BIRA SEMPRE BIRA

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A Academia Maranhense de Letras ainda não havia se recuperado da perda do poeta José Chagas, que nos deixou em maio passado, eis que outro membro da Casa de Antônio parte para a eternidade, ficando o Maranhão mais pobre culturalmente.

Agora quem se ausenta, e para sempre, é o jornalista, contista, cronista e teatrólogo Ubiratan Teixeira, admirado e querido pelos colegas de profissão do jornal Estado do Maranhão, chamado carinhosamente de Bira.

Ubiratan partiu após um longo e penoso sofrimento, provocado por um câncer que o levou a submeter-se a uma delicada cirurgia em outubro do ano passado. Depois da cirurgia fui visitá-lo no Hospital São Domingos, onde se convalescia. Encontrei-o – e não era pra menos, triste e abatido, mas disposto a continuar na militância jornalística, não pelo prazer de escrever, mas, pelos numerosos leitores de suas crônicas, publicadas às sextas-feiras, na coluna “Hoje é dia de”, algumas debochadas, irreverentes ou satíricas, outras leves, ternas e afetuosas, nas quais mostrava o seu talento de escritor polivalente e o dom de produzir textos primorosos.

Após a terrível cirurgia, voltou novamente a ser internado no Centro Médico e no Hospital Geral. Mais uma vez estive com ele, na condição de amigo e confrade da Academia Maranhense de Letras. No Hospital Geral, de onde não sairia mais com vida, o revi em situação grave e dramática. Desenganado pelos médicos, que tudo faziam para amenizar o seu sofrimento, não mais falava. Com muito sacrifício, abriu os olhos quando ouviu a minha voz.

Foi o meu derradeiro encontro com Ubiratan, já em plena fase terminal da vida. Passei a ter notícias dele através da sua nora, Andréa. Foi ela que, no último domingo, antes do meio-dia, por telefone, deu-me a notícia do doloroso desfecho reservado pelo destino ao Bira.

A partir daquele momento, como presidente da AML, passei a desenvolver ações para a Casa de Antônio Lobo, da qual há 36 anos fazia parte, como membro efetivo, para receber o corpo de Ubiratan, que ali entrara a 4 de outubro de 1978, para ocupar a cadeira de número 36, patroneada por Tasso Fragoso, e fundada por João Bacelar Portela. Não foi um acadêmico assíduo ou um ativo participante, mas comparecia sempre às solenidades importantes e às sessões especiais de posse de confrades.

Conheci Ubiratan nos meados da década de 1950, eu, estudante do Liceu Maranhense. À época, do padre João Mohana, seu grande amigo e orientador artístico, recebeu a incumbência de montar a peça Via Sacra, de Henri Ghéon. Na condição de produtor e diretor do espetáculo, escolheu um colega da minha turma, chamado Wanderley Carvalho, para ator principal.

Após as aulas do Liceu, eu costumava ir ao Teatro Artur Azevedo para ver os ensaios da peça. Ubiratan, ainda no limiar de sua vida teatral, já revelava conhecer a arte de representar e de como dirigir um espetáculo nada convencional, com a participação apenas de atores jovens e amadores. A peça alcançou enorme sucesso em São Luis.

Ao retornar do Rio de Janeiro, onde estudava, ainda reencontrei Ubiratan na redação do Jornal do Povo, dirigido por Neiva Moreira, que fazia oposição franca e aberta ao vitorinismo. Naquela redação, além de Bira, a presença de intelectuais do porte de Bandeira Tribuzi, Reginaldo Teles, José Chagas, Lago Burnett, Clóvis Sena e Joaquim Itapary.

Pela sua atuação vigorosa, como repórter e militante político, Ubiratan participou de um episódio marcante na época em que o senador Vitorino Freire mandou no Maranhão, que o credenciou a patrocinar uma vexatória barganha política: a compra do mandato do senador Antônio Bayma, para permitir a eleição do poderoso Assis Chateaubriand ao Senado.

Antes da eleição, os oposicionistas maranhenses souberam que chegaria a São Luis a edição especial da revista O Cruzeiro, trazendo uma reportagem, assinada pelo famoso jornalista David Nasser, sobre a vida de seu patrão, Chateaubriand, para ser distribuída gratuitamente ao eleitorado.

Os oposicionistas armaram para o dia 16 de março de 1955 uma operação para impedir a revista de circular em São Luis. Para executá-la, convocaram o então membro do Partido Comunista, Luís Teles, que se passaria por fotógrafo, e o jornalista Ubiratan Teixeira, do Jornal do Povo. Aos dois foi dada a missão de receber as revistas no aeroporto do Tirirical e de desviá-las e conduzi-las para longe da cidade, para a devida incineração.

Só a primeira parte da operação deu certo. A segunda, a da queima das revistas, não foi concluída, porque os vitorinistas descobriram o plano e prenderam os executores.

Anos depois, em abril de 1990, quando eu ocupava o cargo de secretário da Cultura, nomeado pelo governador João Alberto, abriu-se uma vaga no Conselho de Cultura. Para representar o segmento teatral no colegiado, convidei Ubiratan Teixeira. Ele ficou emocionado com o convite, pois jamais imaginara participar de um órgão que cuidava das ações culturais do Maranhão. Enquanto ali esteve sua colaboração foi inestimável.

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