A INVASÃO DO PALÁCIO DOS LEÕES

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No calendário brasileiro, o mês de maio pontifica como referência. No curso de sua trajetória, a população credita a ele eventos marcantes. Não por acaso é considerado Mês de Maria, Mês das Mães e Mês das Noivas.

Para o povo maranhense, especialmente o de São Luís, maio também pode ser lembrado como o mês da ocorrência de um inusitado ato, protagonizado por um oficial da Polícia Militar do Estado, que quixotescamente organizou uma quartelada, com objetivos inconseqüentes e sem levar a qualquer resultado concreto, a não ser o de provar como as Oposições maranhenses agiam para destronar do poder o vitorinismo, que desde a redemocratização do país, em 1946,
controlava a máquina administrativa estadual.

Vamos aos fatos. Por volta das 2 horas da madrugada do dia 3 de maio de 1956, portanto, há 56 anos, os moradores do Centro Histórico foram acordados de maneira insólita. Atônitos, a primeira impressão que lhes ocorreu era da queima de fogos, produzida pela pirotecnia governista, em comemoração à eleição do deputado Eurico Ribeiro, que no dia anterior, se reelegera para a presidência da Assembleia Legislativa, condição que garantia a ele permanecer à frente do governo estadual até que a Justiça Eleitoral julgasse os processos das eleições de outubro de 1955, mas contestadas pelas Oposições e que apontavam o favoritismo dos candidatos Matos Carvalho e Alexandre Costa, do PSD, à sucessão do governador Eugênio Barros.

Se os vizinhos do Palácio dos Leões imaginavam ser aquilo um foguetório festivo, os que se encontravam dentro dele, destacando-se o governador interino Eurico Ribeiro e o senador Vitorino Freire, pensavam exatamente o contrário, pois despertaram sob intenso tiroteio e por uma incessante movimentação da guarda militar palaciana.

Enquanto os moradores das ruas adjacentes ao Palácio do Governo, só ao amanhecer do dia tomaram conhecimento dos perigos iminentes que viveram, os que estavam na sede do Poder Executivo, tão logo os primeiros tiros estouraram, conscientizaram-se de que a vida deles corria risco, caso a guarda palaciana não tivesse condições, em homens e armas, de deter a investida de um grupo de militares, sob o comando do capitão da PM, Antônio Alves Gondim, que pretendia tomar de assalto o Palácio dos Leões e prender Eurico Ribeiro e Vitorino Freire, alvos principais daquela intentona.

O gesto do oficial, aplaudido pelos oposicionistas e condenado pelos governistas, teve como inspiração fatos políticos recentemente ocorridos no Maranhão e que deram a ele a convicção de que só através de processos extralegais as Oposições poderiam chegar ao poder, já que as maquinações políticas e jurídicas perpetradas pelo vitorinistas, com o apoio da cúpula federal, eram ilimitadas e abusivas.

Com esse sentimento, o capitão Gondim pôs em prática um plano sedicioso não apenas para expulsar os vitorinistas do Palácio dos Leões, mas também chamar a atenção da opinião pública nacional para atos políticos que, no Maranhão, atropelavam a lei e descontentavam a população.

Estimulado pelas lideranças oposicionistas e respaldado na insatisfação da sociedade, o oficial tomou a iniciativa de arregimentar alguns  companheiros de farda e invadir o Palácio dos Leões. No quartel, antes de executar o seu mirabolante plano, redigiu um manifesto à população, no qual explicava os motivos que o levaram aquela atitude, bem como fazia o levantamento sobre a quantidade de oficiais, soldados e munições que poderia contar.

Na madrugada de 3 de maio, a operação começou com a mobilização da pequena tropa que lhe emprestava apoio, à qual instruiu e ordenou que seguisse os seus passos. Mas, ao sair do quartel, Gondim não contava ser traído  por alguns soldados, que chegaram ao palácio antes dele, denunciando-o à guarda militar, que se preparou para reagir às investidas do oficial sedicioso.

Quando o capitão e seus subordinados, com as dificuldades inerentes à operação, chegaram às imediações do Palácio dos Leões, foram surpreendidos pelos tiros de rifles e metralhadoras disparados pela tropa governista. Ele ainda tentou revidar, mas foi vencido pela superioridade de homens e munições da guarda palaciana, que se impôs e levou-o ao recuo. Para não ser preso, o oficial sublevado alcançou o telhado de um sobrado da Rua Joaquim Távora, de onde, vez por outra, com a metralhadora que portava, disparava tiros a esmo.

Só entregou as armas, pondo fim à malograda quartelada, quando o sol já dominava o cenário cotidiano de São Luís e depois que seus camaradas de farda e de oficialato, Eurípedes Bezerra, Emílio Vieira, Sadock, Jan Buhaten e Braga, o convenceram, após intenso e demorado diálogo, a se entregar com a garantia do governador Eurico Ribeiro de que não sofreria retaliações e teria ampla liberdade de defesa.

Foi removido para o 24º Batalhão de Caçadores, onde ficou preso e só ganhou a liberdade no dia 11 de julho de 1956 graças a uma decisão do Tribunal de Justiça.

 

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