Vaidade, o pecado predileto

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Um belo dia ouvi de um vidente baiano que em outra encarnação teria sido um negro rico como Pelé. De volta a esse mundo ouvi de uma pessoa que nada nesse universo material me deixa deslumbrado. Graças a Deus, consigo conviver com a mesma naturalidade com o “luxo” e o “lixo”. Enxergar a Torre Eiffell para mim é como estivesse diante da Fonte do Ribeirão, ou escutar Chemical Brothers é como se estivesse ouvindo o tambor de crioula do Mestre Felipe, ou o bumba-meu-boi de Maracanã, assim como clássico de Bach me remete à sonoridade do samba cadenciado do mestre Antonio Vieira. Afinal de contas, assim deveria caminhar a humanidade. Mas, como a vida é cheia de altos e baixos, pessoas honestas e desonestas, ricos e pobres, negros e brancos, amarelos e pardos, ou melhor, formado de cobras e lagartos, temos mais é que aprender a conviver com as diferenças humanas, mas não impede de que sejamos criaturas reflexivas.

Agora, foi assistindo pela segunda vez em casa ao filme “O advogado do diabo”, com Al Pacino e Keanu Reaves, que presenciei uma excelente metáfora da vida, uma verdadeira “chacoalhada” na maneira de como enxergar as nossas prioridades e de como é fácil perder-se no meio do caminho.

O filme retrata a carreira de um promotor bem sucedido que jamais perdeu um caso. Um jovem com uma carreira brilhante, casado com uma linda mulher que, aparentemente, tinha tudo para ser feliz. No entanto, no meio do caminho, ele recebe uma proposta para trabalhar em um escritório de advocacia. E, sem perceber, estava entrando em uma grande armadilha em que sua vida profissional e seus anseios pessoais seriam colocados em cheque. Podem ficar tranqüilos que não sou daqueles chatos que conta o filme para todo mundo. Vá hoje mesmo na locadora e pegue-o para o final de semana. Irá aprender muitas coisas valiosas para sua vida pessoal e profissional, principalmente sobre o perigo da vaidade. No filme, a vaidade é colocada de uma maneira muito sugestiva, cheia de sensualidade e maquiada da realização de nossos sonhos.

Bem, se me permitem, eu diria que na vida real a vaidade é uma das maiores pedras que o ser humano precisa aprender a vencer. Um dos problemas é que ela é muito confundida com auto-estima e muitos vaidosos “de plantão” escondem-se atrás deste álibi. Não, vaidade não é auto-estima. Auto-estima é ter consciência de seu valor, reconhecer seus pontos fracos e fortes sem se abater com o que descobre. Acima de tudo é reconhecer seu lugar no mundo e seu valor neste espaço. A vaidade é a auto-estima que adoeceu ou mesmo um sinal de inferioridade. Quem é muito vaidoso, vangloria-se de tudo e tem sempre a necessidade de mostrar para os outros que foi ele(a) quem fez ou deixou de fazer, demonstra sua insegurança e deixa patente sua necessidade de chamar a atenção de quem o rodeia, não que deseja ser reconhecido seja algo ruim, absolutamente. Mas daí a fazer disso uma meta, acima do bom senso e do respeito a capacidade das outras pessoas, vai uma longa distância.

No contexto profissional é necessário cuidar da imagem, da maneira como nos vestimos, como nos comportamos, como nos apresentamos ao mercado. É, sem dúvida, essencial que saibamos demonstrar nosso valor e despertar no mercado de trabalho uma atração por nossa capacidade produtiva, afinal disso depende nosso sustento. Os grandes problemas são os caminhos que, às vezes, escolhemos para fazer todos esses pressupostos se materializarem. A linha entre o marketing pessoal bem feito e a vaidade enrustida que aparece para todos é muito tênue. É preciso exercitar o equilíbrio entre o que desejamos mostrar e o resultado que queremos obter e a forma como vamos fazer isso e a impressão que vamos passar para os outros.

É comum encontrar pessoas que somente falam de si em uma roda de bate papo, não se importam com os outros. Esquecem que nascemos com dois ouvidos uma boca apenas. Há aqueles que se preocupam tanto em aparecer que esquecem que a melhor forma de aparecer é despertando nos outros a vontade de se interessar por nós.

Já dizem os filósofos, antropólogos, sociólogos e Ricardo Melo, consultor em Desenvolvimento Humano, e a todos que me ajudaram na linha de raciocínio desse texto que não viemos nos moldar ao mundo, mas perceber que quando somos vaidosos temos a ilusão que o mundo deve se moldar a nós, que tudo deve ocorrer no nosso tempo e da forma como desejamos e sabemos que, na realidade, não é assim que a vida funciona! Voltando ao filme “O advogado do diabo”, a frase que mais me chamou a atenção é: “Vaidade é meu pecado predileto!”.

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