A SUCESSÃO MUNICIPAL NA MINHA TERRA

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A partir de 1960, quando o meu pai, Abdala Buzar, disputou as eleições de prefeito de Itapecuru, eu participo ativamente das campanhas eleitorais de minha terra.

Naquele pleito, ele, concorrendo pelo Partido Social Progressista(oposição), derrotou a forte candidata Graciete Cassas, do Partido Social Democrático e apoiada pela máquina governista.

Por um compromisso com o lugar onde nasci e me criei, nunca mudei o domicílio eleitoral para qualquer outra cidade, por entender ser uma obrigação de ordem moral e cívica, votar no candidato mais habilitado para dirigir os destinos de Itapecuru.

Salvo melhor juízo, de 1960 até 2016, quando atuei em todas as campanhas eleitorais, com vistas às eleições majoritárias, travadas no meu torrão natal, fui mais vitorioso do que derrotado.

AUSENTE, MAS INTERESADO

Este ano, contudo, face à pandemia e fazer parte da área de risco do coronavÍrus, aconselhado por médicos, amigos e familiares, inconsolável e triste, ausentei-me fisicamente da campanha eleitoral em que está em jogo os destinos de minha gloriosa terra.

Mesmo afastado de tão importante pugna eleitoral, acompanho com o mais desusado interesse a sucessão do prefeito Miguel Lauand, disputada entre os candidatos Benedito Coroba, que até recentemente fazia parte do Ministério Público, um vigilante defensor das causas para o dinheiro público não ser usado indevidamente por prefeitos corruptos e desonestos, e o jovem médico, Ricardo Lajes, da nova geração política itapecuruense.

ELEITO EM 1990, DERROTADO EM 1992

Coroba exerceu o mandato de deputado estadual, pelo PDT, nas eleições de 1990, e atuava de forma brilhante e desembaraçada na Assembleia Legislativa, mas, para atender a convocação dos conterrâneos, no pleito de 1992, candidatou-se ao cargo de prefeito de Itapecuru.

Pela maneira como se comportou na campanha eleitoral, disputando contra quatro candidatos, tornou-se o favorito pela maneira firme e corajosa como defendia ações e projetos para a sua terra sair do marasmo e do atraso.

Mas o favoritismo de Caroba terminou esbarrando na surpreendente vitória da candidata Risalva Rodrigues, esposa do ex-prefeito José Carlos Rodrigues, que na sua campanha prometeu demagogicamente mundos e fundos para o eleitorado de menor poder aquisitivo.

Vinte e oito anos depois daquele inesperado insucesso nas urnas, Benedito Coroba, em atendimento aos apelos do povo itapecuruense, novamente concorre à disputa eleitoral.

FOTO LEGENDA 1- Em Itapecuru, os Beneditos Buzar e Coroba, com o Padre Alonso.  

A GOROROBA E OS BOIOLAS

Da redemocratização do país, em 1946, aos dias de hoje, salvo melhor juízo, só lembro de dois ex-presidentes da República, que nos seus mandatos,  não visitaram o Maranhão: Itamar Franco e Michel Temer, os quais, na condição de vice-presidentes, substituíram Fernando Collor de Melo e Dilma Roussef, defenestrados do Palácio do Planalto pelo expediente do impeachement, decretado por membros do Congresso Nacional.

Os que nos visitaram, eleitos por via direta ou indireta, excetuando-se Jânio Quadros e Jair Bolsonaro, foram extremamente educados, cordiais e respeitosos.

GOROROBA JANISTA

De Jânio Quadros, da UDN, que venceu o general Henrique Teixeira Lott, do PSD-PTB, nas eleições de 1960, sabe-se que quando esteve em São Luís, em 1961, para participar de uma reunião de trabalho, com os governadores do Maranhão (Newton Bello) e do Piauí, pediu ao amigo e correligionário, deputado José Sarney, que não lhe fosse servido durante sua estada entre nós, o Guaraná Jesus, que apelidou de “gororoba cor de rosa”.

O pedido de Jânio foi atendido, mas teve uma repercussão péssima junto à população maranhense, que sorve com prazer e orgulho um produto autenticamente regional e da criatividade de um industrial competente e politicamente de esquerda, chamado Jesus Norberto Gomes.

Quem ficou constrangido com aquele infeliz pedido de Jânio Quadros foi o deputado José Sarney, que nas eleições de 1960, fez questão de lutar para o candidato udenista ter uma boa votação no Maranhão, mormente em São Luís.

BOIOLA MARANHENSE

Cinquenta e nove anos depois do impensado e leviano gesto de Jânio Quadros, eis que outro presidente da República, desta feita, Jair Bolsonaro, não bem-sucedido no pleito de 2018, em terras maranhenses, na sua recente visita ao nosso Estado, mal pisou no aeroporto de São Luís, ao beber o precioso Guaraná Jesus, inopinadamente declarou: – “Agora virei boiola, igual a maranhense”.

Trata-se de um desabafo de mal gosto e dito num  momento inoportuno e de maneira equivocada, pois o termo boiola não tem nada a ver com o Maranhão, mas com o Rio de Janeiro, cujo povo também se sentiria ofendido por uma saudação ofensiva e indelicada, pois essa não é a forma pela qual o chefe de uma nação deve se dirigir aos seus compatriotas.

O inusitado episódio ocorrido no aeroporto do Tirirical, mostra como Bolsonaro foi mal assessorado pelos políticos maranhenses que o apoiam no Congresso Nacional, pois sabendo que a ele, em terras maranhenses, seria servido o Guaraná Jesus, deveriam tê-lo informado do orgulho que temos de consumir um refrigerante autenticamente maranhense, que caiu no gosto de crianças, jovens e adultos, criado pela genialidade de um industrial conterrâneo, que legou ao Maranhão uma linha de produtos de larga aceitação no mercado regional.

JESUS NORBERTO GOMES

Refiro-me com muita honra e respeito a Jesus Norberto Gomes, um homem que construiu, por conta de sua inteligência, denodo e formação política e intelectual, uma façanha empresarial ímpar e se tornou conhecido no Brasil por um refrigerante que até hoje se impõe pela qualidade, num mercado marcado pela presença de produtos similares, variados, nacionais e estrangeiros.

Além dos predicados como industrial, Jesus Norberto Gomes, pelas suas posições políticas avançadas, foi preso em São Luís, quando estourou a Intentona Comunista, em novembro de 1935, por ordem do governador Aquiles Lisboa, sendo encarcerado na Penitenciária do Estado e deportado para o Rio de Janeiro, numa viagem de navio de 15 dias.

Com outros maranhenses, foi levado para a Casa de Detenção, na Rua Frei Caneca, onde a ditadura getulista confinava os presos políticos até serem julgados pelo Tribunal de Segurança Nacional, que o pôs em liberdade em 10 de dezembro de 1936.

FUNERAL ANUNCIADO

Antes de morrer, Jesus Gomes, escreveu do próprio punho, como desejava o seu funeral.

  1. Quero ficar com a roupa do momento da morte. Braços estendidos ou com as mãos abertas, uma por cima da outra sobre o peito, envolto num lençol, com a fisionomia de fora.
  2.  Caixão de valor médio, sem enfeite ou cruz.
  3. Não quero tocha, santo ou missa, luto de roupa e outras exterioridades.
  4. Sepultura de barro e cimento com o número indicado pelo cemitério, data do nascimento e do falecimento, sem estrela ou cruz.
  5. Não comprem sepultura, aluguem por um período e abandonem. Os ossos, quando abrirem para enterrar outro, os coveiros levarão para o ossuário comum.
  6. Havendo forno crematório, não vacilem em preferir jogar as cinzas onde parecer melhor.
  7. Se quiserem gastar mais do que o necessário para esse funeral, entreguem a quem representar o Partido Comunista, para ajudar a politização esclarecida desse regime que exterminará a miséria física e moral.       

 FOTO LEGENDA 2 – O bravo e competente industrial, Jesus Norberto Gomes.     

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