O mês de junho

3comentários

festa-junina1.jpg

Junho chegou.

Para uns começou o verão. Os ventos alísios que vem do sul sopram e, com eles, os papagaios e as curicas serpenteiam no ar tingindo de cores vivas os céus da ilha de São Luís.

Lembro-me de que quando criança, tão logo as águas do Pericumã começavam a baixar, meu pai recolhia as tabocas e sentava-se ao meu lado ensinando-me a fazer os papagaios. Mandava-me na quitanda ao lado comprar o papel de seda. Cortávamos os talos da taboca e com uma pequena lâmina improvisada, feita das fitas metálicas que amarravam os fardos de algodão, raspávamos os talos até ficarem completamente roliços e polidos.

Enquanto ele cortava o papel eu me encarregava de fazer o grude utilizando um pouco de Maizena. Catava na vizinhança os vidros mais finos e moía até virarem talco. Meu pai, com a paciência que lhe era peculiar, empenhava-se em construir diferentes  modelos: Os papagaios, com suas duas talas horizontais estampavam sempre os mais variados desenhos e cores eram os primeiros a serem confeccionados. Adornados com rabos longos e elaborados com capricho ganhavam vida e equilíbrio com as bolinhas de algodão simetricamente distribuídas. A arraia e a jamanta, esta de tamanho avantajado (que somente os adultos tinham força para empiná-las), tinham apenas uma tala eram desprovidas de rabos. Com o resto do material nós fazíamos as curicas, assim chamadas por serem feitas sem grande esmero.

Os novelos de linha eram cuidadosamente desenrolados e o grude era agregado ao pó de vidro transformando-se no cerol. Uma vez aplicado ao longo de toda a linha, esperávamos, ansiosos que secasse por completo para em seguida enrolar novamente, desta feita, num carretel de linha esterlina.

Devidamente equipado, com dois ou três papagaios debaixo do braço, eu disparava no rumo da beirada dos campos. Passava horas e horas com meus amigos, empinando e lanceando os papagaios, na disputa para saber qual deles reinaria sozinho nos límpidos céus ensolarados de Pinheiro. A gente não podia descuidar… De repente, como que num piscar de olhos, aparecia lá bem de longe, num vôo rasante, um papagaio inimigo ameaçando o nosso espaço aéreo. O lema dos escoteiros (sempre alerta!) nos ajudava bastante.

De volta para casa, radiante, (com muitos papagaios debaixo do braço) ou triste (sem nenhum deles), por mais que tentasse explicar que estava estudando, minha mãe não acreditava. Também pudera! Mais suado que tampa de chaleira, com o rosto em brasa e o nariz de pimentão…

Mas hoje os tempos são outros. O verão continua castigado pelas chuvas e aqueles papagaios de outrora ainda estão por esperar um bom tempo. Atualmente, neste cenário de crise, tem muita gente empinando papagaios. Desta feita, junto às instituições financeiras.

No entanto, para outros, é tempo de se fazer presente nos batizados dos Bois percorrendo os circuitos da capital. Os pandeirões e matracas começam a soar noite adentro e a temporada das festas começou. Antigamente, os Bois só dançavam no período compreendido entre o batizado e a morte. Nos dias de hoje, penso que a tecnologia avançou a tal ponto de ressuscitar Boi. Pois tem Boi dançando durante o ano inteiro…

Há pouco mais de 20 anos, o Arraial de Santo Antonio era um dos mais concorridos de São Luís. José Raposo cedia os espaços de sua bela casa no Olho d´Água e as mais renomadas brincadeiras eram convidadas para ali se apresentarem. A quadra era enfeitada e todos os espaços se enchiam de alegria. Muita música, quadrilhas improvisadas, comidas e bebidas típicas, crianças, “gente grande”, tudo, enfim, contribuía para grandes noitadas.

Nesse ano, José Sarney, então presidente da República, havia confirmado sua presença. A organização da Festa contratou os principais Bois para ali se apresentarem: Boi de Axixá, Morros, Maracanã, Fé em Deus, Pindaré, Maioba, entre tantos.

A esse tempo, minha amiga Flor de Maria estava montando pela primeira vez o Boi de orquestra de Pinheiro.

Aproveitando as sobras das fantasias da Escola de Samba Unidos de Alcântara (bairro da cidade) Flor de Maria preparou com muita dificuldade e com um carinho maior ainda a brincadeira. Como eu participava da Comissão organizadora da Festa, exigi a presença do Boi de Pinheiro. Acabei vencendo a resistência dos demais membros da Comissão, que não admitiam a presença de um Boi desconhecido. O Boi de Pinheiro, então, foi aceito com a condição de ser o primeiro a dançar no terreiro.

Com a presença do presidente da República na Festa, os espaços ficaram pequenos para tanta gente.

Ao ser anunciada a chegada do Boi proveniente da cidade de Pinheiro poucos se mostraram interessados em vê-lo. No entanto, José Sarney ao tomar conhecimento do início da apresentação, levantou-se e caminhou para a Arena levando consigo um séquito de supostos admiradores da brincadeira vinda da cidade natal do presidente.

Minutos depois, o presidente identificando-me do outro lado do terreiro, fez sinal para que eu fosse até ele. Sentindo-me todo orgulhoso, aproximei-me do presidente que murmurou ao meu ouvido:

− Zé Jorge! Bota esse boi no pasto…

Ao que de pronto respondi:

 − Mas presidente, ainda não é um boi, é apenas um bezerro…

Hoje, duas décadas depois, o bezerro cresceu e transformou-se num dos Bois mais requisitados da Baixada fazendo bonito e enchendo de alegria, por onde passa, todos os Arraiais do Maranhão.

3 comentários para "O mês de junho"


  1. João Rafael

    E apesar da minha quase nula participação na “vida” desse Boi, que desde quando nasci esteve atrelado á minha vida e que cresceu junto comigo, sinto-me orgulhoso de fazer parte da história desse Boi.Mesmo pequeno e sem saber o que se passava o vi surgir com toda dificuldade, carinho e disposição de todos que apoiaram a idéia e ajudaram a “parir” este até então bezerro.De uma vontade e humildade tremendas fez-se surgir a brincadeira, que com o passar dos anos cresceu, evoluiu e tornou-se uma das principais brincadeiras folclóricas do Maranhão, que leva o nome da Baixada e mais especificamente de Pinheiro por onde passa, sem perder o amor e a humildade dos tempos em que surgiu.Me orgulho tremendamente de poder fazer parte disso tudo, e como filho da criadora do Boi representar as maravilhas de Pinheiro por onde passamos através da brincadeira.

  2. PEDRO LOBATO

    SERÁ QUE AGORA COM A CRIAÇÃO DO MINISTERIO DA PESCA E AQUICULTURA E APROVAÇÃO DA LEI GERAL DA PESCA A GOVERNADORA ROSEANA SARNEY IRÁ CUMPRIR COMPROMISSO DE CAMPANHA E CRIAR A SECRETARIA ESTADUAL DE PESCA E AQUICULTURA

    É VER PRA CRER

  3. SOLANGE

    Esse Pedro é sem assunto até em blog!!

    Te atualiza meu querido! O blog do Dr José Jorge não é para fazer cobranças e nem chorar lamúrias rsrsrrssrrsrsrsrs. E se for cobrar por cumprir compromissos de campanha o teu LIBERTADOR não cumpriu nenhuma. O que fez, foi roubar e não fazer nada pelo Maranhão.

    Teu tempo já passou… te conforma!!

    Até mais

deixe seu comentário

Twitter Facebook RSS