Ditados populares.

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Numa roda de amigos, o assunto do momento era a grave crise financeira que acabara de ser anunciada e abalava os mercados mundo afora.

Genivaldo, um dos entendidos do mercado de capitais, impostava a voz para dizer:

– “Não há bem que sempre dure e nem mal que não se acabe”.

Bertoldo, por sua vez, lembrava a todos que a situação atual era “escarrada e cuspida” à grande crise de 1929.

Dando um trago no chopp e sempre atento à conversa, Genivaldo, o mais erudito da turma, fez uma pequena correção:
– “Em Carrara esculpido!” – É esse o ditado. Lembrando que na Roma antiga era utilizado dessa forma para descrever uma obra esculpida em mármore de Carrara semelhante ao modelo.

– Em momentos iguais a este, “onça que dorme vira tapete!” – É bom ficar atento, teria comentado o vizinho da mesa ao lado.

Genivaldo, com seu ar professoral, comentou que a especulação financeira faz jus ao ditado popular “sorte de uns, azar de outros”.

– “A dor ensina a gemer”, gente! Suspirou o Ramiro, o mais triste de todos. – Imagina a minha situação. Desempregado há muito tempo e vivendo às custas da “patroa”, me empolguei e apliquei a grana toda da minha mulher numas ações que um amigo me recomendou! Perdi quase todo o dinheiro dela nessa ciranda financeira! Meu avô, que vivia pedindo a Deus para lhe dar “paciência e um pano para embrulhá-la”, se vivo estivesse, estaria a me dizer: Meu filho, “Boca do ambicioso só se fecha com terra de sepultura”.

Um outro colega ao lado, soltou ainda esta pérola para animá-lo: – “azar no jogo sorte no amor”, rapaz ! – E, digo mais ainda, não adianta se apavorar. Tenha calma! Afinal de contas, “cautela, água benta e canja de galinha nunca fizeram mal a ninguém”.

A conversa rolou animada, cada qual filosofando sobre a crise, até que, tarde da noite, a mesa foi desfeita. Pediram conta e cada um retornou para a sua casa.

Ramiro, preocupado e tentando encontrar uma explicação para a mulher quando chegasse em casa, estava muito tenso. Pensava consigo mesmo: “É hoje que a cobra vai fumar”. Afinal, já tinha aprontado algumas anteriormente  e como “gato escaldado tem medo de água fria”, sabia que a mulher iria lhe cobrar muitas explicações. Dito e feito. Chegando em casa “mais macio que doce de batata” logo percebeu que a mulher já sabia de tudo. Ela estava uma fera!

– Tu bem sabias, Ramiro, que “dinheiro não traz felicidade, mas ajuda muito!” – Bem que a vizinha vivia me dizendo para eu abrir os olhos, mas como “o corno é sempre o último a saber”… eu aqui ficava pensando que meu dinheiro estava repousando seguro numa caderneta de poupança e tu especulando com a minha grana! Desse jeito Ramiro, a gente vai acabar ficando “sem eira nem beira!”

A vizinha, acordada no meio da discussão, tentou acalmar a briga e ainda levou logo um chega pra lá:

– Não te mete no que não te diz respeito, “em briga de marido e mulher não se mete a colher”. E virando-se para o marido disparou desolada: “pau que nasce torto, não tem jeito, morre torto!”

Ramiro ainda tentou argumentar dizendo à mulher que “macaco só vê o rabo do outro…”, ao que ela retrucou de pronto:
– Tu vais ter ainda que me escutar! – E te calas porque tu não tens razão! “Quando um burro fala, o outro murcha a orelha” soltou furiosa a mulher.

Como “manda quem pode, obedece quem tem juízo”, Ramiro decidiu “recolher o trem”.

Desolado, foi dormir na sala. Refletiu bastante e resolveu adotar uma nova postura daí em diante. Como “quem morre de véspera é peru de Natal” e adotando a máxima de que “quem quer vai, quem não quer manda”, acordou cedo disposto a encontrar um emprego e recuperar o prejuízo. Iria “arregaçar as mangas” e partir em busca de novas oportunidades para reaver a grana lembrando-se que “quem procura sempre acha, se não um prego uma tacha”.

Decidiu esquecer a discussão da noite anterior, lembrando-se de que “tristeza não paga dívidas”.

No café da manhã, chamando-a de querida, ainda tentou fazer as pazes com a mulher, lembrando a ela que “roupa suja se lava em casa” e saiu de casa disposto a ser um novo homem.

Afinal de contas, “é errando que se aprende”, filosofou Ramiro.

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