A Sinfonia de Baticum de Madian

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O encontro já está marcado com o público exigente e antenado de São Luís. Neste domingo, 30 de setembro, no palco externo do Ceprama, às 22 horas, o artista maranhense Madian faz o show de lançamento do seu primeiro CD, intitulado “Sinfonia de Baticum”. O disco, 100% autoral, teve a direção musical e arranjos do Maestro Vidal França. O lançamento ocorre no projeto BR-135, parceiro da 1ª Mostra de Cultura Ativa, idealizado pelo Sebrae-MA.

“Minhas músicas fazem apenas perguntas, questionamentos. Minhas letras são resenhas. São conclusões de um cara que usa os dois lados do cérebro. É preciso gostar do inesperado, ouvir sem preconceitos”, alerta Madian.

O “Sinfonia de Baticum” possui 10 faixas (ver Box) com arranjos intrincados, ritmos complexos, melodias desconcertantes e letras que versam sobre a vida, ciência e a arte. No prefácio do encarte da obra, escrito por um dos parceiros de Madian, Augusto Delós, é possível vislumbrar a proposta musical do artista. Escreve Delós: “Esta obra que o leitor/ouvinte tem em mãos, resume o fruto de mais ou menos uma década de composições. Madian fez prevalecer a diversidade. Da primeira a última faixa estará ali, quase palpável, a sua cidade natal, o campus da UFCG, o sertão nordestino, as preocupações políticas e ambientais, as reminiscências de infância, a poesia telúrica”.

Harmonias não convencionais, mudanças de andamento, melodias em contracanto, o uso de instrumentos eruditos mesclados com os modernos e o trabalho de percussão e ritmo bem acentuado forçam o ouvinte a um exercício rumo ao entendimento do inesperado. “Não quero soar falso nem raso. Eu acho que tem que ser abissal. Lá embaixo é que mora a sapiência, a profundidade das coisas. Tudo está dentro de tudo”, filosofa Madian.

O Show

Madian sobe ao palco com um time de músicos experientes, alguns deles inclusive participaram da gravação do disco. A banda “O Escarcéu” é composta por Érico Monk (guitarra e direção musical), Oliveira neto (bateria), Miguel Ahid (contrabaixo), Rodrigo Sencial (violão), Jorge Paco (percussão), Jeff Soares (violoncelo), Danilo Santos (clarinete), Andrea Canta e Thizar Costa (backing vocal).

O diretor musical do show, o guitarrista Érico Monk, explica que a ideia da apresentação de hoje é executar os registros do disco com clima de show ao vivo. “Esse desafio é singular pra todos os músicos”. Além de estar a frente da guitarra elétrica e da direção musical, Monk também foi o responsável pela direção de arte e projeto gráfico do “Sinfonia de Baticum”, que na capa traz um quadro do artista plástico maranhense Fransoufer.

O show também terá a presença ilustre do maestro Vidal França, responsável pelos arranjos das canções. Vidal foi maestro titular da extinta RCA Victor, onde trabalhou com nomes como Chico Buarque de Holanda, Simone, Paulinho da Viola, Xangai, entre outros.

A banda promete também apresentar canções inéditas que devem ser trabalhadas no próximo disco. O convite está feito. Nas palavras de Madian: “o universo é aqui”!

CD SINFONIA DE BATICUM – FAIXA A FAIXA

ESPÍRITO

Essa música trata do impulso inicial de coisas físicas e metafísicas. Nada é estático desde que seja impulsionado. Metaforicamente, esse impulso inicial em Espírito é o fogo. Será que autoabraço funciona? A música faz essa pergunta ao ouvinte.

CANTO DE RESPOSTA

É uma parceria com Augusto Delós, amigo da palavra. Esse cara interage comigo como se tivesse dentro da minha cabeça. Canto de Resposta fala de Alcântara e dos conflitos advindos da construção do Centro de Lançamento de Foguetes.

Essa faixa conta com a participação especial de Tião Carvalho.

 JIHAD

Jihad tem vários significados. Ela dá uma volta nos conflitos árabes. Minha origem é árabe. Por imposição do cinema moderno, criou-se uma imagem distorcida desse povo. É um lamento. Essa é a minha interpretação do livro sagrado Alcorão.

 SÃO LUÍS

É um blues que fala da capital do Maranhão. Um texto que retrata a nossa cidade. Composta em parceria com Augusto Tampinha, grande compositor, gravado por Alcione e outros medalhões. Um sambista primoroso que pariu esse blues comigo.

SENHORINHO

Essa música foi inspirada em René Descartes. Parceria com o violonista Rodrigo Sencial e um amigo de Campinas, Flavio Sampaio. Senhorinho é um convite a repensar as coisas, nossas atitudes e posturas diante dos fatos da vida.

UM REI

Essa canção remete ao Teorema de Tales e seus paralelos. Uma parceria com meu primo Aquiles Andrade. A música é um conto sobre um rei muito vaidoso e ao mesmo uma análise da nossa primeira guerra televisionada. Esse ‘rei’ pode ser o Bush pai ou filho dele, o tal canalha de farda. É um relato bem humorado da história contemporânea do mundo.

TODAS AS BORBOLETAS

A primeira música de verdade que eu fiz. Uma parceria com o poeta paraibano Ale Maia. Fala sobre a Teoria do Caos. Sobre encontros aleatórios que acontecem. Buscamos inspiração nisso e nas transformações que essas coisas podem causar nas pessoas.

CHORO TAMBÉM

Parceria com o meu pai. Surgiu de uma conversa séria, da declaração oficial e definitiva que fiz a ele: “Pai, eu sou um compositor, um músico, não engenheiro”. Sentimento nobre.

VALSA MODERNA

Uma declaração de amor para a minha madrinha, uma música para que ela ouvisse e se visse nela. Tia Zuleika foi a responsável por eu ter me tornado músico. Influência de Strauss nas melodias e arranjos. Eu acho Valsa Moderna singular, pois repete o refrão diversas vezes.

 PERAMBULEIO

 O título é uma palavra que não existe em nossa língua. Coisas de Guimarães Rosa, mestre. Perambuleio vem de perambular, passear. A música retrata o caminhar de um cara que em um dado momento pensa ser um miolo de boi. Um sertanista, um cangaceiro. O sujeito está em busca de respostas diversas sobre a vida, sobre quem é ele, sobre caminhos a trilhar… Chega à cidade grande, paulistana, cosmopolita, mas não se deixa engolir e nem esquece suas origens. Ao final, chega a uma conclusão. Diz a letra: “Sei que sou do mato, serei caipira. No cofo mil flechas que podem mais que as suas seis balas”.

TEXTO: MIGUEL AHID – MÚSICO E JORNALISTA

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