TIM Festival: DJ Sany Pitbull faz a festa do funk

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Não é mais novidade que o funk anda entortando cinturas fora do Brasil. A apresentação do DJ Sany Pitbull na Fabric, uma das boates mais conhecidas de Londres (famosa pelas coletâneas que lança, mixadas pelos principais nomes da cena eletrônica mundial) é apenas o capítulo mais recente dessa invasão.

As batidas de Kraftwerk, Afrika Bambaataa e o Miami Bass pousaram nos bailes black dos subúrbios do Rio no início dos anos 80, sendo absorvidas e transfomadas no som simplesmente conhecido hoje como funk.

Vários “deejays” estão inclusos no ‘line up’ para divulgação, entre os quais, o DJ Marlboro, conhecido internacionalmente, além de Sany Pitbull, que surge como um outro embaixador do funk criado e consumido legitimamente nos morros cariocas.

Pitbull concedeu entrevista coletiva com o jornalista Pedro Sobrinho, onde falou do reconhecimento dentro e fora do Brasil, além do projeto “funk-chorinho”, desenvolvido em parceria com o grupo de choro Tira Poeira (RJ), e da apresentação no TIM Festival 2008, que acontece entre os dias 21 e 27 de outubro, em São Paulo, Rio de Janeiro e Vitória (ES). 

Blog: O funk produzido no Brasil expressa sensualidade na maneira como se dança. Como é entortar a cintura desengonçada dos gringos ?

Sany Pitbull: Engana-se quem pensa que os gringos são sabem dançar. São alegres,divertidos e prestam atenção no que você toca como se estivessem assistindo um espetáculo de Ópera. Eles ficam atentos aos sons, suas técnicas, a performance como um todo.

E se o que eles ouvem os agrada, eles dançam mesmo, se jogam na pista. O Funk Carioca consegue levar isso pra eles. Dançam na maneira deles, as vezes engraçadas, suam em bica., É uma novidade, onde se familiarizam como se conhecessem o Funk, como nós aqui no Rio de Janeiro. Acho o Maximo. Sou produtor e fico muito feliz quando sinto que meu trabalho tá levando um pouco de alegria para pessoas tão longe da minha realidade cultural. É o batidão “re-quebrado” do Funk entortando a cintura dos gringos.

Blog: O pancadão conquistou popozões alucinados pelo planeta inteiro, entrando em cena via os clubes mais centrais e não via os periféricos-favelados. Você enxerga como um fenômeno ou a valorização de uma vertente de extrema potência dançante ?

Sany Pitbull: Outro dia eu estava conversando com um maestro e professor de musica, expert em musica clássica, de uma faculdade em Belém, no Pará. Ele falou o seguinte: “Sany esse beat do Funk é alucinante, não tem como ficar parado, você começa a mexer o pé, logo mexe a cabeça e para colocar os quadris para remexer é muito rápido..” O Funk produzido no Rio de janeiro é muito diferente hoje do que foi o funk Norte Americano.

Claro que na maioria das vezes as referências são evidentes. Mas, nós transformamos aquele som lá da América que chegava via os bailes da década de 80 e devolvemos ao mundo uma coisa com um swing totalmente novo.

Pode até ser que alguém não goste da letra ou da mensagem, mas o ritmo é de não deixar ninguém parado.

Blog: Você já tocou em mais de 19 países. Esteve recentemente na Fabric, uma das mais conhecidas boates de Londres, considerada um templo da música eletrônica. Mas a sua residência como DJ está em um baile no morro do Cantagalo (RJ). O fato de mostrar o seu set de funk para duas realidades sócio-econômicas e culturais distintas lhe faz refletir e discutir a questão como um formador de opinião por meio da música ?

Sany Pitbull: Não, não me considero um formador de opinião. Acho que sou um cara feliz. Estou conseguindo me realizar profissionalmente, justamente com aquilo que mais amo fazer, que é tocar o meu som.

Claro, que me apresentar em dois mundos totalmente diferentes e conseguir ser respeitado pelos dois lados faz toda a diferença. Isso só foi possível porque o Cantagalo me ama e sabe que sou deles e nunca vou mudar.

Tocar na Fabric de Londres, ou na Finlândia, Estônia, França, Suíça ou Suécia ou qualquer lugar do mundo me faz ser respeitado também. Faço meu trabalho com humildade e respeito, seja em uma favela do Rio de janeiro ou em uma festa particular na boite mais rica do mundo.

Cumpro o meu papel que é emocionar pessoas com alegria e dança e se para isso eu tenha que tocar Bonde do Tigrão, Tati Quebra-Barraco, Mc Serginho e Lacraia ou Dire Straits, Justice,Daft Punk, Rolling Stones, Nirvana ou sei lá mais o quê vou tocar.. Mas é claro, sob a batuta do Funk.

Blog: Você se diferencia dos outros ‘deejays’ de funk por apostar na vertente instrumental do gênero. Na sua opinião, hoje em dia, o DJ tem que fazer o diferencial para conquistar um nicho, conquistar o reconhecimento ?

Sany Pitbull: Eu não tenho medo de misturar coisas no meu set. Essas misturas às vezes chegam ao ponto de duas pessoas dançando uma ao lado da outra não saber distinguir se o que estão ouvindo e dançando é musica eletrônica ou rock, ou se é Funk Carioca ou dance.

Isso na minha vida acontece desde criança onde meu pai, catarinense, ouvia Tonico e Tinoco, Teixeirinha e modas de viola. Minha mãe, baiana, gostava de Abba, Donna Summer e todas as musicas do filme “Embalos de sábado à noite”…

Por conta dessas influências, ficou fácil para mim misturar tudo com tudo, nesse gigantesco liquidificador musical que é o universo Funk.

O legal é que a alquimia dá certo e a pista não cai, todo mundo se acaba mesmo . Eu acredito que esse é o papel do DJ, ele está para emocionar pessoas, fazer as pessoas dançarem. Hoje com toda a tecnologia, Internet, equipamentos, sites de musica e etc..se ele não se destaca porque toca igualzinho a todos os outros DJs, ele cai no lugar comum.

Portanto, tem que fazer o diferencial, sem cair no ridículo. Pode levar tempo. Esperei 22 anos, mas o reconhecimento veio.

Blog: Como você se sente tocando uma vertente que foi absorvida como modo de vida, resistência cultural, nos morros de Rio de Janeiro?

Sany Pitbull: Hoje no Rio de janeiro, uma criança não sabe falar direito, mas já dança ao som do Funk. Pode não saber cantar aquele hit das rádios FM, mas sabe a letra inteirinha do MC da sua favela.

O funk no Rio não tem mais jeito, não tem mais volta. Graças à Deus virou raiz, está na cultura, não só dos morros mas em todos os cantos da minha cidade…

E como aconteceu com o samba no passado que desceu o morro, ganhou o mundo e hoje é reconhecido Patrimônio Cultural Brasileiro. O funk carioca vai chegar lá também. É questão de tempo.

Eu faço a minha parte feliz da vida… Seja tocando na favela ou na festa pop da moda, ou fazendo músicas para filmes como o “Era uma vez” do diretor Breno Silveira, “Favela on Blast” do Leandro HBL e do Dj Diplo.

Vou fazendo a minha trajetória. Cantando e fazendo cantar, dançando e fazendo dançar, me emocionado e emocionando também. Nós cariocas somos especialistas em fazer festa. Vamos festejar. E se for ao som do funk, melhor ainda.

Blog: Você é o que poderíamos definir como um DJ cosmopolita. No seu set, você costuma fundir o pop internacional de White Stripes, Justice, Eurythmics, Queen,. Nirvana) com boas doses de funk carioca, muitas das vezes feitas ao vivo. Gostaria que você falasse da experiência brasileira com o grupo de chorinho Tira Poeira ?

Sany Pitbull: O convite partiu do Sergio Krakovisk, o cara do pandeiro, o cara do ritmo do Tira Poeira. Ele observou que desenvolvo uma mistura de sons do tipo gongos japoneses com berimbau de capoeira.

Na visão do Sergio essa mistura de chorinho e Funk também daria em uma coisa muito boa. Ele me mostrou a musica “O Morro Não Tem Vez” de Tom Jobim e Vinicius”. Fui apresentado aos músicos do grupo e partimos para o estúdio.

Foi incrível a experiência e melhor ainda o resultado. A musica saiu no CD deles “Feijoada Completa” e é sucesso de crítica. Virei amigo do grupo, já fizemos arranjos para outras musicas e eu já me apresentei como convidado em alguns shows do Tira Poeira.

Estamos preparando um especial com releituras de clássicos e musicas inéditas. A idéia é gravar um DVD e rodarmos o mundo com esse projeto. Temos públicos diferentes, trabalhos diferentes e uma linguagem totalmente oposta, mas o resultado: sensacional.

Blog: É a sua primeira aparição no TIM Festival e que o você tá reservando para o público ? Dá para adiantar ?

Sany Pitbull: Alegria e diversão ! É isso que eu quero levar e oferecer pra galera. Teremos algumas boas surpresas e participações muito especiais.

Uma delas já posso adiantar, o grupo Tira Poeira vai tocar comigo ao vivo “O Morro Não Tem Vez” . O Daft Punk garantiu presença virtual na festa (rsrsrsrsrsrs), Rolling Stones, Nirvana, Madonna, Justice, Iggor Cavalera e até Amy Winehouse vão virar Funk Carioca.

Blog: Qual a melhor audição para Sany Pitbull no TIM Festival ?

Sany Pitbull: Quero assistir o The Gossip e o Klaxons, já ouvi falar muito bem dessa galera e claro o Dj Dolores, Database . Quero rever o Switch, já o ouvi tocar no Fabric em Londres. Tô sabendo que ele tá preparando coisas muito especiais para o público do TIM Festival.

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