O GABEIRISMO SEM GABEIRA

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Com o meu aguçado olhar de pesquisador, encontrei na edição do Diário Oficial do Maranhão, de 4 de outubro de 1937, a publicação de um longo pronunciamento do deputado Felix Valois, integrante da bancada que apoiava o então governador Paulo Ramos.
O discurso do parlamentar ocorreu dias antes do presidente Getúlio Vargas decretar o Estado Novo no Brasil, ato que estabeleceu um regime ditatorial e transformou os governadores em interventores, situação que só acabou nos idos de 1945, graças ao processo de redemocratização do País.
O discurso do deputado Felix Valois, devidamente combinado com Paulo Ramos, atacava sem dó e piedade os parlamentares estaduais, liderados pelo deputado João Braulino de Carvalho, que haviam se comprometido com o chefe do Executivo estadual a participar de uma nova agremiação política no Maranhão, de apoio ao governador, denominado Partido Evolucionista Maranhense, mas face à conjuntura política que vivia o Brasil, resolveram, como fazem até hoje, a esperar o desfecho da crise, para assinar ou não o documento.
No raivoso pronunciamento do parlamentar, no qual dedicava palavras ácidas e venenosas aos deputados que deixaram de cumprir o assumido com Paulo Ramos, encontrei um vocábulo que me chamou a atenção, por desconhecê-la literalmente: Gabeirismo.
O meu primeiro impulso foi imaginar que os parlamentares fossem aliados do jornalista Fernando Gabeira, hipótese logo afastada porque, naquela época, o político e intelectual ainda não havia nascido e nenhum Gabeira militava em qualquer agremiação política daqui ou alhures.
Para dissipar as minhas dúvidas quanto ao incógnito vocábulo, recorri aos mais tradicionais e importantes dicionários brasileiros para ver se encontrava algo que me permitisse achar ou esclarecer a origem da palavra Gabeirismo.
Depois dessa caçada infrutífera aos dicionários brasileiros, recorri ao livro do professor Domingos Vieira Filho – A Linguagem Popular do Maranhão, na esperança de nele encontrar o registro de algum verbete regionalista que definisse ou explicasse o que era Gabeirismo. Em vão.
Como não achei nada para esclarecer a origem da palavra, retomei a leitura do longo e candente discurso do deputado Felix Valois, no qual, em determinado momento, ele explica o que é Gabeirismo.
Com a palavra o parlamentar: “Gabeirismo é hoje um vocábulo do nosso idioma. É a última palavra na tradução exata da degenerescência de nossos costumes políticos. É a ação nefasta dos deputados de Norte a Sul do País, faltando aos compromissos assumidos, não honrando a palavra empenhada da solução dos problemas do Estado”.
Como se não bastasse, o deputado, que era oficial do Exército, afirmou “Que entre nós no Maranhão, esta palavra passará à História, porque é antes de mais nada, o atestado evidente de que a crise no Brasil é essencialmente uma crise moral”.
De 1937, quando Felix Valois discursou e descobriu esse neologismo, aos dias de hoje, já transcorreram mais de oitenta anos. Significa dizer que essa falta de compostura dos políticos brasileiros, com relação aos compromissos assumidos e não cumpridos, não é um problema dos dias correntes.
No passado como no presente, os políticos, salvo poucas e honrosas exceções, continuam sendo inconfiáveis e nada coerentes com que prometem nos palanques e nas tribunas, razão porque o Gabeirismo, vocábulo inventado pelo parlamentar maranhense, continua em voga e mais atual do que nunca.

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