Lui Coimbra acredita na nobreza da Música Brasileira

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Em sua passagem por São Luís, como diretor musical e integrante da banda que acompanhou Cecília Leite no show da turnê nacional de lançamento do CD “Enquanto a Chuva Passa”, realizado na última quinta-feira, dia 23/9, no Teatro Artur Azevedo, em São Luís, tive o privilégio de conversar, no dia seguinte, em um hotel da capital maranhense, com o músico carioca Luis Cláudio Coimbra, conhecido como Lui Coimbra. O multiinstrumentista conta como descobriu sua vocação artística, fala de parcerias maranhenses, comenta sobre projetos solo.

Violoncelista Lui Coimbra em entrevista ao jornalista Pedro Sobrinho. Foto: Divulgação
Violoncelista Lui Coimbra em entrevista ao jornalista Pedro Sobrinho. Foto: Divulgação

Multimúsico – Versátil por tocar vários instrumentos de cordas, dentre eles, o violão, violoncelo, charango e rabeca, Lui é também cantor e compositor. Faz parte dos grupos Aquarela Carioca. Por anos acompanhou artistas de peso (em estúdio e em shows), como Zizi Possi, Ney Matogrosso, Alceu Valença, Ana Carolina e Oswaldo Montenegro.

Em 2004 lançou seu primeiro CD solo, “Ouro e Sol”, pela Rob Digital, resultado de uma parceria com vários amigos músicos.

Pluralidade – Quando questionado por mim sobre o equílibrio que faz com a erudição do violoncelo e a diversidade musical brasileira, Lui Coimbra afirmou que não é “jazzista”, mas se definiu como um “violonceleiro”. E o que traduz o seu trabalho é a busca pela sonoridade que absorva influências univeral, mas que mantenha suas raízes bem aprofundadas no fértil solo brasileiro.

A influência do clã está presente na vida do artista. Ele se refere ao pai, que lhe deu o primeiro violão aos dez anos.

– A partir daí, descobri essa paixão pela música, tocava no colégio, meio autodidata. Aos dezoito anos tive uma base teórica, tranquei a matrícula na faculdade de agronomia e fui tocar violoncelo. Quando percebi estava tocando com Caetano Veloso, Aquarela Carioca, Vagner Tiso, Zeca Baleiro, Ana Carolina e fazendo turnê pela Europa – descreve.

Ao tocar o seu violoncelo, instrumento predileto e projeção, o músico convida o ouvinte a viajar por espaços, cores e aromas de um Brasil muito particular, por vezes comoventes.

Além de tocar vários instrumentos de cordas, Lui revela-se um cantor com uma voz consistente e afinada, além de ym compositor de grande talento. No show de Cecília Leite, ele teve o seu momento solo ao interpretar duas músicas, entre as quais, “Melodia Sentimental”, de Heitor Villa-Lobos” e “Babylon”, de autoria de Zeca Baleiro, num “duo” de voz e violoncelo, deixando a plateia impressionada com o requinte e o compromisso que tem despertar nas pessoas que não existe música boa ou ruim, brega ou chique, popular ou pra pular, preta ou branca, mas, sim, uma arte para ser apreciada e consumida sem qualquer tipo de preconceito.

E quando a abordagem foi sobre a afinidade que ele tem com a musicalidade maranhense, citou como referências os contatos com os trabalhos de Cecília Leite e Zeca Baleiro.

– Eu já tinha participado do primeiro disco de Cecília Leite. E ela me chamou atenção por ser uma voz nova, uma promessa dessa música brasileira de uma diversidade gigantesca, cujo objetivo como músico é manter esse contato. Ela me convidou para direção musical do seu segundo disco. Aceitei o convite e vim participar do show de lançamento do trabalho em São Luís, num show nesse lindo e imponente teatro que é o Artur Azevedo. Com Zeca, o meu contato teve início na época do Líricas. Foi uma relação maravilhosa, de companheirismo, camaradagem na música. Zeca é um dos grandes artistas brasileiros. Choveu no molhado, o cara é muito craque, um poeta de mão cheia. Vou ter uma música dele neste cd solo que tá saindo. Chama-se “Valsa para Senhora Deu”, música inédita. A melodia eu já tinha e ele botou a letra. É um querido. Gostaria de estar mais perto dele. Mas, às vezes não dar perto de todo mundo ao mesmo tempo – elogia.

Orquestra de Sonoridades – Durante o bate-papo, Lui Coimbra destacou, também, o dueto com o percussionista Naná Vasconcelos, que morreu em 9 de março deste ano, no Recife. Para ele, tocar com Naná Vasconcelos foi um momento ímpar em sua carreira. Além de se sentir ao lado de um dos maiores nomes da percussão no mundo, Lui lembrou do show que fizeram juntos no Teatro Amazonas, como parte da programação da Copa do Mundo no Brasil, em 2014, e comentou sobre a homenagem feita a ele com a criação de uma música.

Fiz um concerto no Teatro Amazonas com Naná Vasconcelos, durante a Copa do Mundo. Naná está sempre presente em minha vida. Ele foi uma bênção em minha vida. Fizemosum duo montado em show solo que Naná que já tinha há alguns anos, chamado “Batendo o Coração”. Ele me convidou para entrar dentro do universo dele, sempre uma coisa mágica. Naná sempre abria o show com o solo de berimbau famosissímo dele e eu ficava lá atrás rezando.O que eu vou fazer do lado desse cara ? Ah, segura na mão de Deus e vai. Porque Naná é muita arte, muita magia. Além de ser esse músico maravilhoso, tornou-se um grande amigo, uma pessoa que foi sempre carinhoso comigo, um incentivador. Enfim,  uma pessoa que sinto falta. Agora, tenho que buscar um contato pra sentir a presença dele. Foram quase dez anos de convivência com Naná e ele é uma pessoa que vai estar sempre presente – destacou.

Disco – E sobre o primeiro trabalho solo, lançado em 1997, intitulado “Ouro e Sol”, Lui disse que o disco é resultado de uma parceria com vários amigos, onde se posiciona como instrumentista, intérprete e compositor. Um marco na carreira de um artista que não gosta de ser apenas coadjuvante.

Tour – E aí, quando vai fazer show solo em São Luís ? Lui garantiu que pretende retornar para conhecer os Lençóis Maranhenses e apresentar o seu trabalho solo para os ludovicenses. Disse que existe a possibilidade de vir e tocar com os músicos que acompanharam Cecília Leite no show no TAA, o qual rasgou elogios a todos, especialmente, ao pianista e acordeonista Rui Mário. Ou, talvez, venha com os músicos que já o acompanham em turnês. Depois do bate-papo, Lui aproveitou para curtir o sol, mar e a areia da praia do Calhau, em São Luís, cidade em que diz ter muita afinidade.

Enfim, no contato breve com Lui Coimbra constatei estar diante de um músico de 56 anos, cheio de jovialidade, inquieto, detalhista, lúcido com relação ao mercado musical, cheio de ideias e projetos solo, que acredita na nobreza da música brasileira.

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