Cê: uma transa legal

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Existem ouvintes e ouvintes. Têm pessoas que viram o show Cê de Caetano Veloso, no último dia 26, no Ginásio Castelinho, com o olhar inusitado, empírico. Alguns bocejavam, dormiam, sonhavam, outras abandonaram pela metade o espetáculo alegando não ter compreendido o novo CD do músico baiano. Do lado de fora um cidadão revoltado dizia para um grupo de amigos: “Caetano passou quase 10 anos sem pisar os pés em São Luís e quando veio fez um show monótono e chato”. Só que o amigo esqueceu que Caetano é conceitual, idealista, surpreendente e atemporal. Mas, compreendo o desabafo do cidadão e acrescento que ao ouvir o disco “Cê” tive a sensação de frustração, mas a audição no palco é funcional

Para quem estava a fim de curtir aquelas “babetas”, por sinal algumas boas, que embalavam os casais em décadas passadas veio a decepção e teve que se contentar com o artista cujo o tempo é o hoje e que gosta mesmo é da inovação. Caetano fez um show basicamente com o repertório do álbum “Ce”. Em alguns momentos incursionou em velhas e boas canções, tais como: “O Homem Velho”, “Nine Out Of Ten” “Desde Que o Samba é Samba”, “Sampa”, “Como 2 e 2” e “Fora da Ordem”, interpretadas dentro de uma construção exigida pelo novo trabalho, pelos três jovens músicos e talentosos que também participaram do disco. Pedro Sá (guitarra), Ricardo Dias Gomes (baixo e piano Rhodes) e Marcelo Callado (bateria) uma formação visivelmente rock´n´roll, onde Caetano compreendeu e aderiu a essa nova textura sonora sem perder o jeito baiano e brasileiro de ser. As guitarras sujas e distorcidas, o baixo cheio de groove e bateria seca proporcionaram baladas-rock para sambas, ambientação etérea e minimalista numa reverência total ao antológico CD “Transa” (1972), que teve um papel marcante na concepção do “Cê”, ou seja, na formação desse “power trio” impecável.

O lado especial do show foi quando Caetano revisitou o frevo “Chão da Praça”, de Moraes Moreira, e ensaiou passos da dança de forma cênica que lhe é peculiar quando está no palco. O outro foi quando uma geração roqueira do terceiro milênio com seus celulares congelando aquele momento único de Caetano Veloso cantando “Rocks”, o single do “Cê”. Os adolescentes interagiram com a música e o artista, que respondeu deitando e oferecendo a sua mão ao público e mais bis com “You Don´t Know Me” e “O Outro”, do “Cê”, que encerra definitivamente o show.

Enquanto uns comemoravam esse encontro, uma cidadã ao meu lado esperava que em algum momento aquele velho Caetano surgisse com aquelas músicas que a inspirava. A sua opinião é comungada com a grande maioria, mas prefiro o pensamento da grande minoria. Caetano é a transgressão em pessoa.

2 comentários para "Cê: uma transa legal"


  1. Anônimo

    Assisti ao show de Caetano em Natal, e fiquei com a mesma impressão. Aliás a crítica foi muito generosa com esse show. Na saída do show perguntei para outras pessoas e as respostas foram de decepção. Um artista fica anos sem aparecer, e quando volta faz uma apresentação para “cobaias” de um novo experimento. É no mínimo deselegante. O artista tem compromisso com sua obra, e não pode sair por ai dando “sopapos” no público. A memória da obra é emocional. Quem vai ao show quer lembrar uma emoção. Quer resgatar. O novo vem como complemento e não como prato principal.

  2. Miguel Ahid

    “prefiro o pensamento da grande minoria…”

    Adorei isso!
    Abração

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