Transformação Cultural

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Na véspera da estreia da seleção sul-africana na Copa do Mundo, 900 mil pessoas foram às ruas de Joanesburgo para demonstrar o apoio ao time. Negros e brancos unidos promoveram uma das cenas mais marcantes do Mundial. Transformaram uma carreata em um símbolo de um dos maiores legados do torneio: a união dos sul-africanos.

Em um país marcado historicamente pela segregação racial, a festa conjunta em torno de uma seleção de futebol era inimaginável anos atrás para muitos que estiveram ali. Essa mudança de percepção sobre o país é destacada por economistas e empresários como um dos maiores legados do primeiro Mundial sediado no Continente Africano.

“Isso não tem preço”, afirma o professor e membro do Conselho de Pesquisas em Ciências Humanas da África do Sul, Udesh Pillay. “Governos, a mídia, os turistas e a própria população reconheceram as mudanças ocorridas aqui. Este é um legado muito importante.”

Coautor de um livro sobre os efeitos da Copa deste ano sobre a África do Sul, ele diz que é difícil saber o quanto essa mudança trará de benefícios mensuráveis. Entretanto, ratifica que o campeonato certamente causará avanços em vários setores.

Para Nereu Rau, presidente da Câmara de Comércio e Indústria da África do Sul, só o fato de o país ter promovido um Mundial bem-sucedido já derruba teses preconceituosas sobre a região. “Mostramos ao Mundo que a África do Sul também é capaz”, afirma Rau. “Agora, temos que trabalhar para que essa capacidade se transforme em oportunidades.”

Popularização da bola

O futebol não é o esporte mais popular na África do Sul. Na televisão e nos estádios do país, os jogos têm menos espaço do que os de rugby e os de criquet. A Copa do Mundo, entretanto, deve mudar essa situação. Técnicos e empresários apostam que a realização do torneio vai popularizar o futebol e fazer com que ele se desenvolva no país.

Segundo eles, depois da Copa, a África do Sul terá toda a estrutura necessária para que torcedores e atletas se interessem pelo esporte. O país terá pelo menos dez estádios de alto nível e também patrocinadores interessados em explorar a paixão pelo esporte despertada pelo Mundial.

“A Copa do Mundo levantou o futebol na África do Sul”, diz o presidente da Liga Sul-Africana de Futebol, Kjetil Siem. “Aumentou o interesse de empresas e acelerou negociações. Temos que aproveitar o momento e trabalhar para fazer o esporte prosperar definitivamente aqui.”

A Premier Soccer League, primeira divisão do futebol profissional da África do Sul, tem 16 times e 14 anos de história. Atualmente, recebe em média 11 mil espectadores por jogo do seu principal campeonato.

Esse número está muito aquém dos pelo menos 40 mil lugares disponíveis nas arenas que receberam os 64 jogos do Mundial deste ano. A construção e a adequação desses estádios, porém, é vista como mais um avanço trazido pela Copa do Mundo ao futebol sul-africano.

De acordo com o ex-técnico da seleção do país e da seleção brasileira Carlos Alberto Parreira, os estádios da Copa são os melhores do mundo, por serem bonitos, confortáveis e seguros.

Parreira diz, contudo, que a chave do sucesso do futebol está no investimento nas crianças e adolescentes. Ele espera que, depois da Copa, empresários e o governo abram seus olhos para as categorias de base do futebol e financiem a formação de novos jogadores. “A África do Sul só surgirá como potência se investir em jovens atletas.”

Escolhido há 15 anos o melhor jogador do mundo, George Weah ratifica o discurso de Parreira e diz que ele é válido para outros países africanos. Liberiano, Weah diz que a primeira Copa sediada no Continente Africano será benéfica ao futebol de todos os países da região. Ressalta também que os benefícios só serão atingidos em todo o seu potencial se essas nações investirem em jovens jogadores e nas ligas nacionais.

“Os melhores jogadores africanos jogam no exterior”, afirma Weah. “Os técnicos dos times africanos não conseguem trabalhar com esses jogadores. É preciso investir nas categorias de base das seleções e, depois, manter os atletas no país.”

Para ele, com essas mudanças estruturais, os países africanos podem obter resultados muitos melhores do que os dessa Copa nos próximos mundiais. “Os times africanos têm potencial para serem campeões”, afirma.

Fonte: Agência Brasil

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