A BRAVURA E COMPETÊNCIA DE KÁTIA BOGÉA

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Em março de 2016, a historiadora Kátia Bogéa foi nomeada presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, pelo presidente Michel Temer, por indicação do ex-presidente José Sarney, que conhecia e acompanhava o extraordinário trabalho técnico que realizava na Superintendência do IPHAN no Maranhão, ao longo de 12 anos, em que se dedicou integralmente à causa da recuperação do patrimônio histórico e artístico de São Luís.   

Ao assumir a presidência da República, Jair Bolsonaro, manteve Kátia Bogéa no cargo, supondo-se assim o seu reconhecimento ao incansável trabalho por ela desenvolvido em favor da preservação do patrimônio das cidades brasileiras, e louvado pelos que lutam por tão emblemática causa.

Mas quem conhece o modo correto e eficiente de Kátia trabalhar e a maneira desastrosa como Jair Bolsonaro governa(?) o Brasil, sabia que a permanência dela no comando do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, não seria longo.

Como se imaginava, em dezembro de 2019, de maneira insólita e indelicada, um ato do Palácio do Planalto a exonera da presidência do IPHAN, cargo que até agora permanece sem dirigente, porque as indicadas para substituí-la, não preencheram os requisitos exigidos pela burocracia estatal. 

Na gestão do atual presidente da República, foram nomeadas para comandar o IPHAN, Luciana Rocha Feres e Larissa Peixoto, que não se mantiveram no cargo, pela ausência de habilitações para a função que requer, de quem vai desempenhá-la, competência profissional e capacidade técnica, atributos imprescindíveis para enfrentar inescrupulosos empresários e setores de uma classe política atrasada.

DEMISSÃO DE KÁTIA

Na edição de 24 de maio recente, a jornalista Camila Matoso, na sua coluna Painel, do jornal Folha de São Paulo, publica matéria sobre a demissão de Kátia Bogéa da presidência do IPHAN, mostrando que, “além da tentativa de interferência indevida na Polícia Federal, para proteger amigos e família, a reunião ministerial revelou ação semelhante de Jair Bolsonaro no IPHAN, responsável por zelar pelo patrimônio”.

Para colocar as coisas em prato limpo, a ex-presidente do instituto, a respeito de tão mesquinho assunto, disse à jornalista paulista “ter sido demitida após reclamações de Luciano Hang e Flávio Bolsonaro e de que é mentiroso o discurso do presidente Bolsonaro, de ter pessoas técnicas para cargos, pois ele quer no órgão alguém que aceite passar por cima da lei”.     

A RAZÃO DA DEMISSÃO

Segundo Kátia, “a sua demissão ocorreu por causa de uma obra do empresário e dono das lojas Havan (o que financia as fakes news veiculadas pelo gabinete do ódio), executada no sul do país e onde a empresa contratada por Hange deparou-se com um achado arqueológico, fato semelhante ao acontecido em Salvador, Bahia, que levou o ex-ministro Gedel Vieira, por ser amigo do presidente Michel Temer, a tentar passar por cima da lei, ato repelido pela presidente do IPHAN.

Por contrariar o interesse do dono das lojas Havan, Kátia pagou um preço alto: foi exonerada do cargo por Jair Bolsonaro, sob o pretexto de paralisar uma obra de um amigo e aliado, que como o político baiano, desejava se prevalecer de um achado arqueológico e numa área tombada, para tirar proveito empresarial.

DISCURSO MENTIROSO

Na entrevista, Kátia fez esta revelação: “Flávio Bolsonaro esteve em Salvador e se reuniu com construtores locais que fizeram reclamações. No dia 11 de maio, o governo escolheu para dirigir o IPHAN uma amiga da família. Depois disso, veio com esse discurso mentiroso de que teria que ter perfil técnico para ocupar cargo no seu governo. Tudo mentira”.  

A BRAVURA DE KÁTIA

A bravura de Kátia, quando se reporta à  verdade e à defesa da lei, faz lembrar um ato ocorrido em dezembro de 1998, na inauguração da reforma da Praça do Panteon, quando no palanque, na presença do governador Flávio Dino, à época, inimigo figadal de José Sarney, corajosamente, fez questão de ressaltar em alto e bom som e cercada por gente do governo estadual, o seu agradecimento ao ex-presidente da Nova República, pela efetiva participação na concretização de tão importante obra.

A PRIMEIRA DEMISSÃO

O injusto e ignóbil ato de demissão, perpetrado pelo atual chefe da Nação, não foi o primeiro registrado ao longo da brilhante vida profissional de Kátia, toda voltada para a recuperação e preservação do patrimônio cultural de nosso país.

Se a memória não me falha, em outubro de 2015, como superintendente do IPHAN, em São Luís, inesperada e cavilosamente, viu-se demitida do cargo que ocupava há 12 anos, por iniciativa do deputado federal, Waldir Maranhão, à época, 1º vice-presidente da Câmara Federal, que se valendo do posto que exercia,  imerecidamente, conseguiu junto à presidente Dilma Roussef afastá-la de suas atribuições funcionais.

EM DEFESA DE KÁTIA

Lembro que, através desta coluna, veiculada a 25 de outubro de 2015, reportei-me à sua demissão, lavrada em uma crônica intitulada “Kátia e o IPHAN”, do qual extraí este texto: “Para prejudicar São Luís, no que tem de mais precioso – o seu rico acervo artístico e arquitetônico – um indesejável político maranhense armou-se de duvidoso prestígio para exigir a cabeça da competente e incansável profissional, ela, que, no exercício do cargo, luta bravamente pela preservação e recuperação desta cidade e impedir que vândalos e insensatos a destruam e vilipendiam.”

“Só quem acompanha a árdua batalha que Kátia trava contra esses malfeitores, que, ao arrepio da lei, tentam transformar São Luís numa urbe sem alma e vida, pode avaliar a lacuna que deixará e a falta que fará ao IPHAN, como sua grande comandante.”

“Quantas vezes eu e tantos maranhenses a vimos colocar a fragilidade feminina de lado, para enfrentar com coragem e altivez os valentões, os falsos empreendedores e os especuladores imobiliários, os quais, em pleno uso da ignorância, da arrogância e da má-fé, fazem de tudo para São Luís perder as características que a diferenciam de qualquer outra cidade brasileira.”

“Como não conseguem afastá-la dos princípios que defende, tentam macular a sua imagem e acusá-la de radical e intransigente. Para esse tipo de gente, ela costuma jogar duro, mas sem perder a ternura. O que faz com toda dignidade.”     

Legenda da foto: Kátia Bogeá, ao lado do ex-presidente José Sarney e do ex-presidente da Academia Maranhense de Letras, Benedito Buzar, sendo homenageada pelos acadêmicos, no final do ano passado, pela sua brilhante atuação à frente do IPHAN.

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