Fernando Moura em Trilha Para Cinema

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O músico, arranjador e produtor, Fernando Moura, desembarca em São Luís, para ministrar um Curso de ‘Trilha para Cinema’, de quarta (29) a sexta-feira (31), das 14h às 17h30, no Cine Praia Grande, como parte da programação da 6ª edição do Maranhão na Tela, aberto no último dia 23 e vai até sexta-feira (31), na capital maranhense. Voltado para músicos, neste curso serão vistas questões relativas a importância da trilha sonora e de seus recursos no contexto de um filme, programa de TV ou multimídia. As atribuições da trilha sonora para uma peça visual e suas possibilidades no mercado de trabalho profissional.

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Em conversa com o BLOG, Fernando Moura disse que as estratégias para estimular a criatividade musical são: trabalho, procura, pesquisa, curiosidade. Falou também de suas influencias musicais e dar experiencia em tocar no Japão e com George Martin, considerado o quinto Beatle. E quando o assunto é fazer trilha sonora para cinema, Moura define: “fazer trilhas sonoras é colaborar para estabelecer uma linguagem audiovisual, é uma especialidade dentro da música, os parâmetros não são os mesmos da música para ouvir, que por sua vez, como voce sabe, não são os mesmos da música que faz dançar”.

PEDRO SOBRINHO – Além de instrumentista, voce é um especialista em trilhar (no sentido mais literal da palavra) meios para a criação de música para imagem. Trabalhar com trilhas sonoras requer um conhecimento além da música em si ?

FERNANDO MOURA – Acho que é muito importante gostar e conhecer cinema. Fazer trilhas sonoras é colaborar para estabelecer uma linguagem audio visual, é uma especialidade dentro da música, os parâmetros não são os mesmos da música para ouvir, que por sua vez, como voce sabe, não são os mesmos da música que faz dançar. O virtuosismo instrumental tem que dar lugar muitas vezes a uma generosidade artística em prol da narrativa acontecer, do espectador viajar na parada. Não são todos os músicos que conseguem se libertar de certos dogmas musicais e fazer a passagem para o mundo das trilhas sonoras, e mesmo os que fazem, podem ter eventuais recaídas. (rs)

PEDRO SOBRINHO – Ser criativo é um talento nato ou é algo que qualquer um pode desenvolver ?

FERNANDO MOURA – Stravinsky dizia que música para ele era 10% inspiração e 90% transpiração. Ele compunha tres a quatro horas por dia até os 90 anos e não temos dúvida sobre seu talento… (rs)

PEDRO SOBRINHO – Existe uma estratégia para estimular a criatividade musical ?

FERNANDO MOURA – Trabalho, procura, pesquisa, curiosidade. Inspiração existe, mas é preciso que você esteja trabalhando quando ela vier te visitar, o que não pode ser nenhum sacrifício, tem que ter prazer no que se faz.

PEDRO SOBRINHO – Tem uma corrente da música que defende o autodidatismo. Na sua opinião, o estudo teórico de música é essencial na vida do músico ?

FERNANDO MOURA – A música é tão maravilhosa que permite que você a aborde de várias maneiras e de vários ângulos. Já tive o oportunidade de trabalhar com gênios musicais brasileiros que não lêem uma nota musical, mas ouvem tudo. e já tive que aturar chatos teóricos incapazes de se expressar através da música. Penso que quem tiver oportunidade de estudar teoria, deve tentar, porque a diferença entre gênios autodidatas e preguiçosos, autoindulgentes, às vezes, pode ser difícil de perceber. Estudar é sempre legal, sempre abre os caminhos.

PEDRO SOBRINHO – A tecnologia tem favorecido muito no seu processo criativo ?

FERNANDO MOURA – A música está na cabeça, vai para os dedos e tem que vir ao mundo. Papel e lápis são uma tecnologia, computadores e softwares são outra. Dependendo da demanda do trabalho uso uma ou outra ou alguma combinação delas. Um tema de abertura para um programa de TV pode ser feito até cantando a melodia num telefone celular. Um BG para uma cena de ação de cinco minutos fica mais fácil de ser feito num computador, mas as idéias é que dominam o processo. Como trazê-las ao mundo é outra coisa.

PEDRO SOBRINHO – O universo tecnológico gira a todo instante. Surgem novas versões de softwares, além de novas ferramentas para gravação. Como lidar com o excesso de informação na hora de criar ?

FERNANDO MOURA – Sofri muito porque não tinha grana para comprar um Yamaha DX7 na época em que todos os músicos já tinham um… (rs). Agora não sofro mais porque tenho isso ou não tenho aquilo. O mais importante é como você o usa o que tem.

PEDRO SOBRINHO – Voce gosta de fazer mais trilha para TV, cinema ou teatro ?

FERNANDO MOURA – Tem as louras, as morenas, as mulatas e as ruivas… (rs). São todas maravilhosas… (rs) Importante é estabelecer uma boa comunicação com o diretor.

PEDRO SOBRINHO – Voce vai falar sobre Trilha de Cinema em curso para os amantes do genero em São Luís. Qual a leitura que voce faz dessa troca de experiencias, informações, em outros ‘habitat’ brasileiros ?

FERNANDO MOURA – Melhor que falar, é ouvir. Ouvir o que as pessoas tem a me dizer sobre a visão delas de trilhas sonoras, de cinema e música para multimídia. Esse é, sempre o maior barato dos workshops que faço. E infinitamente mais rico que ficar batendo papo com colegas sobre o último filme do John Williams ou a nova versão do Pro Tools… (rs)

PEDRO SOBRINHO – Você estudou trilha de filme na Escócia. O que esse período de estudos e pesquisa acrescentou na sua carreira?

FERNANDO MOURA – Aprendi a parte técnica com quem sabe mesmo de verdade. Isso me deu uma segurança muito grande para aplicar minhas idéias musicais ao mundo da informática, que engatinhava então nesse período (1995/1997). Saí daqui como diretor musical da Elba Ramalho com dois roadies 24 horas por dia à minha disposição. Carreguei teclados naquele clima glacial de Edinburgh e trabalhei com softwares que nunca tinha vista na vida (trabalhava com um Atari aqui no Rio) e aprendi que em todo lugar tem gente legal, e mais ou menos pentelha… (rs)

PEDRO SOBRINHO – Que gênero de música mais lhe influenciou? Que músicos foram essenciais para a sua formação?

FERNANDO MOURA – Venho da música erudita, mas isso faz muito tempo… Stravinsky, Bartok, Bill Evans, Keith Emerson, Chick Corea, Miles Davis, Stockhausen, Villa Lobos, Tom Jobim… a lista é enorme. Mas o principal é manter sempre os ouvidos bem abertos, não se acomodar e não achar que a existe a música “certa”.

PEDRO SOBRINHO – Como foi trabalhar com George Martin, considerado o quinto “Beatles” ?

FERNANDO MOURA – O cara é bacana, os arranjos são realmente incríveis e é uma emoção muito grande tocar aquele medley do Abbey Road dentro da orquestra, os violoncelos de Eleanor Rigby e dar a introdução de Let it Be ao piano. Mas ele aprendeu bastante aqui no Brasil também.

PEDRO SOBRINHO – Como foi a experiência de tocar no Japão, país onde a música brasileira é bastante apreciada ?

FERNANDO MOURA – Como dizem eles, subarashi, maravilhoso. É um povo que sabe ouvir e, ao contrário do que às vezes parece. Tem muita sensibildiade e curiosidade. Não são robôs sistemáticos dos seriados de TV dos anos 60… (rs)

PEDRO SOBRINHO – A quantas anda o processo de criação de Fernando Moura na atualidade ?

FERNANDO MOURA – Comecei a gravar com parceiro Ary Dias o próximo Cd do duo CosmeDamião. Li os emails de felicitações do GNT para o promo do seriado “Arte Brasileira”, dirigido pelo Alberto Renault que assino a trilha sonora original.

PEDRO SOBRINHO – Qual a receita para quem quer viver de música que fuja do senso comum ?

FERNANDO MOURA – Curiosidade e entrega. Não dá prá fazer por menos!

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