O OITENTÃO HAROLDO TAVARES

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Um truísmo corre de boca em boca nesta cidade de quatrocentos anos: de 1971 para cá, São Luís não teve um prefeito que chegasse aos pés de Haroldo Tavares.
O que fez ele para ostentar e merecer tão unânime aclamação? Sem titubear: o planejamento e a execução do bem-sucedido projeto do Anel Viário, sem o qual São Luis seria atualmente inviável do ponto de vista da mobilidade urbana, o trânsito estaria literalmente caótico e a população vivendo momentos mais tormentosos e complicados.
Nesta quinta-feira, 22 de novembro, Haroldo completa 80 anos. Nascido em São Luís, filho de Isabel Lisboa e Jayme Tavares, diplomou-se engenheiro civil pela Faculdade de Engenharia de Minas Gerais. O pai, Jayme, foi prefeito de São Luis, de 1926 a 1929, no governo Magalhães de Almeida.
Depois de formado, Haroldo retorna a São Luís nas proximidades da assunção, em 1966, ao governo do Maranhão, do jovem intelectual José Sarney, que o convida, dadas às excelentes informações profissionais e culturais, a ocupar o cargo de secretário de Viação e Obras Públicas.
Haroldo aceita o desafio, sabendo que enfrentaria uma batalha difícil, a começar pela falta de pessoal qualificado para realizar as metas do novo governo. Em todo o Estado, apenas 35 engenheiros. Era urgente a criação de uma Escola de Engenharia Civil, projeto que materializou e deu atenção inovadora e tecnológica, sendo o primeiro, no Maranhão, a contar com computador, equipamento que gerou o Centro de Processamento de Dados – Prodata.
Feito isso, partiu para formação da equipe técnica, convocando profissionais e mobilizando recursos, interna e externamente, que Sarney soube competentemente arregimentar. Em pouco tempo, a Secretaria de Viação e Obras destacava-se e realizava numerosas ações em favor do desenvolvimento do Maranhão.
Em quatro anos, obras estruturantes que mudaram a fisionomia do Estado e, particularmente, São Luís. Que sejam lembradas: o asfaltamento das ruas da cidade, a conclusão da ponte sobre o rio Anil, no Caratatiua, as construções da Barragem do Bacanga e do Porto do Itaqui, a edificação da vila do Anjo da Guarda e de novos conjuntos habitacionais, a reforma do Teatro Artur Azevedo, a pavimentação da rodovia São Luís-Teresina, e a construção da ponte do São Francisco, integrando as praias à cidade.
Essas obras marcaram indelevelmente a sua extraordinária gestão na Secretaria de Viação, e o conjunto delas preparou a cidade para a expansão do promontório espremido entre o Bacanga e o Anil. Em outras palavras, evidenciou a importância ímpar do Porto do Itaqui como vetor de desenvolvimento.
O notável desempenho do jovem engenheiro no governo do Estado, que conquistou a fama de “sonhador” (bendito seja), conduziu-o à prefeitura de São Luis, a convite do governador Pedro Neiva de Santana, seu cunhado e também ex-prefeito da Capital, de 1937 a 1945, na administração do interventor Paulo Ramos. Em março de 1971, assume o cargo, sabendo de antemão que a cidade teria, com o Porto do Itaqui, papel de relevo na exportação do minério de Carajás, e, como decorrência natural, a instalação de uma siderúrgica.
Esses fatos impuseram uma nova concepção urbanística para São Luís, merecendo do prefeito atenção e proteção da nossa maior riqueza arquitetônica: a cidade antiga. Por essa razão, o projeto do Anel Viário cumpriu a função histórica de afastar do centro as certamente inevitáveis agressões econômicas, travestidas de progresso.
O projeto viabilizou-se com os recursos do Fundo Rodoviário, através do qual a União financiou, também, a construção de avenidas expressas e seus acessos.
Do Anel Viário resultou também a Avenida Médici, importante pelas características de corredor expresso e de ligação à BR-135. Foi ela que permitiu, pela margem da Areinha, a continuidade de uma área dos contornos do lago da barragem do Bacanga, destinada à ocupação, através do programa de financiamento de lotes urbanizados, pioneiro no BNH, que, até então, só financiava moradias.
Para isso, Haroldo criou uma imobiliária municipal, a Surcap, para a qual o Serviço do Patrimônio da União repassou grandes glebas para a expansão de São Luís, destacando-se as áreas do Itaqui-Bacanga e do Rio Anil/Ponta D´areia. Parte dessas terras foi utilizada para lotes residenciais e urbanização da Ponta D´areia, até então ocupada desordenadamente, para implantação de futuros empreendimentos turísticos.
Da urbanização da Ponta D´areia, frutificou o acesso à travessia do Igarapé da Jansen, com a construção de uma lagoa, formada pelo carregamento de terra e expulsando lateralmente o lodo por compressão. Solução de baixo custo, que rendeu à cidade um belo ponto de lazer.
Na administração de Haroldo Tavares, a prefeitura não cuidou apenas da construção de obras físicas. A preocupação também com a valorização de nossa arte, nossa tradição, nosso patrimônio, facetas da alma peculiar da gente maranhense. Exposições de obras dos nossos pintores e escultores, festivais de música popular, difusão de manifestações folclóricas; gravação de discos dos sotaques de bumba boi; festas da juçara e da mandioca; escolinhas de arte e de atividades esportivas, iniciativas positivas e fecundas, que revigoraram o orgulho de sermos diferentes e donos de riquezas muito próprias.
A cidade de São Luís, pelo seu significado emblemático, cujo patrimônio histórico é alvo da admiração nacional, na sua gestão, foi descoberta pela imprensa de todo o Brasil, que para cá voltou às vistas e tratou de divulgá-la e promovê-la.
Findos os quatro anos na prefeitura, em 1975, deixou a vida pública de lado e passou a dedicar-se às atividades empresariais. Inteligência, criatividade e competência profissional foram os elementos que Haroldo usou para projetar no mercado nacional produtos gerados no Maranhão, que pela sua abrangência e especificidade, tornaram-se modelares e competitivos.

2 comentários para "O OITENTÃO HAROLDO TAVARES"


  1. Luís Fernando Baima

    Meu caro Buzar

    Estou pretendendo produzir um documentário, em vídeo, sobre Haroldo Tavares. Inevitavelmente vou precisar de sua ajuda, o que espero poder contar em nome da boa e correta informação. Assim, preciso de um retorno seu, sobre formas de como posso contatá-lo. No aguardo, Luís Fernando Baima (98) 8135.8240, ou pelo e-mail requerido.

  2. Ronald de Almeida Silva; arquiteto urbanista

    Prezado Buzar,
    Na ocasião da publicação não li o seu excelente artigo sobre o nosso HT – HAROLDO TAVARES, o nosso JK da Prefeitura de São Luís, com todos os méritos, loas e broas.
    Quero lhe sugerir que o convide para uma sessão de entrevista gravada nos estúdios da Fundação Nagib Haickel, de modo que possamos registrar – de viva e colorida voz – a história do único Prefeito que pensou SÃO LUÍS 50 anos à frente.
    Precisamos muito desses registros e lições, mais ainda nesta fase em que o Brasil jovem vai às ruas protestar – em boa hora – contra a má qualidade de vida, transportes e trânsitos caóticos, violência indomável, corrupção, omissão e incompetência dos agentes e poderes públicos.
    Além de ter sido o único Prefeito com mentalidade de vanguarda [na linha JK] e visão universal (quando pouquíssimo se falava em globalização) HT foi empresário em várias frentes de negócios e de inventos, um professor Pardal com porte de Águia.
    Acima das grandes coisas que fez na Engenharia, no Urbanismo e no pronto socorro da Administração Municipal, HT é um homem de grande cultura geral, com uma complexa visão de mundo, perfil hoje em extinção nesses tempos de LEC/LEC/LEC e Big Brothers.
    Parabéns por sua lembrança
    Abraços
    Ronald Almeida
    [email protected]

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