O CHOLERA-MORBUS NO MARANHÃO

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De 1854 a 1856, o Maranhão viveu dias de intranquilidade diante da ameaça da população ser atacada de forma terrível por uma epidemia provocado pelo cholera-morbus, comumente chamado cólera.

De acordo com O Publicador Maranhense, jornal diário e oficial, em 1854, o Norte do País, principalmente o Pará, foi contaminado acentuadamente pelo cólera.

Para impedir que a doença invadisse o Maranhão, o Presidente da Província, Eduardo Olímpio Machado, tomou uma série de providências, todas de caráter urgente e preventiva, com vistas a orientar a população sobre os malefícios que poderiam advir da terrível moléstia.

CAMPANHA E MENSAGENS

Com os meios e as condições que a ciência, à época, colocava à disposição da sociedade, o Governo da Província procurou mobilizar a estrutura da Higiene Pública (órgão que cuidava da saúde da população), no sentido de deflagrar ações imediatas e eficazes para livrar o Maranhão de uma poderosa moléstia.

No Publicador Maranhense, para orientar e informar a população, divulgavam-se mensagens e artigos de renomados médicos, a exemplo de César Marques, João Florindo Bulhões, Paulo Saulnier, Paulo Candido e Tolentino Augusto Machado, que mostravam os riscos que a epidemia causaria se as medidas governamentais não fossem observadas e seguidas.

PROVIDÊNCIAS GOVERNAMENTAIS

Simultaneamente, o Presidente da Província, Olímpio Machado, encaminhava reiteradas correspondências às autoridades do País, principalmente as paraenses, informando que todas as embarcações partidas do porto de Belém, distante pouco mais de 72 horas por via marítima de São Luís, seriam aqui vistoriados e desinfetados, bem assim os marinheiros, que passariam por rigorosos exames médicos.

Para piorar a situação, em seguida, de Belém, veio a notícia de que o Presidente do Pará havia falecido, vitimado pela doença, no trajeto entre Cametá e Belém, fato que fez redobrar as medidas preventivas e os esforços contra o cólera, destacando-se a instalação na Ilha do Medo e na Ponta D’Areia, de dois lazaretos (os asilos de hoje), com a finalidade de abrigarem pessoas contaminadas, de onde só poderiam sair depois do cumprimento de uma quarentena, tempo considerado suficiente para saber se a pessoa estava ou não infectada pela moléstia.

BOATO ALARMANTE

A 15 de novembro de 1855, outro pavoroso boato (naquela época a cidade também já vivia sob a ação nefasta das falsas notícias), dava conta de que o cólera havia chegado a São Luís.

Para acalmar a população, o Delegado de Polícia, Pedro de Sousa Guimarães, fez publicar o seguinte aviso: “ Tendo se espalhado pela população haver se dado um caso de cholera-morbus, procedeu a Polícia a indagar a veracidade de tal notícia e felizmente verificou ser ela inexata, porquanto o escravo da Casa Season, apontada como a pessoa afetada, sofria um outro incômodo de saúde, muito estranho e em gravidade. E para conhecimento de todos, faz publicar pela imprensa o resultado dessa investigação.”

ANOS DE ANGÚSTIA

Durante três anos, de 1854 a 1856, a população de São Luís viveu dias de expectativa e de angústia pela iminência de a cidade ser atacada por uma moléstia terrível e de consequências danosas à saúde pública.

Isso só não aconteceu em razão das enérgicas providências governamentais, que impediram a doença extrapolar das fronteiras paraenses para o território maranhense. Fato comprovado pela notícia de que nenhum cadáver foi sepultado no Cemitério do Senhor Bom Jesus dos Passos.

DESINTERIA E NÃO CÓLERA

Passado o susto, as autoridades governamentais informavam que a doença que ameaçou o povo maranhense não foi a cholera-morbus, mas surgiu de manifestações gasto-interites, acompanhadas de vômitos e diarreias.    

Essa revelação veio do novo Presidente da Província, Antônio Cândido da Cruz Machado, na abertura dos trabalhos da Assembleia Legislativa Provincial, em junho de 1856. No seu relatório escreveu: “Eu contesto que se tivesse apresentado um só caso de cholera-morbus, opinião esta que se baseia nos pareceres da comissão de Hygiene Pública. Os sintomas apresentados durante essa quadra epidêmica, foram todos com características de desinteria. O maior número de suas vítimas foi nas crianças, velhos e valetudinários e na sua força estende-se também aos adultos. Alguns casos, embora raros, foram acompanhados de vômitos biliosos e resfriamento das extremidades, de algumas câimbras e diarreia de natureza suspeita.

A EPIDEMIA NA CAPITAL E NO INTERIOR

Ao declarar peremptoriamente que a epidemia deflagrada no Maranhão foi desinteria e não cólera, o Presidente da Província concluiu: “A desinteria, como surto, extrapolou os limites geográficos de São Luís. A afecção, que reinou no interior, pode ser considerada, segundo toda a probabilidade, a mesma desinteria que tomava o caráter epidêmico e maligno, complicando-se com febres perniciosas e miasmáticos, que de ordinário açoitam as populações ribeirinhas dos rios da Província.”

ATÉ QUANDO, BOLSONARO?

Eu sou do tempo em que no curso ginasial, o Latim era uma disciplina que fazia parte currículo escolar.

Por isso, aprendi e guardei na memória este trecho do discurso de Cícero, no Senado Romano, contra o senador Lúcio Sérgio Catilina: Queo usque tendem abutere, Catilina, patienta nostra?

Frase que traduzida para o português, ficou assim: Até quando, Catilina, abusarás da nossa paciência?

Com base na catilinária, vale a pergunta: Até quando, Bolsonaro, abusarás da nossa paciência?       

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