 para 40.

Exerci cargos públicos entre 1979 e 2014 e durante todo esse tempo, por onde passei, de oficial de gabinete do governador, a deputado estadual, sendo deputado federal constituinte e secretário de estado, acredito que realizei mais coisas boas que coisas não tão boas. Sempre busquei o acerto, sempre lutei pelo equilíbrio, sempre persegui a coerência, todas essas coisas muito difíceis de serem alcançadas no mundo da política.

Nesses 36 anos, posso não ter conseguido só vitórias, mas jamais perdi uma eleição e sempre mantive a postura inerente aos bons políticos.

O contabilista que há em mim diz que meu superávit nesse quesito é de 75 contra 25 de déficit natural da função. Caso alguém conteste esses números posso facilmente provar que eles estão corretos, para isso basta que chamemos para depor correligionários e adversários meus do município de São Domingos do Maranhão, por exemplo, e quem não acreditar em minha contabilidade descobrirá que sou amado por uns e respeitado pelos outros. Se isso não for suficiente apresentarei as leis de incentivo à cultura e ao esporte, de minha autoria, motores desses setores em nosso Estado. Se isso não bastar, que levante minha ficha na justiça veja quantos processos existem contra mim!

O balanço agora é o cultural. Neste eu começo em débito. Nasci em uma família de classe média, meus pais não tinham largos horizontes culturais e mesmo assim eu abri o meu caminho com uma incrível dificuldade de leitura e uma desenfreada inquietação. Hoje, essas duas coisas são tidas como doenças: Dislexia e Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade.

Começando daí tinha tudo para não ir a lugar algum. Minha mãe e minha professora Terezinha, intuitivamente, inventaram um método de me fazer aprender com mais clareza e agilidade: pelo ouvido e pelos olhos. O audiovisual salvou minha vida intelectual.

Depois disso subi degrau por degrau até chegar aqui onde estou, na base da pirâmide cultural de minha terra, e de onde acredito não vou sair. O topo não é para mim. Sempre preferi os coadjuvantes. Como digo em um poema, “Não se esqueça dos coadjuvantes eles são mais importantes e necessários que você imagina”.

Com um placar 65 x 35, penso ainda em melhorá-lo, mas tenho consciência de que se o fizer vai ser mais pelo trabalho que eu e meus formidáveis parceiros temos realizado no resgate e na preservação da memória audiovisual do Maranhão que em meu mérito pessoal.

Já contabilizei minha saúde, minha família, meus amigos, meus negócios, a política e a cultura, resta apenas dizer que no que diz respeito ao amor eu sou um felizardo. A maioria das vezes que amei, meus amores foram correspondidos em quantidade, qualidade e intensidade, quando não o foram eu os usei como combustível para meus poemas, contos e crônicas. Nesse ponto penso que o balanço é de 95 x 5, e o superávit aumenta a cada dia em que vivo com Jacira.

Somei todos os balanços, os prós e os contras, e cheguei ao resultado médio de 75 x 25. Com um placar assim meu amigo, você acha que alguém pode reclamar da vida.

Faça a sua contabilidade, os seus balanços. Espero que os resultados sejam positivos e que você os possa melhorar a cada dia.

 

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