Adeus a “tio” Daniel

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Gostaria de falar hoje sobre um homem simples, um cidadão correto, um empresário honrado, um amigo leal, um marido e pai de família dedicado. Quero falar de um cearense que se fez maranhense pelo trabalho. Maranhencidade essa que tive a honra de sacramentar ao entregar a ele e a seus irmãos o título outorgado pela Assembleia Legislativa do Maranhão em 2009, quando eu ainda era deputado estadual.

Entre as coisas que herdei de meu pai, veio o respeito e admiração que tinha e continuarei a ter por esse homem.

Falo de Daniel Aragão. Falo de meu “tio” Daniel, pois era assim que o chamávamos, porque ele era como se fosse verdadeiramente um irmão para meu pai.

Nascido em 28 de fevereiro de 1929, na Serra da Meruóca, no Sítio Bom Jesus, Distrito de Sobral, nos “Estados Unidos do” Ceará, filho de Maria dos Anjos Aragão e Pedro Celestino de Albuquerque, Daniel, foi em vida, o que se poderia chamar de um homem realizado.

Cursou o primário em escolas públicas na região da Serra da Meruóca até que seus pais transferiram-se para Sobral, visando proporcionar aos filhos uma melhor educação.

Lembro quem possa ter esquecido e digo aos que não saibam que Meruóca foi o nome escolhido por meu pai para batizar uma loja, um armazém, uma espécie de atacado que funcionava 24 horas por dia, ali no João Paulo, que pertencia aos dois, Nagib Haickel e Daniel Aragão.

Pois bem, Daniel concluiu o ginásio na Escola Técnica de Comércio Dom José, em 1948. Mesmo antes de concluir seus estudos, já trabalhava em loja de tecidos e armazém de exportação de cera de carnaúba.

Em janeiro de 1949, mais precisamente no dia 7, atendendo ao chamado de seu irmão Pompílio Albuquerque, que desde 1946 já residia em São Luís, Daniel chegava ao Maranhão. Na bagagem apenas a saudade e os valores éticos e morais que lhes foram transmitidos por seus pais ao longo de sua vida.

Por aqui começou trabalhando em um escritório de representação, consignação e redespacho, chamado B.J.Soares, até que, em junho de 1952 adquiriu, de Marcos Gandesman o acervo da Colchoaria Imperatriz.

Já no ano seguinte, com o objetivo de expandir suas atividades, fundou a D.Aragão, indústria de fabricação de colchões de palha, malva e molas, que viria a ser precursora de todo o grupo empresarial do qual faz parte.

O espírito empreendedor de Daniel fez com que, em janeiro de 1957, se associasse a seus irmãos Pompílio e Fernando Albuquerque, passando a empresa a se chamar D. Aragão e Cia Ltda.

Inovou comprando novos equipamentos elétricos para a fabricação em série dos Colchões de Mola, até então fabricados manualmente.

Trabalho, dedicação, união e perseverança foram ingredientes que, certamente, contribuíram para o crescimento da sociedade, o que obrigou, em 1969, o desmembramento da parte industrial da empresa, surgindo, em fevereiro de 1970, a Indústria Dalban Ltda, ficando a D.Aragão e Cia Ltda – Movelaria Imperatriz, responsável somente pela parte comercial, com uma ampla loja de móveis e eletrodomésticos, enquanto a Indústria Dalban Ltda instalada em prédio próprio, no Outeiro da Cruz, fabricava móveis residenciais, escolares e colchões.

A segunda geração da família passa a integrar a sociedade, com a admissão do sócio Roberto Reis de Albuquerque, que no futuro se revelaria uma importante mola propulsora nos negócios do grupo. Sandra, Keila e Daniel Filho, filhos de Daniel, e Fernanda, filha de Fernando, também vieram compor a sociedade.

Em 1992 foi inaugurada a Dalban Indústrias Reunidas S/A e em 1994 a Dalban Nordeste, situada na cidade de Recife.

A nova conjuntura econômica nacional apontava para a necessidade de diversificar as atividades empresariais de Daniel e de seus sócios, e, em 1995, surgiu a Dalcar – Concessionária Chevrolet classificada como uma das melhores concessionárias General Motors no Brasil.

Aqui, mais uma vez o destino juntou Nagib e Daniel, mesmo que indiretamente. Eu, meu pai e alguns amigos havíamos implantado em São Luís a Jacumã Veículos, então a segunda concessionária General Motors da cidade e queríamos sair do setor e nos concentrarmos na radiodifusão. Tempos depois a Jacumã se transformaria em Dalcar sob a batuta de “tio” Daniel.

Daniel foi um empresário sempre engajado em entidades de classe, sendo rotariano, diretor e atualmente conselheiro da Associação Comercial do Maranhão, conselheiro e sócio fundador da Câmara de Dirigentes Lojistas de São Luís.

O segredo do sucesso profissional de Daniel, que deixou sua terra de nascimento há mais de 50 anos para ajudar a gerar riquezas no Maranhão, é certamente muito trabalho e uma vida familiar feliz, tranqüila, edificada com sua Oneide, mulher de rara sabedoria, que ajudou a educar seus seis filhos: Ivana, Gerviz, Sandra, Keila, Daniel Filho e Glenda, a quem ensinaram, juntos, a não temerem a vida, pois o sucesso vem naturalmente dos estudos, que são herança que não se esvai com o tempo, nem tampouco com as adversidades do dia-a-dia.

No último dia 23 de agosto, aos 82 anos de idade e em pleno expediente de trabalho, Daniel sofreu um grave AVC, do qual veio a falecer dois dias depois, mas até na morte deu exemplo. Como meu pai, seu “irmão”, morreu fazendo uma das coisas que mais gostava, morreu trabalhando.

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