O Azarão

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Em tempos mais distantes, a palavra azarão era largamente utilizada no jargão do turfe.

De todos os Grandes Prêmios realizados nos diversos hipódromos brasileiros, o Grande Prêmio Brasil, realizado no mês de agosto, tornou-se a prova de maior expressão do turfe nacional, além de ser conhecida mundialmente.

No hipódromo da Gávea, os grandes prêmios do Jockey Club do Brasil atraíam verdadeiras multidões. A alta classe social abarrotava as arquibancadas e as mulheres elegantes aproveitavam a oportunidade para desfilar os seus elegantes chapéus londrinos. Homens e mulheres do high society desfilavam suas roupas mais elegantes e a grande maioria aproveitava para fazer uma “fezinha” desde que foi instituído o Sweepstake, a famosa loteria, que tanto sucesso havia alcançado na Europa.

A imprensa especializada sempre destacava os prováveis vencedores, assim como selecionava alguns, que, devido ao baixo rendimento nos treinos e ao histórico de participações anteriores, tinham remotas chances de vencer o páreo. Esses cavalos eram classificados como azarão. Quem apostasse, portanto, no azarão teria grandes chances de multiplicar suas apostas e ganhar uma fortuna.

Nos dias de hoje, azarão é aquele que azara. O dicionário Aurélio define azarar como sendo o mesmo que cortejar, paquerar.

Por falar em “azaração”, lembro-me de um episódio ocorrido em Pinheiro, com um parente meu chamado Deusdedit Leite. Tabelião do Cartório de Notas e Ofício, com algumas pontes de safena no coração e proibido de fumar pelos médicos, Deusdedit acabou por ganhar muitos quilos e armazená-los, principalmente na região do abdome, fazendo com que os botões de suas camisas teimassem sempre em sair de suas respectivas casas, destacando sua proeminente barriga.

Muito espirituoso, cheio de tiradas e sem nunca ter perdido a fama de paquerador, Deusdedit era habitué do jogo de dominó que, ainda hoje, é praticado no Posto de Táxi da Praça José Sarney em frente à Prefeitura de Pinheiro.

O local era passagem obrigatória das mocinhas que, ao término das aulas noturnas do Colégio Pinheirense, retornavam para suas casas e eram constantemente objeto de galanteios e gracejos.

Certa noite, acompanhado de seu primo, o ex-deputado Jurandy Leite, Deusdedit caminhava pela calçada da Prefeitura, no rumo de casa, quando foi ultrapassado por um grupo de moiçolas, destacando-se, dentre elas, uma moreninha de saia curta e pernas roliças. Toda desinibida, ela “tomou gosto” com ele, passando a mão e acariciando aquela proeminente barriga:

– E aí, seu Deusdedit! Quando é que vai nascer o neném?

Ao que ele, de pronto e sem perder a pose, respondeu:

– Quando vai nascer eu não sei, mas que ele já está com o bracinho de fora isso eu tenho certeza…

E Jurandy, que o acompanhava de perto, acrescentou:

–  E a julgar pelo tamanho do braço, deve ser um meninão!!!

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