Um Carnaval Qualquer Nota !

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Tão logo acaba o carnaval vem a velha e furada análise sobre a folia no Maranhão. É a música que não toca no rádio. É a escola de samba que deixou de desfilar por falta de verba. É a comissão julgadora que deu o voto errado para escola de samba. É o reggae que invadiu o carnaval sem ser maranhense. É a decoração que foi feita no dia da folia. É a música baiana, cearense, pernambucana, paraíbana que atrapalham o artista maranhense. Enfim, algumas pessoas ainda apostam que esses são os empecilhos para o bom andamento da consolidação da Maranhensidade.

Não gostaria de falar sobre o assunto, mas alguns detalhes vivenciados no carnaval me chamaram atenção. Ao assistir o Carnaval da 2ª, no Laborarte, presenciei um grupo formado por meninas no palco misturando axé com música maranhense. Essa fusão me fez questionar o conceito de maranhensidade.

Primeiro, era um grupo de artistas maranhenses, ou seja, teoricamente inserido na Maranhensidade. E porque cantar axé ?

A indústria cultural tem nos ensinado desde a revolução industrial que nada está incólume a ela: a China, o MangueBeat, o RecBeat, o BumbaBeat, Fatboy Slim com Daniela Mercury e Caetano Veloso em cima do trio, Bono Vox cantando com Gilberto Gil, escola de samba do Rio de Janeiro em cima do trio elétrico em Salvador, o frevo comemorando 100 anos e sempre se reinventando e as marchinhas da época do vovó flertando com o funk da Zona Norte carioca.

Essas meninas que me chamaram atenção fazem parte de uma geração que combina festas por Blogs e Orkuts, baixam música pela internet e provavelmente pensem a questão étnica como uma forma plural. Afinal de contas, acabamos de assistir ao lançamento mundial do filme Antonias, onde mulheres escolheram como expressão maior a linguagem do hip hop, mesmo sendo da Terra da Garoa de Adoniran Barbosa.

Baseado no profissionalismo, Chico Science, entre outros homens carangüejos, da grande Recife, tentaram mostrar ao mundo o maracatu e a música de raiz de Pernambuco processadas com elementos musicais universais que soassem familiares e cotidianos aos ouvidos de londrinos, parisienses, nova-iorquinos, entre outros terráqueos sem xenofobia. Sem fazer uma leitura exótica, desses ritmos nativos vieram todos a Pernambuco conhecer o estado bruto e autêntico da música de raiz: essa é grande sacada do mestre Science.

Mas voltando ao conceito filosófico da Maranhensidade, reclamações à parte, é bom lembrar que a música de Chico Science não toca em rádio. Essa é uma das discussões mais antigas quando se refere à chamada Música Popular produzida no Maranhão, discussão essa que aborreceria até Ramsés III.

Já que o carnaval envolve musicalidade é bom que se diga que nós temos um carnaval histórico, cuja as brincadeiras alavancaram São Luís na condição de terceiro melhor carnaval do Brasil. Isto pôde ser notado na matéria veiculada pela Rede Globo de Televisão, recentemente, enfocando a ilha, Salvador e Recife no contexto nacional. Agora, o que será que aconteceu com o nosso carnaval ?

E foi pensando no Carnaval da 2ª do Laborarte e na performance daquelas destemidas meninas que me lembrei de uma frase célebre de Humberto Gessinger, vocalista dos Engenheiros do Hawaii: “o Papa é Pop” e para acrescentar o raciocínio é bom dizer que com música não se duela e nem se cria fronteiras.

3 comentários para "Um Carnaval Qualquer Nota !"


  1. Rose Ferreira

    Você surpreende com os comentarios objetivos e pontuais. Cuidado amigo para não se tornar o Diogo Mainardi maranhense. bjs

  2. Pedro Sobrinho

    Amiga, Não quero me tornar o Diogo Mainardi de São Luís. Quero ser apenas o Pedro Sobrinho que tem posicionamentos e coloca pra fora o seu posicionamento. Papel esse do autêntico jornalista.

  3. Demetrio

    Concordo plenamente com você Pedro, as pessoas criam regras para movimentos que não por natureza não obedecem a regras como a cultura, tudo passa por evolução, até a nossa língua. O maranhense precisa reclamar menos e fazer mais, se valorizar mais, assim seremos aceitos/reconhecidos pelo mundo. Gostei da relação Maracatú-MangueBeat, eu mesmo só me interessei pelo tema depois de ver o Chico dançando e berrando “Macatú atomico” na MTV. Parabéns pelo blog.

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