O babaçu e os franceses

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babacuparte4.jpg                                                                                        (parte 3)

No final da década de trinta do século passado, o Jornal Cidade de Pinheiro registrava a instalação da fábrica francesa para exploração do babaçu nas imediações da Chapada, a cerca de 22 km da sede do município, na localidade Providência. As atividades foram iniciadas em 21 de fevereiro de 1929.

A chegada dos franceses agitou não só a pacata cidade de Pinheiro, mas sobretudo os moradores dos povoados vizinhos. Os caboclos, curiosos, não entendiam nada do que ouviam da boca daqueles estrangeiros brancos, vermelhos até, de tanto sol e calor, enquanto as nativas se encantavam com os olhos azuis dos visitantes.

Dotada de todo o aparelhamento necessário, esta unidade de produção previa a geração de cerca de 300 postos de trabalho, aproveitando a mão-de-obra local para as atividades de coleta, transporte e movimentação da matéria prima. A administração e as etapas mais sofisticadas do processo ficavam a cargo dos técnicos franceses.

O prof. Jerônimo de Viveiros, em um de seus artigos da série Quadros da Vida Pinheirense, destacava as etapas de carbonização e destilação, até então desconhecidas:

“Carbonização: Para a carbonização, a usina possui um forno de tijolos refratários com quatro divisões, incomunicáveis entre si, o qual recebe uma cuba de ferro com 625 Kg de casca. A duração da etapa de carbonização é de 6 horas. Em média, uma cuba produz 145 Kg de carvão em pedaços, 20 Kg de carvão em pó, 300 litros de pirolenhoso e 40 Kg de alcatrão. O carvão fica na cuba e o alcatrão se condensa. O pirolenhoso é recolhido em um depósito diferente do alcatrão e, finalmente, os gases incondensáveis, entre os quais figuram a anitrite carbônica, o óxido carbônico, o hidrogênio, o metano, o etileno, o acetileno e vários outros carburetos dotados de alto poder carbonizante, são aproveitados no aquecimento da cuba. A condensação do pirolenhoso é feita por um método especial, invenção dos químicos da empresa, na qual a base é o creosoto.

Destilação: O pirolenhoso, misturado com o creosoto, é levado por meio de encanamentos aos cilindros de destilação. É usado o método clássico por aquecimento para a separação do ácido acético, que é obtido primeiro com 40% e depois com 80% de pureza.”

Durante cerca de dois anos, a fábrica funcionou a pleno vapor, comercializando sua produção, despachada do Porto do Una, nas margens do rio Pericumã, para os mercados de São Luís e Belém do Pará, bem como fazendo as exportações através das Casas de Hamburgo.

Lamentavelmente, em 25 de julho de 1931, um acidente ocorreu durante a fase de teste de um equipamento para purificação do ácido acético. Um incontrolável incêndio seguido de explosões causou a morte de inúmeros operários e com grande quantidade de queimados.

Até hoje são lembrados relatos de algumas pessoas que trabalhavam na fábrica. Contam que pedaços de metais retorcidos foram encontrados a mais de 500m do local, comprovando a magnitude do desastre.

Sem noção da importância histórica que a Usina Providência representava, os moradores do local saquearam tudo o que puderam levar. Há registros de que os equipamentos e peças de maior porte foram adquiridas pelos comerciantes de Pinheiro para adaptarem a suas instalações.

Com a ocorrência desse acidente, a Usina Providência foi desativada, desfazendo-se o sonho de industrialização de Pinheiro.

Atualmente, o que ainda restou desse empreendimento são as caboclas bonitas de olhos azuis da Ponta Branca, povoado nas imediações da fábrica Providência, descendentes daqueles franceses que vieram para participar da implantação e operação da Usina.

Tempos depois, coube a um pinheirense, o empresário José Santos, descendente de tradicional família portuguesa, a segunda tentativa de industrialização do coco babaçu em Pinheiro, quando da implantação da COPISA.

Esta fábrica, com capacidade de extração de 18 mil litros/dia de óleo, iniciou suas atividades no início da década de 70. No entanto, assim como tantas outras que não acompanharam o processo de evolução tecnológica, acabou sendo desativada dez anos depois.

Enquanto o processo de beneficiamento do coco babaçu não evoluir a ponto de torná-lo competitivo, vou acabar me rendendo a teoria de meu amigo José Benedito: vou começar a interagir com o babaçu a fim de promover seu enriquecimento quântico, na esperança de que o babaçu “enquantado” possa vir a ser a salvação da lavoura do Maranhão!
 

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