Convite a volta da Guerra Fria

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Corpo de funcionário de escola morto em bombardeio em Donetsk, na Ucrânia 25/02/2022 REUTERS/Alexander Ermochenko

Impossível não comentar sobre o assunto mais importante do momento. A invasão da Ucrânia pela Rússia.

Essa ação já estava prevista desde que os russos anexaram a rica e estratégica região da Criméia a seu território.

Aquele sempre foi um território conflagrado. A primeira vez que ouvi falar sobre aqueles lugares, eu ainda era um menino de uns 12 anos. Assisti a um filme chamado “A carga da brigada ligeira”, reconstituição da batalha de Balaclava, na guerra da Crimeia, travada de um lado, por vários países, entre eles o Reino Unido, comandado pela rainha Vitória, e do outro pela Rússia, comandada por seu parente distante, Nicolau I.

O território que hoje é a Ucrânia, naquela época fazia parte do império russo. Kiev, capital ucraniana, sempre foi uma das mais importantes cidades nos domínios dos czares.

De lá para cá, muitas coisas aconteceram. Os bolcheviques derrubaram os Romanov do poder e criaram a União Soviética; A queda do muro de Berlin precipitou o fim da carcomida estrutura comunista no gigantesco país, dividindo-o em uma dúzia de estados independentes; A reorganização da Rússia trouxe de volta o que sempre existiu por lá, um governo comandado por um autocrata, que agora tenta expandir novamente a área de influência do país.

Criada em 1991, a Ucrânia, a princípio ficou restrita ao círculo de poder de Moscou. Aconteceram mudanças políticas internas e o país buscou se aproximar de outras nações, tentando inclusive, fazer parte da Otan, organização militar que congrega democracias ocidentais.

Putin, o autocrata russo, há muito vem reclamando do avanço da área de influência ocidental no leste europeu, mas isso não lhe dá o direito de invadir um país soberano, com o qual ele tinha um tratado de não agressão.

A narrativa putiana é até plausível, mas completamente inaceitável, pois deixou o âmbito das palavras e passou ao âmbito das ações bélicas, causando transtorno e prejuízo para a economia mundial, morte à população civil do país vizinho e grave risco à paz internacional.

A invasão da Ucrânia pela Rússia é inaceitável! Tanto quanto seria se Putin resolvesse invadir a Polônia, ou a Suécia, ou a Finlândia! Ninguém iria aceitar isso, não é mesmo!?…

No caso de uma eventual invasão da Estônia, da Letônia ou da Lituânia, já não tenho tanta certeza assim. Digo isto pelo que foi visto em relação ao acontecido na Ucrânia, pois estes países saíram de dentro da antiga União Soviética.

Esta semana lembrei que tiranos como Ricardo III só frutificam quando a terra é adubada por sangue fraco como o de Henrique VI. É exatamente isto o que está acontecendo.

Os atuais líderes mundiais são fracos. Não que eles precisassem ser aguerridos ou viscerais, mas que fossem pelo menos fortes, taxativos e positivos. Não precisavam ser como o velho Churchill, mas teriam que ser pelo menos a metade do que era a velha Thatcher. Não precisariam ser como o enérgico cadeirante Roosevelt, mas deveriam chegar a igualar pelo menos a metade de um Reagan.

A falta de pessoas como as citadas, cria a oportunidade para o aparecimento de pessoas como Putin.

Alguém poderia argumentar que, do ponto de vista russo, ele tem de motivos para agir como o faz, ao que eu discordaria peremptoriamente, pois os métodos utilizados são completamente inadmissíveis.

Ele poderia usar outros caminhos para atingir seus objetivos, e até eu que sou pouco versado em geopolítica daquela região poderia citar alguns, como a suspensão do fornecimento de gás e petróleo para os países da Europa, o que geraria uma crise internacional, subindo enormemente os preços de tudo no mundo. Ou o bloqueio naval e aéreo da Ucrânia, como os países ocidentais fazem constantemente em suas disputas.

O que acontece em meu modesto entendimento, é que Putin se imagina no pátio do colégio e seus colegas, na hora do recreio, demonstram ser mais fracos que ele. Sendo ele o valentão da escola, se torna um Golias, o dominador, mas só até que apareça um Davi que o derrube.

Ocorre que as guerras não se travam mais com espadas, lanças ou fundas, mas com sofisticados armamentos, inclusive nucleares, e o medo de uma conflagração maior toma conta do mundo.

Na verdade, o que o velho espião da KGB, hoje feito czar moderno de todas as Rússias quer, é convidar os fracos líderes mundiais, para dançar com ele uma Chechotka, dança típica de seu país, ou seja, levá-los de volta ao tempo da Guerra Fria, onde cada um dos lados não se destruíam por temer que o outro revidasse fazendo o mesmo consigo.

O que tanto o déspota quanto os fracos dessa cena parecem não se lembrar, é que entre 1945 e 1990, enquanto o equilíbrio mundial, entre a Águia e o Urso, foi costurado pela torpe linha do medo, o Dragão estava adormecido, mas agora ele está desperto e pode desequilibrar essa balança, e certamente o fará.

No mundo moderno é inconcebível e inaceitável que possa haver disputas territoriais. Nem a Rússia, nem a China, nem os Estados Unidos ou qualquer outra potência mundial precisa de terras. A Ucrânia pode ser importante para a Rússia como área de segurança, assim como Twain para a China e Cuba para os Estados Unidos, mas isso não quer dizer que esses poderosos países precisem invadir, subjugar e destruir seus vizinhos.

Sempre acreditei em soluções diplomáticas e pacíficas para toda espécie de conflito, até porque aprendi com o mestre Sun-Tzu que líder que precisa usar efetivamente seu exército, já perdeu a guerra.

1 comentário para "Convite a volta da Guerra Fria"


  1. João de Souza Ferreira

    … Guerra fria essa, que se vacilar só um pouquinho… vira guerra quente, bem quente… à base de bombas atômicas !!!

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