As metades que não cabem em mim | #DQ139

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Trilha: 

Metade do meu corpo te deseja como louco.

Desses loucos que chegam de surpresa e, em vez de rosas com perfume suave, trazem confusão e algum convite — impossível de ser aceito, mas mais impossível ainda de ser recusado — pra um destino que tu sequer darás ouvidos — e, mesmo assim, toparás. É a metade insana que vai te buscar, mesmo sem tanta grana. Vai brindar uma data tão especial, com copos descartáveis e corpos que prometem ser para sempre, ou pelo menos, naquele momento, um do outro. A metade que te pede é bem maior que a metade que te tem. A metade que te quer é tudo que há em mim e um pouco mais além.

Metade de mim odeia a metade que ama em ti. Metade de mim beija teu beijo, e a outra metade já se deu por inteiro. Metade quis te matar dentro do peito, mas não teve jeito. A tua metade venceu. Tua metade sangrou, mas seguiu viva dentro de mim. Verteu, sangrou tanto que lavou a metade que me vinga da metade que te quer. Morre em mim, que eu moro em ti. Deita o sono eterno, que dizem ser descanso pros justos, mas não pra ti. Logo tu, a metade injusta, que dizes ser metade — mas é mais tudo que outra coisa —e que mais se tem e menos se dá, não mereces esse descanso.

Há quem me dera, se tu tivesses a benevolência de ser menor que toda essa metade, que eu digo que tu és! Talvez sobrasse mais espaço pra eu me amar.

Há quem me dera, se a vida te tirasse de mim e me devolvesse à propriedade do meu corpo, dos meus pensamentos, dos meus sonhos!

Até deles, tu te apossaste!

 Que raiva tenho eu,

De toda parte que te ama,

Toda vez que tu me chamas e, em chamas, me dou, me vou, me sou!

Droga! Morre metade maldita, antes que tu sejas maior que minha vida!

Vive em mim a tua metade,

Mais que o resto que sobra a cada saudade, em cada partida.

#Espalheamorporaí <3 #DQ139

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A farsa dos que desistiram de amar|#DQ 120

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Trilha: 

 

Era uma vez é o começo de quase todo conto de fadas. O era uma vez é o primeiro passo de uma grande história, que, no fundo, salvo as tragédias shakespearianas, vai nos levar ao tão aguardado “felizes para sempre”. O fato é que muitos personagens na vida já começaram tantas vezes novos capítulos, que assumiram para si a farsa do: “Eu desisti do amor”.

As sucessivas e constantes frustrações minguaram a esperança de viver um grande amor. O problema é que, mesmo que esbravejem que desistiram de amar, ou que assumam pra si uma vida em que preterem amar, por trás desse conformismo pedante, há sempre fagulhas de um coração querendo estar apaixonado, sempre disposto e prestes a mergulhar numa próxima desventura amorosa. É que se, por fora, há milhares de motivos justapostos sendo expostos, por dentro, há milhões de desculpas e pretextos para recomeçar e acreditar novamente no amor.

Desacreditar no amor não é um privilégio dos fortes. Na verdade, sequer é um privilégio. Desacreditar no amor é desacreditar na vida. É deixar de ser surpresa e por ela ser surpreendida. É morrer muito antes da hora. É perder o sorriso da vida. Ainda que isso seja por uma piada mal contada, ou por uma rima mal cabida. Desacreditar no amor é a dúvida que, fatalmente, paira sobre as mentes mais inquietas e angustiadas. Ainda que a expressão dos que dizem desacreditar no amor seja sempre impávida, desistir do amor como forma de cura, ou por causa de algumas feridas, é até uma opção, mas nunca, -em hipótese alguma -uma saída.

 

#DQ120 #espalheamorporaí <3

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No amor, não há empate. |#DQ 119

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Trilha: 

Uma vez, ouvi que, se o amor fosse uma partida de futebol, o melhor resultado seria o empate. A ideia de que relações equilibradas são as que os dois se amam, numa equivalência harmônica, é ultrajante. A meritocracia é definitivamente a última coisa que se vê, e que se espera, nos relacionamentos amorosos.

Quem nunca amou, nunca se sacrificou ou nunca se doou a um amor, e nada recebeu em troca? Ou quem nunca foi amado gratuita e instantaneamente e, mesmo querendo, não conseguiu retribuir? A meritocracia é lenda na seara dos sentimentos. Amamos e somos amados por uma soma de equações distintas, em que o resultado é sempre dispare.

Há aqueles que amam com a capacidade de perdão. Há aqueles em que essa capacidade é condicionada à fidelidade. Traição é crime hediondo, inafiançável, capaz de ruir qualquer possibilidade de perdão. Há aqueles que amam com uma necessidade de pertencimento e outros, possessão. Há aqueles que amam amar o amor alheio. Esses são sempre levados pela intensidade do outro. Há, nessa infinidade indefinida de amores, desde os mais cômicos aos mais altruístas, dos mais devassos aos mais pessimistas, sempre um vencedor. Há sempre aquele que amará um pouco mais, ou no mínimo, de forma diferente. Mas nunca, em hipótese alguma, haverá empate ou amores iguais.

Na eletricidade, a tensão está intimamente ligada à corrente elétrica, porém,  pra que ela exista, é preciso que existam diferenças de potenciais. Se houvesse empate, não haveria diferença, muito menos tensão. Pessoas que se amam de formas iguais, terão fatalmente o mesmo limite e se anularão, com o passar do tempo. A diferença dos amores aumentará o seu potencial de sucesso e aumentará sua energia (Lê-se: intensidade). Em tempo: cargas diferentes não significam que são opostas. Afinal, nem todos os opostos se atraem.

 

#DQ119 #Espalheamorporaí <3

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Quando falta tempo, não sobra amor |#DQ 118

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TRILHA: 

 

Na frase “Quem ama tem pressa”, o sujeito certamente sou eu, desesperadamente apaixonado, nunca oculto, sempre presente e fazendo planos, meio inconsequentes, de um futuro mais que perfeito. A ideia de que falta tempo pra ver quem se gosta é sempre um motivo tão bom, quanto àquela velha desculpa que a gente dava, quando não fazia a atividade nos tempos de escola. A falta de tempo é, geralmente, reflexo da falta de interesse. Já a falta de interesse, por sua vez, é SEMPRE refletida na falta de tempo. Há sim aqueles dias em que a presença, apesar de muito quista, não seja possível. E, acredite se quiser, há dias em que a presença pode ser simplesmente dispensável.

É bem verdade que a ditadura do relógio em que vivo me obriga a estar cada vez menos disponível. Estou sempre atrasado para compromissos, reuniões, eventos e essas coisas do mundo adulto. Estou ali, cumprindo metas, horários e vendendo barato a única coisa que não posso comprar: o tempo. Nunca sobra tempo. E, quando sobra, falta disposição. Só para quando adoeço. Aí, sim, tudo que era prioridade passa a ser dispensável. Afinal, doença pede urgência, e com saúde não se brinca. Nessas horas, eu, que sou escravo do relógio, sequer percebo que o que cria tempo não é a prioridade, é a urgência. Prioridade tem a ver com ordem, urgência é necessidade.

Talvez alguém conheça, mas eu não consigo imaginar outro sentimento mais urgente que o de estar apaixonado. Paixão é a pressa mais desesperadora que somos capazes de sentir. A paixão é aquele sentimento que deforma a linha do tempo e que cria os tão escassos e —não menos esperados— momentos. Paixão é esse sentimento que urge dentro de nós, com uma paciência intempestiva. Paixão se dá em horários inapropriados, entre intervalos de almoço ou fugas em pleno expediente do trabalho. Paixão é adiar o que é prioridade e fazer da falta de tempo… mas, espera, que falta de tempo?

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A alergia de ser feliz |#DQ 117

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Trilha: 

 

Há uma filosofia de vida que prega aproveitar o dia ao máximo. Nela, o dia só é válido se, ao final dele, estivermos exauridos e, se for o caso, arrependidos do que fizemos, mas nunca do que deixamos de fazer. É uma filosofia interessante, do ponto de vista prático. Viver o hoje é sempre mais fácil e rápido que ter um plano em longo prazo, rumo à felicidade. Decerto que, pra falar a verdade, não há plano pra ser feliz. Até porque a felicidade, assim como tudo na vida, é questão de momento.

Nesse mundo de incertezas e repleto de “meias-verdades”, fatalmente existiria uma corrente contrária à essa, de aproveitar o máximo de hoje — Não, não estou falando dos procrastinadores. Falo do espécime mais intrigante dos tempos modernos: os alérgicos à felicidade. Parece loucura, mas há sim, gente contrária a ela. Há aqueles que não chegam a se ferir, pelo ao menos, não fisicamente. Mas não se negam à oportunidade de autossabotagem nos relacionamentos. Aqueles que, ao primeiro sinal de amor, somem. Que, ao primeiro sinal de que podem ser felizes hoje, adiam, desmarcam, visualizam e não respondem, inventam uma desculpa qualquer e se fecham, sob a couraça covarde do medo de ser feliz.

A Medicina explica a alergia como uma resposta exagerada do sistema imunológico. Exagero: talvez o maior calo de nossa atual geração. Somos sempre exageradamente demais. Ora somos felizes demais, ora tristes demais. Às vezes, hipocondríacos demais, ou mesmo vulneráveis demais. Não há um equilíbrio, tudo é sempre demais. E como tudo que é demais, sempre sobra, o que ficaria de fora? Fica a felicidade. Ficam vários sorrisos bobos e a monotonia de uma vida sem riscos. O certo é que, até onde se sabe, algumas alergias, talvez, o tempo mesmo cure. Já a felicidade, pode ser apenas um momento, pode ser apenas um instante. Mas pode ser que perdure.

#DQ117 #espalheamorporaí <3

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Mas era só mais um “filme” – DQ 116

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Trilha: 

Se no fim, a vida passa como o filme, no começo de todo grande amor, a gente se sente num trailer? Acho que sim: Um trailer de expectativas. É como ir ao cinema, pra ver aquele filme que você não tinha tanta fé que seria bom. Daí você, que sempre entra no momento exato em que o filme começa (porque detesta esperar), resolve entrar alguns minutos mais cedo e, de repente, entre trailers tediosos, o inesperado acontece. Você, que sequer sabia que gostava daquele gênero de filme, vê-se alucinado para o dia da estreia. Aquele filme, despretensioso, consegue conquistá-lo em pouco mais de dois minutos de trailer. Você pensa: “Se em dois minutos esse filme conseguiu me convencer, imagina em 90 ?”. Pronto. De repente, você está num frenesi de expectativas e tomado por ansiedade pra assistir logo ao filme completo.

Você foi assistir a um filme qualquer, mas se apaixonou por outro! E agora não vê a hora de chegar o dia da estreia. O tempo passa, o filme acaba e outros estreiam, mas nada leva sua expectativa, muito menos lhe diminui o desejo — que, a essa altura, já virou necessidade — em assistir. Pelo contrário, o tempo inflama sua vontade em assistir ao bendito filme por completo. Chega o dia da estreia. Bilhete comprado. Você chega duas horas antes. Não compra pipoca, porque não quer que nada o distraia da telona. Dessa vez, você faz o de sempre. Entra somente na hora do filme começar. Afinal, que trailer pode ser mais interessante que ver aquele filme?

O filme começa. A primeira cena você já viu no trailer. Linda, épica, genial. A segunda, você também viu, porque não se aguentou e foi a um site pirata, que vazou os primeiros minutos do filme. ESSE FILME É O MELHOR FILME DA MINHA… Espera aí! Esse filme parece com aquele a que assisti no mês passado – Comédia romântica é tudo igual mesmo! – Mas deve ser só essa cena. É já que o filme volta a ser interessante. Não dá pra fazer um filme 100% inédito e com cenas perfeitas do começo ao fim… O tempo passa. Ele vai chegando ao fim, e você, que estava esperando assistir ao melhor filme da vida, agora só quer um que seja decente. O que era expectativa vira decepção. O fim acontece. Previsível, triste e sem graça. Tipo esse texto que vai parecer que falei de você e o comparei ao filme. Vai parecer que é indireta, mas Deus me livre disso.

#DQ #espalheamorporaí 

 

 

 

 

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O amor é cócegas |#DQ 115

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Trilha: 

Desconheço outro sentimento mais capaz de nos fazer rir. Amor é frio na barriga. Amar é sentir a alma sorrir. Amor é tipo cócegas que, quando muito, fatalmente nos fará chorar. Mas quem negaria os sorrisos incontroláveis, ou mesmo trocaria a deliciosa angústia de rir até faltar o ar? Quem abortaria uma gargalhada pelo meio, só por medo de chorar ao fim? Quem suportaria uma vida sem riso, ainda que o pranto fosse tão certo quanto preciso? Meu amor, não chore. A vida só vale a pena porque acaba. É a finitude de tudo que há que dá sentido para as coisas que são. Que valeria uma vida infinita e livre de lágrimas, se não se tem a presença de sentimentos que nos apertem a barriga e afrouxem um riso temporário, ou uma alegria passageira?

O amor faz cócegas no peito, na barriga, na alma, nas vísceras. O amor faz umas cócegas que corroem e destroem toda e qualquer certeza. O amor fez cócegas na barriga do destino, riu da solidão, abraçou a melancolia e deu um beijo na depressão. O amor é serelepe. Desses tais sentimentos que não se acomodam em um só lugar. O amor é da cabeça aos pés, do pescoço às costas, da espinha à testa, nas costelas, no canto de trás da orelha, na mordida dos lábios, enquanto escorre o desejo. Amor é carinho na nuca ao final do beijo.

E quem disser que há amores sérios, compenetrados, que vestem toga e falam rebuscado, será que é mesmo amor ou será um contrato? Porque o amar não precisa de regência, norma culta e ortografia. O amar se faz com amor. E o amor, por si só, já é poesia. Amor só pode ser cócegas, porque não há espontaneidade maior que isso. Já vi alguns fingirem rir. Já vi alguns fingirem amar. Mas fingir que sentiu cócegas? Aí já é demais! Acho que não dá.

 

#Espalheamorporaí <3 #DQ115

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OS ESTRANHOS QUE SE AMARAM – #DQ114

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Trilha: 

 

Luísa, que era “Lu”, namorou Pedro que era “amor”. Luísa e Pedro eram o típico casal que só de olhar já se entendem. Nunca tiveram aquelas etapas quando se conhece alguém de: ficar sem assunto, nervoso, as mãos suarem e, constantemente, ficar com a sensação mútua de estarem falando só besteira um pro outro. Porque estranhamente até nas bobagens, eles se entendiam muito bem. No primeiro encontro, logo de cara, Luísa pediu uma limonada suíça, com duas ou quatro colheres de açúcar, nem uma, nem três. Pedro sorriu e perguntou o motivo daquilo. Luísa tem TOC e só gosta de números pares.Pedro ri – meio sem graça, mas não admite que também tem esse defeito. Ela não percebeu, mas Pedro chamou o garçom duas vezes, mesmo ele já tendo atendido desde a primeira.

Vem o segundo encontro e uma sensação gostosa, porém estranha, de que eles são velhos conhecidos. Luísa entra no carro e diz que não gosta da música. Tira do bolso um pen drive com suas músicas preferidas. Pedro detesta e critica o gosto musical dela. Eles sorriem, como se estivessem concordando. – EI, VOCÊS ESTÃO DISCORDANDO! Tirem esse sorriso bobo do rosto, vocês dois!
As horas voam e eles voltam, já planejando como será o próximo encontro. Pedro se aproxima da casa de Luísa e começa a andar mais devagar. Luísa entende e não liga. Por ela, eles paravam, só pra ganhar mais tempo. Eles chegam até à porta da casa. Ambos começam a inventar conversa, no afã de evitar o silêncio que precede a despedida. Pedro, em um rompante, finalmente beija Luísa, que consente. Eles sentem que o beijo parece um hábito e, por alguns instantes, esquecem que aquele foi o primeiro. Eles se despedem. Luísa tira as chaves do bolso e, antes de entrar em casa, novamente beija Pedro. Ela disse que não gosta mais de números pares. Ele sorri e diz que esse valeu por dois e, assim, agora foram três beijos, e não dois. Pedro beija novamente Luísa, e eles começam a trocar incontáveis beijos, até que Luísa o beija pela DÉCIMA OITAVA VEZ e corre pra dentro.

É difícil dizer quem tem o sorriso mais largo dos dois. Se juntá-los, deve dar uma duas voltas no mundo e ainda sobrar uns quilômetros para ir até Nárnia. Pedro chega à sua casa e, advinha quem já lhe mandou mensagem? Luísa. Eles conversam sobre tudo. Não saem sequer da janela um do outro. Madrugada adentra e ali estão eles: apaixonados e conhecendo detalhes que mais tarde vão querer esquecer, mas não vão conseguir. Eu queria poder alertá-los do perigo que correm, mas seria um crime, ou melhor, um pecado, privá-los dessas cicatrizes. O tempo passa e de causas “contranaturais”, toda aquela paixão se vai, todo aquele amor cessa e eles se afastam. A rotina muda, os amigos mudam, os planos mudam e até a playlist do carro muda. Pedro deixa de ser “amor” e volta a ser Pedro. Luísa deixa de ser Lu. E eles passam a ser desconhecidos um do outro. Apenas estranhos que já se amaram.

 

#DQ114 #espalheamorporaí

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AMAR EM TEMPOS DE GUERRA – #DQ 113

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Trilha:

 

E se amar fosse se render? E se amar fosse tão somente perder? E se amar fosse a mais torpe das derrotas, a mais vil das batalhas? Se amar fosse admitir um erro que não é seu? Se amar fosse primeiro vir “você” e depois vir o “eu”?

Fica complicado demais amar em tempos beligerantes, cuja ordem que impera é sempre a vitória, a todo e qualquer preço, desde quem precisa mais do outro até de quem liga primeiro. E, por uma má compreensão do que é maturidade sentimental, perderam todos os sentidos de amar, inclusive o principal. Perderam o tato em relações que não se tocam— só se chocam. Perderam a vista das necessidades alheias. Perderão mais por não saberem ouvir e, muito mais ainda, por não conseguirem sentir.

Esses protegem o peito com coletes à prova de amor. Colocam um capacete pra blindar qualquer pensamento de devoção, ou mesmo de pertencimento, que possa lhe causar dor. Vestem-se, camuflam e se escondem ao ver qualquer rastro de ataque sentimental contra suas fortalezas amorosas.

Mas, graças a Deus, mesmo em meio à guerra, existem aqueles que se rendem ao primeiro soar de trombeta bélica. Desistem desse combate, tão desnecessário quanto desgastante, e sucumbem antes do confronto – Mas que confronto? Achar que é sucumbência colocar o outro primeiro é prova cabal e irrefutável de nosso erro. Quando foi que nós deixamos o amor virar uma guerra ideológica? E nossos sentimentos serem minados, por medo de parecer pro outro que é vulnerável? A troca parece justa? Acho que não. Uma paz sem riso, não é paz: é solidão.

 

#Espalheamorporai #DQ113

 

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Duvido que ela volte |#DQ 112

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Trilha: 

 

Chego à minha casa. Viro as chaves. Abro a porta e a TV está ligada – deve haver alguém assistindo – Não. Eu moro sozinho, sou sozinho. Há uma cadeira com roupas sujas e uma confusão ali, no que era pra ser a minha pia de louças. Talvez essa bagunça incomode quando eu receber a visita – Que visita? – Eu moro sozinho, eu sou sozinho. Tiro os sapatos. Jogo a camisa em cima da cadeira, que parece chegar ao seu limite e… despenca. Roupas sujas no chão – droga! Alguém pode reclamar que, mais uma vez, deixei as roupas caírem? – Quem? Não há quem reclame, eu sou sozinho. Ouço a campainha tocar. A essa hora, deve ser alguém com preguiça de cozinhar, pelo menos eu ganho companhia – Não é ninguém, repito. Eu sou sozinho.

 

Moramos eu e a solidão. Até as companhias frívolas, eu deixei de procurar. Até o tédio, cansou-se de me visitar. Fico aqui, entre os escombros e as ruínas de uma recém e dolorosa separação.Tá, já faz mais tempo que estou solteiro que o tempo que passei junto. E daí? Ela precisou de 5 meses pra fazer com que eu vivesse o que não vivi em 32 anos de “relacionamentos maduros”. Logo eu, rei da sensatez! Deixei-me perder por aquele par de olhos castanhos, sorriso frouxo e juízo imperfeito. Fui levado por aquele olhar que atira qualquer sensatez a quilômetros de distância, propondo uma vida marginal entre os porões das relações infortunas. Dessas que a gente sabe que não darão certo que, talvez, vocês sequer sobrevivam ao próximo beijo, ainda que ele seja taticamente prometido no amanhã. Mas que amanhã? Pra ela, o amanhã é tão virtual quanto o ontem. Pra ela, isso é estar vivo. Pra mim, era o ópio.

 

O meu lado sensato, ela engoliu, assim como um faminto devora um prato de comida. Eu, que já estava entregue à libertinagem deliciosa que sua vida descabida propunha, vi-me ser escarrado cruelmente, com um beijo no rosto. Era o fim daquela relação desafortunada. E, por ironia sarcástica do destino, o começo de minha derrocada.
Deixei a roupa acumular, a barba por fazer e parei a vida, na esperança disso chamá-la de volta. Chamá-la: Ela ou a vida? Tanto faz. Sem uma delas, a outra já está perdida.

 

#DQ111 #espalheamorporaí <3

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