Estética do frio com ‘grooves e loops’

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O cantor e compositor gaúcho Vitor Ramil é um dos mais perfeitos criadores de boa música desde que inaugurou seu nome, aos 17 anos, num disco de Zizi Possi no começo dos anos 80. O carioca Marcos Suzano é um dos maiores percussionistas do Brasil. Inaugurou a teoria do acústico na percussão e desmistificou que o pandeiro é um instrumento típico do samba.

satolepsamabatown

A dupla, o casal de músicos, não sei, como defini-los, só sei que eles (os dois) resolveram se unir para gravar o CD Satolep Sambatown, que propiciou a essas duas figuras da nossa MP(B)rasil uma gama de shows pelo país afora. E ontem, 19, São Luís teve o privilégio de recebê-los no belo cenário do Teatro Artur Azevedo. Infelizmente, a plateia não foi a que eu esperava, mas a imensa minoria que estava lá era significativa e privilegiada em assistir a um duelo de titãs, onde o grande vencedor foi a música feita com requinte.

Um show enxuto feito por dois artistas brasileiros que não aceitam de forma alguma ficar deitado em berço esplêndido. Inquietos e instigantes, Vitor Ramil e Marcos Suzano são adeptos de que as boas parcerias funcionam, não importando os limites da geografia. E o “Satolep Sambatown”, surgido na primeira semana de setembro de 2007, é uma espécie de simbiose sonora da estética do frio musicada pelo gaúcho da imaginária “Satolep”, traduzindo para o real chama-se “Pelotas”, com a musicalidade e o ‘groove’ carioca do percussionista Marcos Suzano com o seu pandeiro único no centro de uma arquitetura rítmica em que sons acústicos dialogam com ondas sonoras vindas do mundo da eletroacústica.

Tanto Vitor como Suzano têm um pé na tradição  musical de seus lugares de origem, Rio Grande do Sul e o Rio de Janeiro. e outro no contexto da experimentação, das invenções mais radicais da cena musical contemporânea. Ao ouvir “Não é Céu”, “Foi no mês que vem” e “Estrela, Estrela” tive a sensação de estar diante de velhas e boas canções repaginadas, com uma outra textura, que mostram que a boa música resiste ao tempo e estão prontas para serem lapidadas e’looptadas‘ por quem realmente entende do riscado.

Sai do teatro em estado de graça, mas triste com a dura realidade cultural e unilateral brasileira. Alguém questionou comigo. Pô, o show foi pouco divulgado. Discordei porque vi o mesmo sendo anunciado na mídia eletrônica (rádio e TV), nos impressos e onlines. Podemos até questionar a produção que não castigou numa mídia massiva, mas não deixamos de lado que a bola da vez no noticiário nacional é  a massificação da informação, pois sabemos que a bola da vez no noticiário do globo é a massificação da informação, tendo como o viés o senso comum, que por outro lado é uma extensão das correntes da bizarrice, espetacularização e de uma cultura tipicamente consumista.

Pensar criticamente ou oferecer opções às massas nesse contexto é estar na contramão da história.  Aí, meu, a democracia da informação não passa de um discurso panfletário e universitário. E o lamentável é saber que um show e um disco da natureza de  “Satolep Sambatown’ passam despercebido do imenso admirável gado novo.

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