Missa de ação de graças

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Passadas as agruras do período eleitoral, os candidatos derrotados buscam explicação para o fraco desempenho nas urnas. Em vez de fazerem uma análise crítica de suas propostas, ações e comportamentos, reclamam dos adversários (que gastaram rios de dinheiro…), dizem que foram traídos e em muitos casos põem a culpa até nos eleitores.

Em contra partida, os vitoriosos confraternizam-se com amigos e familiares pelo resultado das urnas. A maioria reúne-se em torno da mesa. Carne, pão e vinho à vontade para todos. Outros buscam o teto das igrejas para agradecerem a Deus a fartura dos votos a eles confiados.

Neste sábado último participei de uma missa encomendada por um deputado federal eleito, para reunir, sob o teto de uma singela capelinha, seus amigos mais chegados, familiares e colaboradores.

Cerimônia simples e depoimentos carregados de emoção fizeram-me compreender que ainda vale a pena ser político. Sobretudo quando as idéias defendidas com sinceridade, coerência e atitudes nobres, se transformam em algo concreto. E são reconhecidas pelos eleitores que, no dia da eleição, saem de casa com o pensamento voltado para o seu candidato a fim de depositar não somente o voto, mas ratificar a confiança em seu representante.

Confesso que ultimamente não tenho freqüentado, como devia, os bancos das capelas e fiquei um tanto quanto surpreso ao presenciar o engajamento forte da Igreja frente aos temas sociais. O padre foi enfático ao tentar enquadrar o deputado na cartilha da Igreja: A pluralidade do credo deve ser respeitada; o aborto, em qualquer circunstância, deve ser condenado por todos e, no parlamento, esta tese precisa ser defendida; o casamento é indissolúvel e, uma vez proferidas as palavras “… até que a morte os separe”, o casal deve permanecer unido; e o matrimônio deve ser entendido como a união entre homem e mulher – casamento de homem com homem nem pensar!

Pensando um pouco mais alto e compartilhando com os leitores este fato isolado, fiquei convicto de que o catecismo mostrado pelo padre ao deputado não é um fato isolado. Deve estar se repetindo durante todos os cultos ao longo deste largo Brasil sob forte orientação das Igrejas. É bem verdade que a sociedade precisa aprofundar a discussão desses temas. A mídia nacional tem chamado atenção, no entanto, verifica-se uma exploração oportunista às vésperas das eleições presidenciais tentando rotular, de forma simplória, o pensamento de cada candidato.

Enquanto assistia à preleção do sacerdote, veio à minha mente a cerimônia de comemoração das bodas de ouro de um casal amigo da minha família, ocorrida há alguns anos.

Em certo momento daquela missa o sacerdote, relembrando a cerimônia do casamento ocorrida há cinqüenta anos, pergunta:

− Sr. Manduca, após todo esse tempo de convivência com a Dona Raimundinha, o senhor se casaria de novo?

Resposta de pronto. − É claro que sim, padre!

− Dona Raimundinha! E a senhora, casaria de novo com o Sr. Manduca, repetindo o que fez há cinquenta anos ?

Resposta muda. O padre insiste. Silêncio sepulcral na Igreja. O padre, então, curva-se ao lado da interlocutora e repete a pergunta junto a seu ouvido, ao que ela retruca.

− Não sou surda, padre!

Mais tarde, conversando com o padre na sacristia ela respondeu à pergunta formulada no altar.
− Padre, eu não me casaria de novo com esse safado, de jeito nenhum! Passou a vida toda me traindo…

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A Justiça e o juiz

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Os Poderes Executivos e Legislativos vêm sendo questionados já há algum tempo. Mais recentemente, é o Poder Judiciário que está sendo passado a limpo.

O atual presidente do Superior Tribunal de Justiça do País, em recente entrevista, credita à lentidão da Justiça parte do chamado custo Brasil, na medida em que sem o mínimo de segurança jurídica o investidor pensa duas vezes mais antes de empreender qualquer negócio.

Nossos ouvidos guardam de muito tempo que a Justiça tarda, mas não falha! Ultimamente ela tem chegado atrasada e tem falhado como nunca. Alguns dizem que devido ao desenvolvimento de novas tecnologias ela já não está mais tão cega como dantes…

Convém analisar que com a crescente percepção dos seus direitos o cidadão acaba provocando cada vez mais a Justiça e o número de processos cresce em ritmo acelerado. Muitos juízes e desembargadores, no afã de mostrar a produtividade cobrada pela sociedade, acabam lançando mão de assessores para elaboração de sentenças, terceirizando a tarefa que só a eles compete e prejudicando a qualidade da decisão.

Muito embora tenhamos acompanhado em todo o Brasil o afastamento de juízes e desembargadores do cargo, isso não deve ser tomado como motivo de maior preocupação. Deve, sim, ser visto como uma mostra do amadurecimento das nossas instituições, dos órgãos de controle e, sobretudo, de exercício de cidadania através do controle social. Sabe-se que sentença de juiz não agrada, nunca, às duas partes, mas, como bem frisa o atual presidente do STJ, “o juiz tem que seguir a lei, pois são as leis que representam os valores de cada sociedade”.

Os juizados especiais e mais recentemente a digitalização dos processos vem compensando a falta de juízes e contribuindo para a celeridade e a transparência no acompanhamento de cada processo.

É bem verdade que dentre todos os profissionais, os médicos, pelo poder de salvar e os juízes pelo poder de absolver são sempre os mais exigidos pela sociedade. Longe de assumir como fato de consolo, mas percebe-se que o tempo passa (ou será que nós é que por ele passamos?!), a sociedade evolui, porém certos problemas continuam os mesmos…

Sem precisar recorrer a um passado mais longínquo, na primeira metade do século passado, meu avô Chico Leite era um renomado advogado do Interior e vivia às turras contra os juízes da cidade. Reclamava com freqüência da morosidade da Justiça e denunciava ao Tribunal os juízes e promotores que pouco apareciam na Comarca. Certa feita, insatisfeito com um juiz recém chegado à cidade recorreu à sua verve poética, fazendo esquecer, de propósito, algumas estrofes dentro de um processo:

“Oh! Justiça de Pinheiro, em que lugar tu te escondes, a gente clama por ti, tu te calas, não respondes.
Se alguém te avista ao longe, e procura te abraçar, tu, disfarçada e ligeira, logo mudas de lugar…
Em Pinheiro, certo dia, eclodiu uma notícia, alvissareira e propícia, que a todos veio agradar.
A Justiça de Pinheiro, que já ninguém conhecia, e de muito padecia, dentro em pouco iria chegar.
O povo saiu à rua, em passeata cantando, em delírio anunciando, o evento abençoado.
Houve muito foguetório, muita festa e até missa, tudo em favor da Justiça, e muito bem preparado.
Convergindo para a pista, na chegada do avião, em grande concentração, o povo lá se postou.
Mas… da nave aberta a porta, Oh! Cruel decepção! A Justiça veio? Não! Somente o juiz chegou.”

E a roda da vida continua…

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O preço do voto

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O poeta paraibano Jessier Quirino dizia que para ganhar a eleição o candidato precisa primeiro começar a juntar dinheiro para depois, então, juntar votos.

Neste período pré-eleitoral as campanhas políticas em todo o Brasil mobilizam muita gente e, principalmente, muita grana.

Se fizermos um pequeno exercício matemático podemos projetar o reforço na economia nacional alavancado pelos gastos dos candidatos. Dias atrás, pude observar um pouco da campanha eleitoral no Rio de Janeiro onde estive a trabalho. Os Jornais impressos dedicam páginas e mais páginas sobre a contenda e florestas inteiras são derrubadas para garantir o suprimento de papel necessário à confecção dos cartazes. As TV´s não se cansam de acompanhar a rotina dos candidatos e não há outro papo nos botecos do Rio que não seja o resultado do próximo pleito.

Concluída a etapa dos registros de candidaturas, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) informa que 12 candidatos pleiteiam a presidência da República e mais 171 são pretendentes aos 27 cargos de governadores. Diz a máxima que o Senado federal é o Céu. É para lá que, nesta eleição, 273 candidatos estão disputando um lugar.

Para deputado federal, o número de candidaturas aumentou cerca de 20% em relação às eleições de 2006. Hoje, somam 6.036 postulantes a uma das 513 vagas na Câmara Federal. Aqui no Maranhão, 174 estão passando o sebo nas canelas para essa maratona em busca de votos.

Correndo em paralelo, aproximadamente 15 mil aspirantes disputam, literalmente no grito, um assento nas Assembléias legislativas em todo o Brasil. Somente em nosso Estado são 420 o total de pretendentes. Dez candidatos por vaga.

E até os velhinhos estão entrando na corrida da eleição! O TSE registra que o número de candidatos a uma vaga no Legislativo cresceu entre os idosos. Em 2010, a quantidade de concorrentes com idade superior aos 70 anos aumentou 30% em comparação com as últimas eleições gerais (2006). São os idosos em busca de mais trabalho ou de uma complementação de suas aposentadorias…

Especialistas estimam o custo médio de cada voto disputado em R$ 100,00. Se aplicarmos a “conta da quitanda”, considerando o quantitativo de votos apurados para a próxima eleição em 80% dos 130 milhões de eleitores aptos e dispostos a saírem de casa no dia da eleição, serão gastos neste pleito eleitoral algo em torno de 10 bilhões de reais. Outros analistas observam que o dispêndio global supera em muito estas cifras uma vez que aqueles candidatos que não se elegem, desperdiçam somas ainda maiores. Um senhor empurrão na economia do País.

Meu saudoso avô, se vivo ainda fosse, diria que se toda essa grana saísse dos bolsos dos candidatos, tudo bem! O problema é que o Estado (leia-se o cidadão) é quem acaba pagando a fatura. Muitos candidatos ainda utilizam a prática da compra dos votos para complementar a sua eleição.

Em Pinheiro (e como tem estória naquela terra…) o português Armíndio Campos se considerava uma grande liderança política local. Prometeu ao Dr. Ademar de Barros que iria organizar o Partido Social Progressista e sair das eleições municipais com uma estrondosa votação. Para isso dispunha de um grande contingente de cabos eleitorais dispostos e de um candidato de grande potencial.

− É uma putência! O Colózinho é uma putência! Repetia com seu carregado acento lusitano.

O Colózinho era o seu candidato que tinha como reduto o povoado de Pacas distante uma légua da sede do município.

Armíndio recebeu uma considerável soma em dinheiro para custear a campanha e, pelos cabogramas sistematicamente enviados, mantinha o velho Ademar a par do andamento da campanha, não se cansando de repetir:

Aguarde para ver o resultado! O Colózinho é uma putência!

O Ademar chegou a ir a Pinheiro dar uma “mãozinha” para o Partido e retornou a São Paulo convicto de que a bandeira do PSP tremularia forte no estado do Maranhão.

Abertas as urnas de Pacas e finalizada a apuração em todo o município, Colózinho somou míseros 17 votos…

Eita dinheiro desperdiçado!

E atenção candidatos! Não joguem fora o seu dinheiro! E nem o nosso!

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São Luís nasceu assim

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Mapasaoluis2010O texto abaixo transcrito foi elaborado pelo Antonio Noberto, membro do Conselho Diretor da Aliança Francesa de São Luís:

“Foi com muita alegria que finalizamos e disponibilizamos a você o mapa Saint Louis: capitale de La France Equinoxiale – 1615. O trabalho é a primeira “fotografia” clara, detalhada da Ilha Grande à época de sua fundação pelos franceses. Uma contribuição à pesquisa e ao turismo local.

O mesmo é iniciativa deste que vos escreve mensalmente, com desenho e arte de Jonilson Bruzaca. Foram muitos anos de pesquisa sobre o tema para que, afinal, chegássemos a este resultado. E como “nada vem do nada, e nada vai para o nada”, existe um grupo competente que participou da pesquisa, concepção e avaliação crítica do mapa: os arqueólogos Deusdédit Leite Filho e Eliane Gaspar; o historiador Rodrigo Norte; historiador, escritor e diplomata brasileiro Vasco Mariz; o Cônsul honorário da França no Maranhão e membro do Conselho da Aliança Francesa de São Luís José Jorge L. Soares; o diretor da Aliança Francesa de São Luís Nicolas Payelle; a escritora Joana Bittencourt e a professora de francês Eva Chatel. Uns mais outros menos, mas todos contribuíram para que atingíssemos o resultado esperado.

A reconstituição traz a lume um dos capítulos mais importantes da história colonial brasileira do século XVII, só comparado às Missões Jesuítico-guarani no Sul (1609 – 1750) e ao Brasil holandês no litoral Leste (1630 – 1654). O caráter colonizador pacífico verificado nestes três momentos foi alicerçado no respeito e na tolerância entre indígenas e europeus.

A França Equinocial sempre foi objeto de estudo de incontáveis pesquisadores, locais, nacionais e estrangeiros, dos quais nos recordamos de Charles de La Roncière, Lucien Provençal, Andréa Daher, Vasco Mariz, Ribeiro do Amaral, Jerônimo de Viveiros, Rubem Almeida, Mário Meireles, Carlos de Lima, Antonio Carlos Lima e Wilson Ferro. A sede da nova colônia foi concertada, no então Palácio do Louvre, hoje museu, entre a rainha regente Maria de Médici, o supervisor da expedição Almirante Charles de Montmorency Damville e pelos generais franceses Daniel de La Touche de La Ravardière, François de Razilly e Nicolas Harlay. Ficou decidido que seria construído um forte e, junto a ele, um porto e um convento com colégio e igreja para os religiosos capuchinhos. E foi sobre esse eixo que a cidade floresceu, conforme se pode observar no mapa.

O núcleo urbano da Nova França era uma espécie de cidadela cercada por uma paliçada, ligada ao exterior por uma ponte elevadiça construída sobre um fosso. Ao forte deu-se o nome de São Luís, elevado no local onde hoje está assentado o Palácio dos Leões, sede do poder estadual. Igualmente se nomeou a capela, erguida em frágeis fundamentos, onde atualmente se vê a pomposa igreja da Sé. Na mesma praça foram levantadas casas de um e dois pavimentos. Ao pé do dito forte encontrava-se o porto de Santa Maria, atual Cais da Praia Grande. Foi este porto que fez surgir o bairro comercial da Praia Grande. Existia ainda um estaleiro, serraria e serralheria, o convento e igreja São Francisco, primeiro convento Capuchinho do Brasil, erguido no local onde encontramos a Igreja de Santo Antonio, mais precisamente a Capela dos Navegantes.

Distando um pouco mais de um quilômetro existia o Porto de Jeviré, na Ponta da Areia, protegido pela fortaleza do Sardinha (Ilhinha / São Francisco), que também protegia a grande aldeia de Uçaquaba, também chamada de Miganville, no Recanto dos Vinhais. Tudo isto do lado de cá, na Baía de Santa Maria (nome dado em honra à mãe do menino Jesus e à rainha regente), atual baía de São Marcos.
Ao outro acidente geográfico batizou-se de São José, em honra ao pai do menino Jesus. Lá existia o porto de São José (no atual núcleo urbano onde teve início a cidade de São José de Ribamar). O ancoradouro era guarnecido por duas fortalezas: o Fort de Caillou (pronuncia-se Caiú, e quer dizer “Forte de Pedra”, pois foram iniciadas as obras em pedra e taipa de pilão), daí surgiu o lugar conhecido por Caúra; e o forte de Itapari, construído às pressas quando da ameaça portuguesa em novembro de 1614, em local próximo à Praia de Boa Viagem.

Era mais ou menos assim a imagem da pequena São Luís, primeira cidade do Brasil setentrional. Afinal, todos têm direito a, pelo menos, uma fotografia dos primeiros dias de nascimento.

Os que acompanham mensalmente esta coluna sabem que sempre defendemos a fundação francesa de São Luís, não como uma simples vaidade local, mas por acreditar no poder deste vinculo histórico e na disposição gaulesa em conhecer os locais onde sua cultura foi disseminada. Por isso é que não cessamos de investir neste tema. Mais cedo ou mais tarde haverão de nos ouvir.

O Repórter Mirante do último dia 04/09, desenvolvido pelo repórter Tiago Soares e pela produtora Eveline, soube explorar muito bem este tema, bem como o mapa. Fizeram bonito!”

Antonio Noberto é turismólogo, pesquisador e escritor.
[email protected]

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Sorriso generoso

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Novos tempos, novas práticas.

Com o calendário eleitoral cada vez mais curto, os candidatos buscam otimizar o pouco tempo permitido pela legislação para divulgar sua mensagem e estar presentes em lugares distintos ao mesmo tempo. Para isso, lançam mãos dos veículos de comunicação e suas imagens são levadas adesivadas nas laterais e para-brisas dos automóveis.

Pouco tempo atrás, o período destinado às campanhas era muito maior e a legislação era muito mais frouxa. Era grande a poluição visual com out doors espalhados ao longo das estradas e avenidas, pintura de muros, postes e viadutos. Os ouvidos dos eleitores eram agredidos com aqueles insuportáveis trios elétricos que circulavam pela cidade, sem horário definido, repetindo jingles, nem sempre de bom gosto. Ir à praia aos domingos e ter que agüentar aquelas músicas… que sofrimento! Ainda bem que a nova legislação eleitoral veio para disciplinar um pouco mais essas obsoletas práticas de campanha.

Durante o período eleitoral, os candidatos que disputavam as eleições tinham que mandar confeccionar milhares e milhares de cartazes. Muito utilizados eram os retratos em “preto e branco”. Mais baratos, registravam apenas o nome, o slogan e o número do candidato. O formato variava do tamanho A2 aos minúsculos “santinhos” que sobrevivem aos dias atuais, graças à sua portabilidade e repaginados nos formatos semelhantes aos cartões de crédito.

Os softwares ainda não existiam. Hoje, os candidatos apelam para os recursos do Photoshop. E como apelam! Conheço um deputado que vem usando a mesma foto de 20 anos passados. Outros até que se deram ao trabalho de procurar um Studio fotográfico para tirarem novas fotos. Mas dão uma trabalheira enorme para os profissionais que exageram nos retoques desfigurando o semblante de quase todos eles. Tem candidato que a gente só reconhece porque está escrito o nome dele. Estão irreconhecíveis nas fotos na tentativa de parecerem mais jovens do que são na realidade.

Tenho um amigo que vota num certo deputado desde que tirou o título de eleitor. Mesmo sem tê-lo visto há muito tempo, ao observar o cartaz da propaganda eleitoral, comentou em voz baixa:

− Puxa vida, se até com a ajuda do Photoshop meu candidato tá velho, imagina como não deve estar pessoalmente…

Dias atrás, em visita não oficial ao estado do Maranhão, o novo embaixador da França no Brasil retornava de Barreirinhas extasiado com a beleza dos Lençóis Maranhenses.

− C´est étonnant! Magnifique! Dizia ele.

Ao fazer um tour pela cidade, admirado pela grandiosidade do casario colonial do Centro histórico de São Luís e atento ao comportamento amistoso do povo de nossa terra, o embaixador não deixou de observar:

− Aqui em São Luís os candidatos são todos alegres?

− Como assim? Indaguei eu?

− Veja os adesivos nos carros e nos cartazes espalhados pela cidade! Todos portando um generoso sorriso!

Comecei a observar e acabei concordando com ele.

− Deve ser para agradar os eleitores… Pensei comigo mesmo.

E dou um doce para quem encontrar uma foto de um candidato desprovido de um largo sorriso estampado no rosto.

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Como uma onda no Mar

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Acabo de chegar de Barreirinhas.

Desde 2005 que participamos, tendo como laboratório a cidade de Barreirinhas, de uma experiência inovadora no uso de tecnologias da informação. A utilização da rede de energia elétrica para transporte de dados e imagens tem sido objeto de uma importante parceria envolvendo a Eletrobrás, Eletronorte, Cemar, APTEL, Panasonic e a TV Mirante.

O uso do PLC (Power Line Communication) tem sido testado na biblioteca Farol do Saber de Barreirinhas há mais de um ano. A possibilidade de utilização das redes de energia elétrica pode ser a grande opção de universalização do acesso à rede mundial da Internet.

A escola Anacleto de Carvalho já vivenciou seu período de apogeu. Inaugurada no ano de 1930, durante muitos anos foi referência educacional do município. Neste ano de 2010, ela está dando um grande salto de qualidade: passa da idade da palmatória para a era da informação.

O Programa Um Computador por Aluno (UCA) chegou a essa escola entregando um computador a cada aluno e a cada professor. Foi a primeira escola pública do Maranhão a experimentar essa nova ferramenta de ensino. Os olhos de cada aluno se encheram de brilho quando as telas dos 446 Lap Top´s foram ligadas e as informações começaram a chegar através da rede elétrica da velha escola. Os horizontes se abriram e o mundo começou a ficar pequeno para cada uma daquelas crianças.

Do Japão, diretamente de Tókio para Barreirinhas veio o diretor geral da Panasonic, Dr. Koichi Kitamura, que se juntou ao representante do Gabinete do presidente Lula e aos demais parceiros para presenciar esse novo momento na vida da cidade.

De volta a São Luís, ainda chegamos a tempo de contemplar o por do sol que dourava o espelho d’água formado pela maré alta dos meses de agosto. Encantado com espetáculo das águas que tocavam as pedras de cantaria da Beira Mar e com a beleza das velas coloridas das canoas costeiras que singravam por entre os pilares da ponte, o executivo japonês perguntou se aquele rio era navegável.

− Apenas durante a maré cheia, informei. Complementando que a variação da maré chegava a seis metros e que aquele mar que ora presenciava, daqui a seis horas seria apenas fio d’água ligando o rio Anil ao oceano.

− E seca isso tudo? Perguntava-me.

− E enche novamente. Disse-lhe eu, lembrando-me do português Albino Paiva, lá da minha querida cidade de Pinheiro.

Contam os mais antigos que, em certa época, Albino Paiva recebeu a visita de um primo seu, de nome Manoel, vindo de Portugal. Chegando em pleno verão, próximo ao Natal, estava ele a conversar com o seu patrício Albino, quando este lhe contou que aquele riacho que passava ao longe, com um filete de água que mal cobria as pernas de quem tentava chegar às margens do outro lado, no inverno se transformaria em um rio caudaloso. Era capaz de inundar toda aquela imensidão de campos que se estendia a perder de vista permitindo, inclusive, que os barcos vindos de São Luís atracassem no cais em frente à casa grande do comércio.

O português, incrédulo, duvidou do Sr. Albino. Mesmo assim, de volta a Portugal, carregou consigo aquela imagem oferecida pelo primo.

Anos mais tarde, o Manoel retornou a Pinheiro, desta feita chegando no mês de junho. Em São Luís, uma canoa costeira o aguardava na Praia Grande. Embarcou. Sobreviveu aos grandes banzeiros do boqueirão, passou ao largo das pedras de Itacolomy e adentrou pela baía de Cumã rumo a Pinheiro.

Ao se aproximar da cidade, não acreditava no que via: as águas do Pericumã pareciam não ter mais fim! Desembarcou bem em frente ao sobradão dos Paiva, onde o primo Albino lhe aguardava.

Após os efusivos abraços, relembrou daquela conversa tida anos atrás.

Albino lhe retrucou:

− Não havia te dito? Não me quiseste acreditar!

Ao que ele respondeu:

− Agora, Albino, duvido mesmo é secar!

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Vamos trabalhar, gente!

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Nem bem acabaram as festas de fim de Ano e o Carnaval 2010 engrenou forte. Nos estados onde a folia do Momo é maior, trabalha-se menos, a produtividade cai, e uma multidão de foliões de outras paragens é atraída pelos acordes dos hits carnavalescos.

A quarta feira de cinzas anuncia o fim da folia e início do período produtivo. Mas, para animar ainda mais a festa, em muitos estados a farra se estende por mais um final de semana…

Na Bahia tem as micaretas de Feira de Santana, em Pernambuco o Bacalhau do Batata arrasta multidões pelas ladeiras de Olinda e até o Lava Pratos tradicional de São José de Ribamar já está entrando na programação das agências de viagens. 

Quando a massa produtiva pensa em engrenar uma rotina de trabalho, eis que chega o período das festas juninas e, novamente, o povo se esbalda nos animados arraiais espalhados principalmente pelo Nordeste brasileiro.

Campina Grande, Caruaru e São Luís disputam o título das festas juninas mais animadas do País. O Expresso do Oriente, charmoso trem que no final da década de 1880 fazia a rota das sedas entre Paris e Istambul, perde feio em animação para o trem do forró que sobe e desce o maciço das Russas conduzindo os animados foliões entre Recife e Caruarú.

Até a cidade de Parintins, encravada em plena selva amazônica, no mês de Junho atrai um mundaréu de gente para torcer pelo Caprichoso e Garantido na imponente festa do Boi Bumbá.

Neste ano de 2010, para ajudar os fabricantes de cerveja ainda teve a Copa do Mundo.

Aqui em São Luís do Maranhão mesmo com o Brasil fora do campeonato, vamos poder ainda, durante todo o mês de julho, bater as matracas no Vale Festejar. Mais um mês de muita música para alegrar os turistas que nos visitam neste período de férias e para azucrinar os ouvidos dos moradores do entorno da lagoa.

Terminado o mês de julho, pensam que de agora em diante tudo será diferente?

Nada disso! Tem campanha eleitoral. Mais três meses daquela xaropada toda na televisão. E tome promessas!

Espero que até lá o tuxáua José Serra encontre um índio de sua tribo para compor a chapa presidencial e, principalmente, acerte o seu discurso, até agora sem eira nem beira.

Falando em discurso, que falta nos faz o saudoso coronel Eurípedes Bezerra! Com seu vozeirão e usando a sonoridade das palavras era mestre na animação dos discursos políticos pelos Interiores do Maranhão.

Contam que, meio século atrás, por ocasião das eleições municipais, o governador José Sarney participava de um comício na região nordeste do estado. Em um dado momento, o coronel Eurípedes apoderou-se do microfone para animar o povão que se aglomerava na praça da cidade para ouvir os candidatos antes do início de um churrasco prometido pelo mandatário da cidade.

Muitos prefeitos correligionários se faziam presentes para trazer o seu apoio ao candidato local, quando Eurípedes começou a animar a festa e, de improviso, resolveu distribuir as partes do Boi, começando pelas partes traseiras:

− O rabo vai pro prefeito da cidade que tem fama de muito brabo… do boi vou tirar o sobrecu pra mandar de barco pro prefeito de Cururupu… Pro René Bayma que é prefeito de Codó, do boi vou lhe dar o mocotó … E continuou dissecando o boi pedaço por pedaço. − O filé, que é a parte mais mole, vai pro prefeito de São Domingos, meu amigo padre Mané… − Do lombo tiro o cupim pra mandar lá pra Baixada pro prefeito Zé Cutrim…

A partilha do boi já se aproximava da cabeça, o povo animado, quando Zé Sarney, conhecedor dos maldosos comentários que circulavam na cidade sobre a mulher do prefeito, levantou-se e cochichou no pé do ouvido do coronel Eurípedes:

− Justifique a minha ausência… Vou ter que sair antes que você comece a distribuir os chavelhos do boi…

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O precursor das Radiolas

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reggaeA região norte do Maranhão já experimentou seu período de apogeu.

Durante o Império, Alcântara tornou-se, graças à atividade da cana de açúcar fortemente alavancada pela mão de obra escrava, o principal pólo irradiador do desenvolvimento do Estado.

A compra de escravos era financiada pela Companhia do Comércio do Grão-Pará e Maranhão em troca do monopólio do comércio que ocorria no porto de São Luís. Pelos idos do início do século XIX, chegaram ao Maranhão mais de 40 mil escravos, vindos da Angola e de Guiné Bissau.

Porém, a partir da abolição da escravatura, a região veio a experimentar um ciclo de declínio. A mão de obra, até então escrava, esvaiu-se inviabilizando grande parte das atividades econômicas – dentre elas, a engorda e comercialização dos escravos.

A perda da importância econômica e cultural de Alcântara e a própria dificuldade de acesso à capital do estado, acabou isolando a maioria dos municípios da Baixada e do litoral norte, contribuindo para que a região se tornasse uma das mais pobres do estado.

Somente a partir da década de 1960, com a chegada das estradas e da energia, no governo Sarney, o processo de crescimento das cidades do norte do Maranhão foi retomado.

Junto com tal crescimento, as ondas de rádio carregadas pelos ventos soprados do hemisfério Norte, trouxeram os primeiros acordes do Reggae. Os barcos que contrabandeavam café para os portos de Paramaribo se encarregavam de trazer daquelas bandas, além das camisas Banlon e dos rádios Spica, os principais hits musicais.

Fruto desse intercâmbio cultural, São Luís orgulha-se hoje do título de Jamaica brasileira. As Radiolas se proliferaram pelo litoral norte do estado, estourando os tímpanos e fazendo tremer a barriga dos mais aficionados. A massa reggueira continua crescendo, movimentando a economia, elegendo vereadores, prefeitos e até deputado federal.

Apesar de tudo isso, penso que quem iniciou essa onda toda de Radiola foi meu tio General, em meados do século passado, em Pinheiro.

Meu avô Chico Leite, advogado de idéias de vanguarda, escolheu o nome de Luis Carlos Prestes para por em um de seus filhos. A era Vargas chegou, ele tirou o Prestes do nome, mas o apelido General acompanha meu tio até os dias de hoje.

Ainda jovem General possuía um serviço de alto-falantes. Comprou um pequeno motor, fabricou as caixas com as cornetas de som e, munido de uma Radiola e de uns poucos discos arranhados, rumou para o Jussaral, pequeno povoado no interior de Pinheiro, para fazer seu primeiro baile.

A notícia espalhou-se pelas redondezas e a expectativa com a festa era enorme! Arrumou-se um salão, coberto e forrado de palha, solo batido de terra, e com uma pequena janela para a venda dos ingressos. Todos tinham que “pagar a porta” para dançar na festa.

Zezico, líder da comunidade e compadre de General, perguntou-lhe se sua vizinha Carmelita poderia entrar na festa.

− Ela passa no teste do pente? Perguntou General.

−Hih, seu Generá! Eu acho que não vai dar… ela tem um cabelo um tanto quanto duvidoso!

Atualmente, nos finais de semana, as “pedras de responsa” rolam soltas e o som do reggae ecoa noite adentro em quase todos povoados do litoral norte do Maranhão. É bem verdade que as Radiolas atuais são bem mais democráticas que as de meu tio General. O teste do pente foi abolido. O constrangimento é outro: apenas receber hora da entrada, um carimbo de neon na testa ou no braço para garantir o direito de acesso aos animados terreiros.

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Como somos diferentes!

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Nada melhor que uns bons dias de férias para recarregar as baterias e, após o merecido descanso, retornar ao cotidiano enfrentando os novos desafios com muito mais energia. Muito embora nossa mente se mostre completamente oxigenada, quase sempre voltamos fisicamente mais cansados de que antes da partida. Uns dois dias a mais bem que poderiam ser úteis para proporcionar o descanso das férias…

Durante as minhas viagens procuro sempre observar como vivem as pessoas, o que comem, que lugares freqüentam, enfim, conhecer um pouco mais do dia-a-dia de cada povo. Diferentemente do olhar curioso do turista, procuro fazer minhas próprias análises para depois, então, tirar as minhas próprias conclusões.

Em recente passagem pelo Interior da França, presenciei a cena de uma turista brasileira, que pelo gestual apresentado mais parecia uma expert em linguagem corporal, querendo comprar um pão francês numa tradicional e charmosa Boulangerie.

− Não! Não é esse não! Eu quero é o pão francês. Aquele pequenininho…

Ante a negativa da jovem vendedora, a turista não se conteve:

−Mas como aqui não tem pão francês?! Aquele pãozinho de massa grossa! Então me enganaram! Passei a minha vida inteira comendo aquele pãozinho como se fosse francês e agora chego aqui na França e a senhora me diz que não tem pão francês!…

− Desolé, madame! Mas aqui todos os pães são franceses… Temos pain aux raisins, pain au chocolat, croissant, chausson aux pommes, brioches e as nossas tradicionais baguettes. Aliás, aproveite e leve uma que está bem quentinha!

Inconsolada, porém com pinta de francesa, a turista saiu da padaria carregando debaixo do braço uma baguette enrolada num pequeno papel de embrulho. Deve estar até hoje agradecendo à vendedora pelo melhor pão que certamente ela já comeu na vida!

Nos trens, ônibus e metrôs, vê-se muita gente triste. Desemprego e custo de vida elevado ameaçam a todos por aquelas bandas. Inclusive para eles, que ganham em Euro, a vida não está nada fácil. A crise afeta até o humor das pessoas.
Nos transportes públicos, mesmo sentados um ao lado do outro, dificilmente alguém puxa uma conversa com o vizinho. Se você não toma a iniciativa de engrenar um papo, não espere que seu vizinho lhe dirija uma simples palavra. E agora, com essa onda de i-Phone e i-Pod, até os jovens, que em princípio são mais extrovertidos, estão se tornando a cada dia mais fechados em seu próprio mundo.

De volta ao Brasil, constato que a realidade é outra. Completamente diferente! Colocando à parte a temperatura, os buracos, a quantidade de crianças pelas ruas, o barulho etc… o que chama atenção, mesmo, é o comportamento de nosso povo. A alegria é vista no brilho dos olhos das crianças que fazem da imaginação o combustível de seus sonhos, e é presente até mesmo nos semblantes dos mais humildes. 

Chego cedo à padaria para comprar leite, pão e umas frutas. Na fila me deparo com uma jovem morena. Mesmo sem me conhecer, ela me mostra o estrago no corpo causado pelas picadas dos insetos. Piúns! Diz ela.

− Fui passar um final de semana em Morros, pra conhecer a Cachoeira dos Arrudas, e olha como ficou o meu corpo? Mostrava os braços, ombros e pernas, todos marcados pelo apetite voraz desse pequeno inseto borrachudo.

Minha mulher que estava ao lado, logo engrenou uma conversa. Relatou que já havia passado por uma experiência semelhante, que tinha ido parar no hospital e até corticóide havia tomado… Quando me deparei já estavam as duas trocando o endereço do médico especialista e coisa e tal… Coisa de louco!

Em raríssimos países no mundo se conseguiria imaginar uma cena dessas! Aliás, aqui em nossa terra, brasileiro que se preza não precisa de psicólogo…

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“Meu dileto filho José,”

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sarney_caricaturaA cada ano que passa, por ocasião do aniversário de José Sarney, a escritora e acadêmica Graça Leite elabora um texto dedicado ao mais ilustre filho de Pinheiro.

Neste ano em que o ex-presidente comemora seus oitenta anos as letras bem compostas por Graça Leite ganham forma e registram o carinho que todos nós, seus irmãos, nutrimos por ele.

Hospedo em meu Blog o texto por ela elaborado certo de que se trata do pensamento da grande maioria dos filhos da terra:

Sempre no mês de abril sou dominada pela ansiedade, aguardando o dia 24. É na data do seu aniversário que tenho a oportunidade de lhe falar dos meus sentimentos, fazer confidencias através de cartas que lhe escrevo e aqui vai mais uma desta sua velha mãe retrógrada que dispensa os e-mails por não se enquadrar ainda nos meandros da informática. Até me esforço, mas fazer o que? Nasci provinciana, vivi mais de cem anos entre fazendas de gado e engenhos de cana de açúcar e, se não fosse o seu carinho por mim, talvez ainda estivesse hoje com o meu solo marcado pelos argolões das rodas dos carros de bois. Provavelmente os barcos a vela ainda transportariam os seus irmãos doentes para São Luís, e, sabe-se lá, se os nossos campos já não estivessem salinizados imprestáveis para a lavoura e pecuária.

As lamparinas continuariam a fumegar em nossos lares e os recados e bilhetes seriam formas de comunicação entre nós. Mas você nos deu estradas, sistema de transporte por  ferry-boat, hospitais, escolas, energia de Boa Esperança, barragem do Pericumã, telecomunicação, enfim, você inseriu a sua terra no contexto das boas cidades do Maranhão oferecendo aos seus irmãos melhor qualidade de vida.

Toda essa transformação estrutural eu devo a você, meu filho amado, a quem dedico a minha eterna gratidão.

Quando uma mãe dá luz a um filho nasce também a esperança materna iluminando o futuro do bebê. Mas eu confesso a você que durante o seu nascimento, a luz projetada não foi além de uma vida honesta, digna, simples e feliz, como almejam todas as mães provincianas. Jamais poderia imaginar que naquele momento estava acontecendo no céu uma conspiração celestial entre Deus, Nossa Senhora, Santo Antonio e São Jose de Ribamar (seus santos protetores), para que na manhã chuvosa de vinte quatro de abril de mil novecentos e trinta, eu entregasse ao mundo um guerreiro, revestido com armaduras de fé, coragem, sensatez e sabedoria. Também não suspeitei que a boa fada POESIA rondava a nossa casa e abrindo uma brecha no telhado tosco, fez cair sobre o seu berço uma chuva de estrelas. Tudo aconteceu de forma tão sutil que somente os anjos perceberam e disseram: Amém!

Existe uma canção interpretada por Maria Betânia, que diz em um dos seus versos: 

             “E o mundo vai ver uma flor

              Brotar do impossível chão.”

E o mundo viu. Viu brotar do chão árido, seco e pobre da Baixada Maranhense, um político hábil e ponderado, um estadista, um pacificador. Viu o guerreiro que viveu e venceu grandes batalhas. Viu o governador do Maranhão, o Presidente da República Brasileira, o Senador, o Presidente do Congresso Nacional que não se deixou intimidar por campanhas difamatórias e não calou em defesa dos seus valores.

O mundo também viu o poeta José Sarney subir as escadas da Academia Brasileira de Letras, pisando sobre Maribondos de Fogo, levando em uma das mãos tisnadas de juçaras, os seios dourados de Saraminda e, na outra, as estrelas do mar colhidas por Cristório nas brancas areias das praias maranhenses.

Tudo isso o mundo viu! Só não viu as minhas lágrimas e as de Dona Kiola ao ver o filho querido sendo alvo de calunias, invejas, preconceitos, maledicências, tudo por causa da sua origem humilde!

O que eles não sabiam meu filho, é que a sua história foi escrita nas estrelas e mesmo contra a impossibilidade do chão e a adversidade dos ventos, a flor brotou, deu frutos, ramas e lá está ela fincada no centro do Planalto Central com a sua folhagem de esperanças.  A árvore octogenária Jose Sarney é hoje destaque no jardim da Democracia Brasileira e é sobre a sua sombra que se abrigam os inexperientes para ouvir o canto dos pássaros que a sua inteligência abriga. 

Parabéns, meu filho! A sua mãe coruja exulta de alegria ao celebrar o seu aniversário. Que os acordos celestiais continuem a projetar os seus passos.

Estou tão emocionada com os seus oitenta anos que até ia esquecendo-me de falar da nossa casa e dos seus irmãos. Estão todos bem. O inverno escasso, este ano, retardou o aparecimento das florzinhas amarelas que matizam os nossos campos, mas as tarde mornas continuam a nos oferecer belos por de sol. Os seus irmãos vão bem, trabalhando e não fora a audácia dos bandidos que nos assustam, estaríamos mais felizes. O tráfico de drogas e a falta de segurança são outros empecilhos à nossa tranqüilidade.

Mas deixemos de lado esses assuntos que hoje é dia de festas.

Venha! Vamos apagar as velinhas?

Com muito afeto e carinho, sua mãe-terra.

 

                                                                                               Cidade de Pinheiro.       

 

Graça Leite

Membro da Academia Pinheirense de Letras( APLAC)

Cadeira n. 21        

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