O VETO DOS MILITARES A RENATO ARCHER

1comentário

O VETO DOS MILITARES A RENATO ARCHER
BENEDITO BUZAR
No dia 9 passado, Renato Archer completaria noventa anos. Pelo que fez em vida, como figura humana e pública, certamente mereceria dos maranhenses efusivas homenagens.
A sua brilhante trajetória política teve inicio em janeiro de 1947, quando a Marinha do Brasil, da qual era tenente, o colocou à disposição do governo do Maranhão, para ocupar o cargo de oficial de gabinete do governador Sebastião Archer da Silva. Em outubro de 1986, ele disputou, pela última vez, as eleições à Câmara dos Deputados.
Ao longo de 39 anos de intensa atividade, sejam em cargos legislativos, sejam em postos executivos, teve um comportamento exemplar e soube, mercê de sua cultura, competência, habilidade e visão de seu tempo, dar uma contribuição relevante ao progresso do país.
Renato cumpriu três mandatos na Câmara Federal, onde teve atuação marcante nas comissões técnicas e no plenário. Foram anos em que conviveu com homens experimentados e ilustrados e se deteve com assuntos e problemas das mais variadas naturezas, que creditaram a ele prestígio nacional, reconhecimento intelectual e habilidade política.
O sonho maior de Renato era chegar ao governo do Estado, o coroamento de sua carreira política. Esse projeto desencadeou-se quando o governador Newton Bello decidiu tê-lo como sucessor. Todas as lideranças situacionistas apoiaram o projeto, excetuando-se Vitorino Freire, que sempre olhou Renato de maneira atravessada pelo fato de ser um parlamentar que caminhava com os próprios pés e traçou o seu destino político sem a proteção do senador.
Em março de 1965, as primeiras informações dando conta de que o presidente Castelo Branco, interprete dos sentimentos militares, não aceitaria a candidatura de Renato ao governo do Estado. Em nome do governador, o vice, Alfredo Duailibe, fez sondagens junto a Vitorino, o qual confirma o veto presidencial, no entendimento de que a Revolução não tolerará candidaturas comprometidas com o governo deposto de João Goulart.
Para não deixar sua candidatura cair no vazio, Renato, através da imprensa, diz enfaticamente não aceitar a interferência do presidente da República, por não reconhecê-lo membro do PSD, portanto, sem autoridade para vetá-lo. Mesmo sabendo das dificuldades que enfrentava para sustentar aquela candidatura, Newton Bello marca para o final de junho a convenção do PSD, para homologá-la.
Dias antes da convenção, o presidente Castelo Branco, em Belém do Pará, assesta o bote contra o parlamentar, dizendo ao governador, sem meias palavras, que a Revolução não aceita a candidatura de Renato ao governo. Mais ainda: se Newton Bello teimasse em sustentá-la que arcasse com as conseqüências de seu gesto. O governador tentou espernear, mas não conseguiu demovê-lo, a ponto de ainda deixar no ar a possibilidade de uma intervenção federal no Maranhão.
Na volta de Belém, Newton Bello, ainda abalado, reúne o partido e comunica o veto presidencial ao seu candidato. Vitorino, que estava fora do processo sucessório, anima-se diante da perspectiva de indicar um candidato de seu agrado e confiança.
Inconformado, Renato, em pronunciamento na Câmara Federal, critica veementemente o governador por não resistir ao veto de Castelo Branco, bem como a Vitorino, que, segundo ele, aproveitava-se da Revolução para desestabilizá-lo e tirá-lo do páreo sucessório e anuncia ser candidato de qualquer jeito.
Vitorino chega a São Luís e inicia uma série de reuniões com o governador, com vistas ao encontro de um nome de conciliação. Nomes diversos são examinados: Alfredo Duailibe, Eugênio Barros, Matos Carvalho, José Burnett, Joel Barbosa e Josué Montello. Todos são vetados pelo chefe do Executivo, que escolhe o prefeito de São Luis, Costa Rodrigues, para sucedê-lo. A intransigência de um lado e de outro acaba causando o rompimento político e pessoal do governador com o senador, fato que resulta no enfraquecimento do grupo palaciano
Renato viu na cisão das hostes governistas a oportunidade de atrair os insatisfeitos do PSD e o apoio de Vitorino, esquecendo as divergências políticas e ideológicas que os separavam. Com o deputado Cid Carvalho, articula o lançamento, pelo PTB, de sua candidatura, àquela altura, já desfigurada e sem condições de concorrer com o candidato das Oposições, José Sarney, que crescia assustadoramente.
Vitorino encarrega-se de convencer Castelo Branco, em Brasília, de retirar o veto a Renato. O presidente da República concorda, mas sabendo, por informações do SNI, que com o PSD dividido e a revisão eleitoral feita no Maranhão, patrocinada pelo governo revolucionário, que expurgou das folhas de votação cerca de duzentos mil eleitores fantasmas, nem Renato, tão pouco Costa Rodrigues, teriam possibilidades de ganhar as eleições.
Dito e feito. Com a abertura das urnas, Sarney obteve a preferência do eleitorado, com uma votação consagradora. Costa Rodrigues, candidato de Newton Bello, ficou em segundo lugar, e Renato, em terceiro. Assim, as Oposições, depois de vinte anos de luta, conseguiram derrotar o vitorinismo.

1 comentário para "O VETO DOS MILITARES A RENATO ARCHER"


  1. Marcelo Albuquerque

    Sempre gosto de ler suas matérias tanto virtuais quanto no jornal o Estado do Maranhão, muito bonita a trajetoria do Renato Archer, o senhor e o sr Eliezer Moreira, o qual tenho o prazer de poder conversar as vezes na sua casa no calhau, me enriquecem de conhecimento ao saber um pouco mais do meu maranhão.

deixe seu comentário

Twitter Facebook RSS