HOMENAGEM A JOSÉ CALDEIRA

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Amigos, professores e ex-alunos de José de Ribamar Chaves Caldeira promovem no período de 17a 19 deste mês, das 16 às 18h, um ciclo de palestras sobre a vida e obra do insígene mestre, nascido na cidade de Pedreiras, a 21 de julho de 1940 e falecido em São Luis a 23 de julho de 2003.
A coordenação do evento ficou com o seu ex-colega Flávio Soares, do Departamento de História da Universidade Federal do Maranhão. Será ele que abrirá as confrências, abordando o tema “Ciência e Provocação: Lembranças de Caldeira”.
Fui convidado a participar do evento e a mim foi dada a incumbência de falar sobre o acadêmico José de Ribamar Caldeira, que conheci nos anos 1960, quando trabalhávamos na Superintendência de Desenvolvimento do Maranhão, órgão criado pelo então governador José Sarney, para promover e incentivar a economia do Estado, que nasceu com a configuração de uma agência tecnocrática de planejamento, preocupada com a formulação , sob os parâmetros da racionalidade científica, de alternativas para a realidade maranhense.
Passados dez anos de seu falecimento, o evento busca revisitar sua figura e seus escritos, relembrar a verve crítica e refletir sobre o Maranhão, sem dúvida a maior de suas obsessões de pesquisas.
Sem pestanejar aceitei ao convite do professor Flávio Soares, oportunidade que abordarei uma das facetas da multifacetada personalidade de José Caldeira, a de acadêmico e membro da Academia Maranhense de Letras, ele um emperdenido iconoclastra e instigante polêmico.
Por conta dessas características pessoais, não há quem advinhasse ou imaginasse que um dia Caldeira cogitasse ou deixasse no ar a pretensão de ser membro de uma instituição do porte da Casa de Antônio Lobo, ele que, ao longo da vida foi sempre avesso às particularidades acadêmicas, que poderiam parecer incompatíveis com o seu perfil ideológico.
Por isso fui tomado por indisfarçável surpresa no dia em que Caldeira começou a procurar os membros da Academia Maranhense de Letras para anunciar e pedir o voto para disputar à vaga de número oito, patroneada por Gomes de Sousa e ocupada pelos saudosos intelectuais Armando Vieira da Silva, Jerônimo de Viveiro s e João Freire Medeiros.
Para quem tinha, como eu, declarada admiração pelos conhecimentos sociológicos e históricos de José Caldeira, acostumado vê-lo discutindo com os técnicos da Sudema sobre o desenvolvimento do Maranhão, usando a trilogia marxista – tese, antítese e síntese, custava a crer no que via e ouvia ao procurar-me para pedir o voto, com o fito de ingressar na Academia Maranhense de Letras.
Se por um lado, fiquei alegre e satisfeito de saber que era candidatíssimo à Casa de Antônio Lobo, instituição que só teria a ganhar com a sua chegada, por outro, nada mais desagradável do que dizer-lhe, com toda sinceridade, que não poderia contar com o meu vota diante de compromissos antecipadamente assumidos com o escritor Herbeth de Jesus Santos.
Como desejava que Caldeira entrasse na AML com o meu voto, tentei convencê-lo a retirar sua candidatura e esperar a próxima vaga. Ele não vergou-se e resistiu a todos os apelos para não ser candidato. Disse-me ainda que não tinha condições de adiar o seu projeto de pertencer à Academia Maranhenses de Letras, pois o resultado da eleição não o preocupava e nem a derrota, caso se materializasse, não afetaria o seu ânimo.
Diante daquela firme e inabalável determinação de Caldeira, como estava escrito nas estrelas, o sociólogo e professor da UFMA ganhou a eleição e o meu candidato sofreu impiedosa derrota. Caldeira, espírito superior e culto, compreendeu o meu compromisso e a palavra empenhada, não deixando em momento algum que a nossa amizade fosse interrompida por um eventual episódio.
Seu elevado espírito moral e sua inerente grandeza democrática foram devidamente comprovadas e manifestadas após a eleição em que foi vitorioso. Novamente procurou-me para outra conversa, esta, mais uma vez, surpreendente. Assim como nunca imaginei que ele almejasse fazer parte da Academia Maranhense de Letras, também, em nenhum momento, passou pela minha cabeça de que ser eu o escolhido para saudá-lo na solenidade de sua investidura. De bom grado aceitei a tarefa a mim confiada e sobremodo honrosa e gratificante.
Após “sismar sozinho à noite”, parafraseando Gonçalves, cheguei à conclusão de que só um motivo especial levaria Caldeira a indicar-me para recepcioná-lo na Casa de Antônio Lobo: homenagear um companheiro de geração e de tantas jornadas, todas elas forjadas ao longo do tempo, tempo esse em que construimos uma sólida amizade e cristalizamos os nossos ideais em patamares de honra e dignidade.

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