Fé na Festa

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Dez anos depois de mergulhar sua guitarra no universo das festas juninas, Gilberto Gil volta a versar o mesmo tema em seu novo CD, Fé na festa, primeiro da parceria do selo Geléia Geral com a gravadora Universal. Mas, ao contrário do trabalho anterior, nesse álbum Gil mostra repertório quase todo autoral e inédito reafirmando sua devoção nas festas brasileiras.

gilio

Fé na festa é um disco de digestão fácil sem, no entanto, perder em qualidade. Animando o baile, Gil deixa de lado suas habituais letras filosóficas e valoriza xotes, xaxados e baiões de amor. Das melhores composições do novo disco, O livre-atirador e a pegadora é a primeira escolhida para tocar nas rádios. Com forte pegada popular, a letra fala sobre o amor livre e cita grupos blockbuster como Timbalada, Babado Novo, Psirico e Calcinha Preta. Namorando a cultura de massa Gil acerta em uma levada que tem cara de hit nobre.

Mas irresistível mesmo é o arrasta-pé arretado Assim, sim que vem a seguir. A música contagiante é digna de entrar no repertório de Gil independente do projeto temático. O disco apresenta outras boas composições recentes de Gil como Vinte e seis, letra que junta seu aniversário (26 de junho) aos festejos. “É que só no meu caso especial / Por acaso, aqui, pra mais dois ou três / Vinte e seis virou dia de natal / E nesse caso junho foi o mês (…) Diferente do parabéns normal / Eu vou cantar um parabéns baião”.

Na canção Não tenho medo da vida Gil dialoga com Não tenho medo da morte, de seu último trabalho: “Viver é saber subir, alcançar a nota lá / Lá no ponto de ferir, se preciso até sangrar”. Gil divide com Nando Cordel a composição de São João carioca, na tradição das quadrilhas. Com Vanessa da Mata apresenta a gostosa Lá vem ela que fecha o disco, com destaque para o acordeom de Toninho Ferragutti.

Entre as treze faixas do disco, quatro não são inéditas. Gil retoma com novo arranjo Norte da saudade, do repertório de seu clássico Refavela de 1977. Outra ótima releitura é para Aprendi com o rei, reverência do compositor João Silva ao mestre rei do baião Luiz Gonzaga que Gil apresenta e engata com Dança da moda, parceria de Gonzagão com Zé Dantas.

A festa de Gilberto Gil tem comemoração de ritmos nordestinos e devoção religiosa. Dez anos depois do intérprete de se debruçar sobre a obra dos mestres, Gil dá sua própria visão como compositor. Sua obra sempre teve ligação íntima com esses ritmos e festas, nada mais natural que o projeto acontecesse celebrando as datas, os santos e a música.

por Beto Feitosa

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