A degradação do poder

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JENOVA~1

O poder pode parecer abstrato, mas para aqueles que têm maior sintonia com ele – ou seja, os poderosos – seus altos e baixos são sentidos de modo muito concreto.

Concretamente é fato de que o poder – a capacidade de conseguir que os outros façam ou deixem de fazer algo – está passando por uma transformação histórica e de extrema importância.

O poder está dispersando cada vez mais e os grandes atores tradicionais (governos, exércitos, empresas, sindicatos,etc) estão cada vez mais sendo confrontados com novos e surpreendentes rivais – alguns muito menores em tamanho e recursos. Além disso, aqueles que controlam o poder deparam-se cada vez com mais restrições ao que podem fazer com ele.

Costumamos interpretar mal ou até ignorar completamente a magnitude, a natureza e as consequências da profunda transformação que o poder está sofrendo nos tempos atuais. É tentador ficar focado apenas no impacto da internet e das novas tecnologias da comunicação em geral. O certo é que ocorre um movimento do poder em outra direção. O poder soft da cultura está tomando o lugar do poder hard dos exércitos.

Sabemos que o poder está passando daqueles que têm mais força bruta para os que têm mais conhecimentos, dos países do norte para os do sul e do Ocidente para o Oriente, dos velhos gigantes corporativos para as empresas mais jovens e ágeis, dos ditadores para o povo que protesta nas ruas e nas praças, e em alguns países começamos a ver até o como o poder passa dos homens para as mulheres e dos mais velhos para os mais jovens. Mas dizer que o poder está indo de um continente ou país para outro, ou que está se dispersando entre vários atores novos, não é suficiente. O poder está sofrendo uma mutação ainda não suficientemente reconhecida e compreendida. Enquanto Estados, empresas, partidos políticos, movimentos sociais e instituições ou líderes individuais rivais brigam pelo poder, como têm feito sempre, o poder em si – aquilo pelo qual lutam tão desesperadamente que tanto desejam alcançar e conservar – está perdendo eficácia.

O poder está em degradação.

O poder não é mais o que era. No século XXI, o poder é mais fácil de obter, mais difícil de utilizar e mais fácil de perder. Das salas de diretoria e zonas de combate ao ciberespaço, as lutas pelo poder são tão intensas quanto antes, mas estão produzindo cada vez menos resultados. A ferocidade dessas batalhas mascara o caráter cada vez mais evanescente do poder. Por isso, entender de que modo o poder está perdendo o seu valor – enfrentar os difíceis desafios que isso supõe – é a chave para assimilar uma das tendências mais importantes que vêm reformulando o mundo no século XXI.

Isso não quer dizer que o poder tenha desaparecido ou que não há mais quem possua, e em abundância. Os presidentes dos Estados Unidos e da China, os CEOs da J. P. Morgan ou da Shell ou Microsoft, a diretora do The New York Times, a diretora do FMI e o papa continuam detendo imenso poder. As pessoas que ocuparam tais cargos antes não só precisaram enfrentar menos rivais e adversários mas também sofriam menos restrições – quer na forma de ativismo social, de mercados financeiros mundiais, do exame minucioso por parte da mídia ou da proliferação de rivais – na hora de utilizar esse poder. Como resultado, os poderosos de hoje costumam pagar um preço mais alto e mais imediato por seus erros do que os seus antecessores. Por sua vez, sua reação diante dessa novidade está alterando o comportamento das pessoas sobre as quais exercem poder, pondo em movimento uma reação em cadeia que afeta todos os aspectos da interação humana.

A degradação do poder está mudando o mundo.

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