O MONSENHOR E A CORJA DO VATICANO

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Nos dias correntes, dois assuntos dominam a vida dos brasileiros: o futebol e a política.

O primeiro, por conta dos jogos da Copa do Mundo. O segundo, face à realização das convenções partidárias, definidoras dos candidatos aos cargos majoritários e proporcionais às eleições de outubro vindouro.

Ainda que o futebol e a política sejam assuntos atuais e do cotidiano, vou esquecê-los momentaneamente para comentar um tema instigante, delicado, controvertido e polêmico: religião.

Antes, porém, preciso dizer, em alto e bom som, que não sou teólogo, nem especialista em temas místicos e sobrenaturais, muito menos iconoclasta.

No que tange à vida espiritual, considero-me simplesmente um católico apostólico romano não praticante, mas que, de uns tempos para cá, freqüenta os templos religiosos somente por obrigação social, assistindo ou participando de atos litúrgicos, como casamentos, batizados e missas gratulatórias.

O meu afastamento físico da igreja não significa descrença em Deus, pois a Ele devo a vida e tudo que sou.  Ausentei-me – e acredito que grande parte do povo brasileiro – pelos exemplos nada edificantes dos representantes de Cristo na terra, e dadas às omissões da Santa Madre Igreja, com relação aos problemas sociais, fato gerador das numerosas seitas de origem duvidosa e que se prestam à prática da mistificação e da extorsão.

A minha formação cristã adveio de meus antepassados e dos educadores que passaram pela minha vida. Foram eles que me transmitiram os ensinamentos e as crenças embutidas nos manuais católicos. Em Itapecuru, cidade em que vim ao mundo e onde vivi boa parte de minha vida, todos os caminhos só levavam a lugar: a igreja-matriz de Nossa Senhora das Dores. Foi nela que recebi, pelo catecismo e pelos atos litúrgicos, celebrados por sacerdotes inesquecíveis, preciosas lições de amar, temer a Deus e buscar a salvação eterna.  Criei-me vendo a figura do meu pai, como verdadeiro apóstolo de Cristo, ajudar e colaborar com a igreja, de modo que o catolicismo se impusesse de forma absoluta e impedisse outras seitas de ali se estabelecerem e prosperarem.

Ao vir para São Luis, para dar continuidade aos estudos, não por acaso fui internado no Colégio dos Irmãos Maristas, estabelecimento que primava pelo ensino de qualidade, arrimado no cristianismo e tendo o livro “História Sagrada’’ como indispensável à formação espiritual do alunado.

Todo esse intróito serve para registrar a educação religiosa que recebi desde criança, mas hoje fora de moda, deformada e desvirtuada, muitas vezes, pelos próprios membros da Santa Madre Igreja, que receberam a missão de propagar o evangelho e levar a palavra de Cristo aos fiéis.

A comprovação disso deu-se no sábado passado, quando eu e dezenas de pessoas ouvimos espantadas e perplexas, manifestações e opiniões saídas da boca do monsenhor Hélio Maranhão, consideradas chocantes e distantes das crenças e dos ofícios católicos, transmitidas ao longo do tempo às gerações que adotaram o cristianismo como fonte inspiradora e alimento da fé.

Não é de agora que a cidade comenta a irreverência do sacerdote sobre questões, algumas até dogmáticas, que deixam os católicos, sobretudo os mais devotados e crédulos, assustados e impactados.

Imagino o que não se passa na cabeça de um cristão, mormente o que acredita piamente na Bíblia e na verdade dos evangelhos, vendo e ouvindo um representante de Deus dizer coisas que contrariam os ofícios litúrgicos.

Foi na celebração da missa de sétimo dia da morte do saudoso intelectual, Ubiratan Teixeira, na igreja da Glória, no bairro Alemanha, que monsenhor Hélio, do alto de sua pregação, vociferou para uma assistência atônita e perplexa mais ou menos isso: “Vocês não devem pedir nada a Nossa Senhora, pois Ela e nenhum santo não resolvem nada, não salvam ninguém e nem melhoram a vida de qualquer pessoa”.

Se aquilo fosse dito por mim ou outra pessoa desprovida de autoridade sacerdotal, tolerava-se. Afinal de contas, somos suscetíveis às mudanças e às transformações causadas pela ciência, que vem se encarregando de derrubar ou questionar as coisas que as religiões perpetuaram ao longo de séculos de domínio espiritual e temporal.

Mas ao serem extravasadas por figuras clericais, preparadas para dizerem as verdades bíblicas e interpretarem os atos evangélicos, dogmáticos ou não, aí a coisa muda de figura e provoca calafrios nos que rezam e acreditam na cartilha legada por São Pedro.

Como se não bastasse, ao término de seu estupefato sermão, fez ele uma acusação altamente comprometedora à Santa Sé: “No Vaticano, há uma corja que manda e desmanda e precisa ser desbaratada”, como se isso não fosse o objetivo do papa Francisco.

As idiossincrasias do sacerdote tornam-se mais pavorosas por serem vocalizadas em pleno templo católico e sem o temor de infringir a estrutura hierárquica e a rigorosa disciplina de uma instituição secular, como a Igreja Católica, que prima, por tradição, no cumprimento rigoroso de seus códigos e ensinamentos.

Luiz Rocha, no exercício do cargo de governador, por menos disso foi proibido pelos bispos do Maranhão de usar os sacramentos eucarísticos, ao se posicionar contra os trabalhadores rurais e a favor dos latifundiários, numa questão em que estava em jogo a propriedade da terra.

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