Fernando Mendonça: um artista local e global

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Maranhense de Bacurituba, 52 anos, Fernando Mendonça veio para São Luís aos cinco anos e cresceu com a arte pulsando por todas as partes do corpo. Em 1978, integrou o Grupo Laborarte. Dois anos depois foi morar no Rio de Janeiro, onde frequentou até 1985, na Escola de Artes Visuais, as aulas de Celeida Tostes, Rubens Gerchman e Enéas Valle. Atualmente mora entre os bairros da Saúde e Gamboa, zona portuária do Centro Histórico da capital carioca.

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Fernando Mendonça, um dos nomes mais brilhantes das artes plásticas maranhenses da atualidade, já realizou diversas exposições com grande aceitação por parte da crítica e do público, entre elas, o Salão Nacional de Artes Plásticas, no RJ; Salão Paraense (PA); Mostra Pelé, a Arte do Rei, no Museu de Arte de SP; Feira Internacional de Arte Contemporânea de Paris, na França; além do Maranhão, terra Natal.

A última exposição dele em São Luís foi em outubro de 2012. Trata-se da “FM Upaon Açu + 400”, em homenagem ao quarto centenário da capital. Na passagem pelo Rio de Janeiro, o artista plástico Fernando Mendonça conversou com o BLOG , em que diz: “a arte me salvou e me salva. Grato pela sua visão parceira e auditiva”.

PEDRO SOBRINHO – Gilberto Gil disse em entrevista em O Globo, que o “Rio é o tambor do Brasil”. Começando aqui, logo todos tomam conhecimento”. O artista plástico Fernando Mendonça comunga desse conceito de Gil ?

FERNANDO MENDONÇA – De alguma forma ele está certo. Mas, em se tratando das artes visuais, São Paulo é mais percussiva, (rs). Lá já rola a Bienal há muito tempo e de algum tempo pra cá a SPArte, que foi pioneira nesse seguimento de feiras de arte, e que o Rio só realizou a sua depois. Mas, acredito que as coisas estáo tomando outro rumo e o Rio se equipara, nas mostras, ao movimento paulista. A tambozada tá ficando boa (rs).

PEDRO SOBRINHO – Você é um artista plástico inquieto e explora esse tipo de comportamento utilizando a temática da bicicleta em sua obra. Por que esse veículo de duas rodas se tornou tão significativo no que você faz ?

FERNANDO MENDONÇA – A bicicleta é um simbolo universal e um recurso viável para solução do trânsito nas Megalópolis. Uma válvula de escape para o caos e ecologicamente correta. Por influência de Rubens Gerchman e por uma espécie de fetiche eu tenho um apreço pelas ‘bikes’ por achar uma das grande sacadas de Leonardo da Vinci quem eu considero o inventor. Ela é poesia e movimento, coisas que me mexem.

PEDRO SOBRINHOVocê já morou em Santa Teresa, na Lapa e agora mora no bairro da Saúde, na região da zona portuária do Rio de Janeiro. Como é a sua relação com essas comunidades e se elas servem de pontos de equilíbrio e inspiração no teu trabalho?

FERNANDO MENDONÇA – De alguma forma, assim como as fases do meu trabalho, a busca por novas luzes, topografia e tipologia. Assim vou me embrenhando em cenários que me instigam e estimulam a criação, procurando sempre registrar o cotidiano, como um cronista. Minha alma de ariano, me faz aventurar e transitar com conforto por plagas as mais diversas. Isso me excita: Santa Teresa, Copacabana, Lapa, Zona Portuária ou São Luis, do Maranhão, são pretextos para eu me arvorar e me desafiam a novas buscas.

PEDRO SOBRINHO – Ao visitar a sua casa “atelier” percebi a religiosidade, o misticismo, presente com as imagens de Nossa Senhora Aparecida e São Benedito, santos da Igreja Católica. O que eles representam no seu dia a dia?

FERNANDO MENDONÇA – Cultuo imagens por ser um artista visual e por tradição familiar. A arte sobreviveu a muitas adversidades pelo viés da religião. Grandes artistas, talvez, não tivessem feito suas obras se não fossem operários religiosos, Sou devoto de São Benedito e de Nossa Senhora Aparecida pela negritude, por uma forte identificação, e atribuo ao Tambor de Crioula toda essa reverência e essa devoção. Os tambores do Brasil na terra de Estácio de Sá, que o nêgo Gilberto Gil apelidou de “Tambor do Brasil”, (rs).

PEDRO SOBRINHO – Você é um artista que pega carona na temática urbana. O que te deixa incomodado nessa atual conjuntura global em que a tecnologia se manifesta como a dona da situação ?

FERNANDO MENDONÇA – Acho a tecnologia irreversível. Lamento o fronteriço entre a arma de fogo e a legítima defesa. A vida tem que prevalecer.

PEDRO SOBRINHO – Para muitos artistas a internet é o segredo. Como você se relaciona com essa ferramenta não só para divulgar o teu trabalho, mas como fonte de produção artística ?

FERNANDO MENDONÇA – A internet é uma cachaça e o pixel um forte aliado do pincel. Eu incursiono pouco pela pixel arte, mas não nego que ela influencia bastante a minha pintura, sobretudo.

PEDRO SOBRINHO – Fale um pouco do que você tem feito e pretende fazer no universo das artes plásticas ?

FERNANDO MENDONÇA – Estou agora numa produção de uma nova série de xilogravuras com tábuas de caixas de bacalhau, sempre com a temática do cotidiano e na pintura tenho feito obras eróticas.

PEDRO SOBRINHO – Quando São Luís terá o privilégio de prestigiar uma exposição de Fernando Mendonça ?

FERNANDO MENDONÇA – Estou completando 30 anos de trabalho a serviço da arte. No segundo semestre,deste ano, faço um evento em São Luis para comemorar isso.

PEDRO SOBRINHO –  Você nasceu em Bacurituba, interior maranhense. Depois foi morar em São Luís e veio para o Rio de Janeiro. Fez o percurso natural de um artista cujo o mundo não tem fronteiras. Qual o olhar do artista plástico e mundano a cada retorno ao Maranhão ?

FERNANDO MENDONÇA – Amo minha terra e meu povo. Alguns fatos e alguns descasos com essa riqueza toda, me entristecem, mas sou otimista. Vejo um processo de transformação que é uma versão turbulenta da máxima irônica do nosso conterrâneo Jorge Thadeu que profetizava: ” São Luís vai virar Paris..” A França Equinocial, que tal ? Repaginada do avesso, (rs).

PEDRO SOBRINHO – Qual a leitura que você faz de meio século de vida ?

FERNANDO MENDONÇA – A velocidade está em tudo. O tempo passa estonteante. A arte me salvou e me salva. Grato pela sua visão parceira e auditiva.

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