‘A música é a minha religião’, diz Rita Benneditto

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– Encanto tem influência da religiosidade afrobrasileira, uma espécie de extensão do Tecnomacumba, projeto vitorioso em cartaz durante onze anos, mas abre caminhos, setas, aponta para outros lugares, para a música como uma entidade. É um disco que representa esse desdobramento – definiu a cantora maranhense Rita Benneditto, em entrevista concedida ao jornalista Pedro Sobrinho, na noite dessa quinta-feira (8/1), no Plugado, na Mirante FM.

Foto: Elza Ribeiro
Foto: Elza Ribeiro

Esse disco traz impressões e histórias sobre a espiritualidade e as raízes da artista e reafirma a sua maranhensidade, absorvida por meio de uma leitura universal.

– Por ser brasileira, nordestina, descendente de negros e índios, o disco reafirma toda essa história. É uma intenção de encantamento em que o Maranhão se faz presente. Eu voltei às origens e recorri aos Lençóis Maranhenses, próximo a cidade em que nasci São Benedito do Rio Preto para recarregar as energias. E lá fiz o ensaio fotográfico com a percepção do fotógrafo maranhense Márcio Vasconcelos, com quem já vinha namorando profissionalmente e admiro o trabalho feito com sensibilidade. Enfim, a música é por essência uma religião, não por uma questão de igreja, de terreiro ou de qualquer outra coisa. Ela consegue se tornar um santuário em você. Ela é a minha religião e para ela é quem bato a cabeça – ressalta.

Setlist

Durante o programa, foram executadas algumas canções que compõem o trabalho.  Encanto é o primeiro após oito anos do lançamento de Tecnomacumba (2006) e marca os 25 anos de carreira dela, com doze canções, entre inéditas e releituras. O primeiro disco com a nova identidade musical: Rita Benneditto, e a produção de Felipe Pinaud e Lancaster Lopes, gravado e distribuído pela Biscoito Fino e Manaxica Produções.

Todo o disco remete à cultura maranhense, seja em arranjos ou outros elementos. Um disco que ficou como ela queria e que traz três músicas em parceria e releituras de Gilberto Gil (Extra), Roberto Carlos (Fé), Djavan (Água), Jorge Benjor (Santa Clara Clareou) e Villa-Lobos (Estrela é lua nova), com participações de Frejat, Arlindo Cruz e Reggae B e produção de Felipe Pinaud, além do maranhense Josias Sobrinho.

Enfim, Encanto é a marca de um renascimento, de um rebatismo e de fé, em todos sentidos. Tanto no sentido de esperança, quanto de mudar para melhor. A canção Fé, não por acaso, é a faixa título do disco. O lançamento do disco será em março deste ano, no Vivo Rio, na Cidade Maravilhosa. Em São Luís, o lançamento deve ocorrer, ainda, no primeiro semestre deste ano.

Faixa a Faixa

Centro da Mata – É um tema de domínio público adaptado por Rita com Felipe Pinaud. É uma vinheta que fala da caboca Jurema, que a acompanha desde o primeiro disco. “Achei importante abrir o disco com uma vinheta. É uma caboca do mundo que transcende o espaço. É como se ela se preparasse para atirar a seta para todos os lugares, e tempos e conexões, com uma levada sutil do Boi de Pindaré.

Guerreiro do Mar – Música de meus parceiros e que representa o encontro entre energias masculina e feminina. Energia de ogum com Iemanjá. Essa música tem uma pegada rock com arranjos do rock progressivo, meio Pink Floyd, uma levada de reggae. Quis trazer esse ponto. Foram viagens musicais sonoras.

Santa Clara Clareou – Faço uma referência ao Tecnomacumba. É quase uma oração, com arranjos baseado no ritmo do tambor de mina, homenageando essa manifestação, tão importante para a minha formação artística.

Pedra do Tempo – Falo da figura de Xangô, de toda a simbologia dele. Te, uma vinheta de Villa Lobos. Como eu já cantei essa música em corais, eu quis trazer essa memória afetiva.

Água – Queria muito fazer uma música que retratasse o elemento água pela importância que ela tem para a humanidade e para chamar a atenção sobre ela. É uma música de Djavan. Fiz também um arranjo trazendo a cultura maranhense no toque das caixeiras do Divino.

Banho de Manjericão – Inspirada no ritmo do terecô maranhense. Convidei o babalorixá Oboromin T’ogunjá, que incorporou o Pai Benedito das Almas de Angola e deixou uma mensagem de amor e de fé. Da fé que está dentro da gente. Um convite à transformação, à mudança… e eu faço isso nos meus trabalhos, que é ter uma visão mais ampla, mais transcendental.

Babalu – É um clássico da música. Quis trazer essa música mais anos 70 e é a primeira vez que canto uma música em espanhol, mas acho que está muito honesto. Babalu é um dos nomes do orixá Obaluaê.

Estrela é Lua Nova – É a mais antiga do disco. De Villa-Lobos em que ele . expõe a sua erudição. Ele brinca com a palavra macumba.

Fé – Sintetiza o Encanto. Sou cantora de fé, mas não de dogmas. Não sou presa a nenhuma religião. Estou ligada na música como religião, como elemento transformador. E essa música tem uma força, por ser de Robert Carlos e por termos feito um arranjo rock’n’roll, que é atemporal e todo mundo curte.

Extra – Tem a participação da banda Reggae B, (integrantes do Paralamas do Sucesso), comandada pelo Bi Ribeiro e aí eu quis resgatar para fazer a base da música. É um reggae bem 4×4, mais roots, quis fazer essa ligação com o reggae do Maranhão. A música fala também de transcendência, de Deus. Convidei o padre jamaicano rastafári Priest Tiger, que encarna o mensageiro da fé e quando traduzimos a mensagem dele vimos que se tratava do Salmo 24 (oração do Evangelho). Tudo a ver com a música, que fala do Deus que está dentro de nós.

Filha de Tupinambá – Outra vinheta de Jurema, porque como eu te falei, a seta está lá no início e prepara o CD. Toca nova vinheta, reafirma a origem de Jurema.

De Mina – É uma composição de Josias que eu adoro e que fala do tambor de mina, que me recoloca na minha aldeia. Fui gravar a voz no estúdio do Frejat e pensei que podíamos convidá-lo. O Frejat toca guitarra tem a pegada rock, que é a característica dele e ele topou e adorou participar, pirou nos arranjos. (essa música também tem a seta de Jurema chegando a seu destino final).

O que é dela é meu – É um samba do maravilhoso Arlindo Cruz em que a gente celebra a vida. A gente se encontrou em um trabalho e ele me disse que tinha uma música pra mim. Pedi pra ele mostrar e adorei. Disse que queria gravar no meu disco, daí convidei ele pra gravar e ele adorou. Não só cantou, como tocou banjo, bateu palma. Ele gosta muito do Tecnomacumba e fez essa brincadeira evidenciando a cultura africana.

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