os primeiros dias da revolução de 64 no maranhão

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Com o apoio do governador de Minas Gerais, Magalhães Pinto, o general Olimpio Mourão Filho, comandante da 4ª Região Militar, em Juiz de Fora, e Carlos Luís Guedes, comandante da 4ª Infantaria, em Belo Horizonte, deflagraram em 31 de março de 1964, a insurreição para depor o presidente João Goulart, acusado de implantar no Brasil um regime de feição comunista.
Na maioria dos Estados, os dias que precederam à deflagração da insurreição, foram agitados e tumultuados. No Maranhão, contudo, não irrompeu qualquer tipo de movimentação popular, que provocasse sobressaltos ao sistema de segurança. Foi, portanto, num clima mais de expectativa do que de agitação, que chegaram a São Luís as primeiras informações a respeito das ações das forças militares e políticas, localizadas em Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo.
Obviamente, o Quartel do 24º Batalhão de Caçadores foi o primeiro a receber a comunicação sobre a rebelião. O coronel Rivas de Carvalho Lima, comandante da Guarnição Federal, imediatamente reuniu os oficiais a ele subordinados para tomarem conhecimento da posição que assumira em relação ao movimento. Da oficialidade só ouviu apoio e solidariedade, fato logo comunicado aos comandos da 10ª Região Militar, em Fortaleza, ao IV Exército, em Recife, e às autoridades estaduais, dentre as quais o governador Newton Belo, e os secretários de Segurança e do Interior e Justiça, respectivamente, coronel Antônio Carvalho Freitas e Joel Barbosa.
Em harmonia com a Guarnição Federal, a Secretaria de Segurança, em ação preventiva, assinou portaria, proibindo passeatas, comícios e reuniões de qualquer natureza, “dado o risco de degenerarem em manifestações de tumulto prejudiciais à paz e à segurança social”. Comunicou também que a Polícia Militar entrara em rigorosa prontidão, ato já realizado pelo 24º BC, e de que tropas haviam sido deslocadas para as partes mais movimentadas da cidade, no propósito de aplacar o ânimo dos mais exaltados.
Se na área militar tais providências foram tomadas, na área civil, vieram à tona as primeiras reações, algumas a favor outras contrárias, ao movimento que se originou em Minas Gerais. Dos setores sindicais partiram convocações do Pacto dos Trabalhadores e da Frente de Mobilização Popular para que a população defendesse o mandato do presidente da República. Do Comando Geral dos Trabalhadores um apelo aos trabalhadores para uma greve geral. Os Sindicatos da Estiva Marítima e dos Ferroviários chegaram a se mobilizar para sair às ruas e paralisar as atividades profissionais, mas foram contidas pelas forças militares.
Os estudantes, por sua vez, especialmente os secundaristas, tentaram, mas não conseguiram fazer qualquer agitação pública. Pela ação preventiva da Polícia, desistiram de fazer reuniões nos colégios, sobretudo depois que o coronel Rivas, em nota pública, exortou-os “a não se deixarem seguir por agitadores, que procuram encaminhá-los para desordem e usá-los com instrumentos de suas manobras”.
O segmento empresarial, que a nível nacional deu enorme contribuição à deposição de João Goulart, expediu nota pública, prestando “solidariedade aos militares e repúdio à infiltração comunista, cujo objetivo era solapar a iniciativa privada”. O comércio e a indústria, conquanto temerosas e apreensivas, não deixaram de funcionar naqueles dias de incerteza e de dúvida. Apenas os bancos, por cautela e para evitar saques intempestivos, não abriram as portas.
Nos meios políticos, havia certa inquietação dado a ausência do governador Newton Bello, que se encontrava no Rio de Janeiro, para a cerimônia de casamento do filho Newtinho. Essa ausência chegou inclusive a ser especulada na imprensa, que admitia a possibilidade dos militares afastarem o governador por deixar o governo acéfalo. Tal assunto foi discutido amplamente pela opinião pública, a ponto de ser levantada a questão de quem assumiria o Poder Executivo: o vice, Alfredo Duailibe, ou o presidente do Poder Legislativo: Frederico Leda. As especulações só acabaram quando o comandante Rivas, em nota oficial, alertou os jornais para “não procurarem criar um clima de falsa posição da tropa tentando incompatibilizá-la com o meio civil, pois não permitiremos que outras inverdades sejam levadas ao público”.
Na Assembleia Legislativa o clima de intranqüilidade que reinava no campo político, foi desanuviado com a chegada, a 3 de abril, do governador Newton Bello, do Rio de Janeiro, e da convocação dos deputados estaduais para ficarem em sessão por tempo indeterminado.
A 4 de abril, começaram, em São Luis, a execução das medidas mais duras e repressivas do regime militar. Dentre as mais salientes a invasão do edifício São Luis (hoje, propriedade da Caixa Econômica), na Praça João Lisboa, onde funcionava o inexpressivo Partido Comunista, do prédio do Sindicato dos Comerciários, na Praça Benedito Leite, e da União Maranhense de Estudantes, na Rua do Passeio, onde estaria escondido farto material subversivo.
No dia seguinte, o ritmo da repressão aumentou com o anúncio das prisões dos médicos William Moreira Lima e Maria Aragão, dos jornalistas Bandeira Tribuzi, Eider Paes e Luiz Vasconcelos, dos sindicalistas Vera Cruz Marques, Benedito Gomes de Paiva e Newton Sousa Melo, do advogado José Bento Neves e do líder estudantil, Edmar dos Reis Santos.
Com a cassação do mandato do deputado Neiva Moreira, em Brasília, e da prisão de Bandeira Tribuzi, o Jornal do Povo, que se tornara ao longo de 15 anos, a bandeira da resistência oposicionista, deixou de circular.
A partir do dia 9 de abril, com a decretação do Ato Institucional nº 1, os militares passaram a mostrar que não vieram apenas depor João Goulart, mas combater com determinação a corrupção e subversão, daí os poderes dados ao presidente da República de cassar mandatos, suspender direitos políticos e deliberar sobre a demissão, disponibilidade ou aposentadoria dos que tivessem “atentado contra a segurança do país, o regime democrático e a probidade da administração pública”.
Estribado no AI-1, o comandante da Guarnição Federal ordenou a intervenção em várias repartições federais, ressaltando-se a Delegacia Regional da Sunab, a Subagência do Instituto Brasileiro do Café, a Delegacia Regional do Trabalho, o Escritório Regional da Sudene, a Superintendência da Reforma Agrária, o Sindicato dos Bancários e a União dos Ferroviários do Maranhão.
Na área estudantil, enquanto uma portaria do reitor Ribamar Carvalho determinava a intervenção nos diretórios acadêmicos da Universidade Federal do Maranhão e nomeava uma Comissão Provisória para eleger o novo presidente do Diretório Central dos Estudantes, na área secundarista, a UMES também sofria intervenção.
No dia 11 de abril, o Congresso Nacional referendava a indicação do Comando Revolucionário, do general Humberto Castelo Branco e do deputado José Maria Alkimim, para presidente e vice da República. A bancada maranhense no Congresso Nacional dividiu-se com relação às eleições presidenciais. Votaram a favor, o senador Archer da Silva e os deputados José Sarney, Henrique La Rocque, Clodomir Millet, José Rios, José Burnett, Renato Archer, Matos Carvalho e Luis Fernando Freire. Em branco, os deputados Ivar Saldanha, Líster Caldas, Alberto Aboud, Eurico Ribeiro, Cid Carvalho e Pedro Braga. O senador Vitorino Freire votou no marechal Eurico Dutra e o senador Eugênio Barros não votou por estar na Europa.
Simultaneamente, a Assembleia Legislativa, sob pressão, preparava um projeto de Resolução, com o propósito de expurgar da vida pública os deputados estaduais, Benedito Buzar e Sálvio Dino e os suplentes, Bandeira Tribuzi, William Moreira Lima, Vera Cruz Marques, José Bento Neves e Joaquim Mochel, ato materializado em 25 de abril de 1964.

1 comentário para "os primeiros dias da revolução de 64 no maranhão"


  1. Carlos Alberto Souza (Engenheiro)

    Bom artigo Academico Buzar!

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