Depressão: desafio da próxima década

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Depressão: desafio da próxima década

Para a Organização Mundial de Saúde, as depressões são problemas de saúde pública, considerando que 20% das mulheres e 10% dos homens podem apresentar depressão ao longo de suas vidas. Também segundo a OMS, em 2030 a depressão deverá ser o problema de saúde mais frequente do mundo, afetando mais pessoas do que qualquer outro, inclusive as doenças cardiovasculares e as neoplasias. Portanto, a depressão é um grande desafio atual e para o futuro da humanidade.

A meu ver, a perspectiva mais adequada e efetiva para a abordagem das depressões é a pluridimensional ou biopsicossocial. O uso de fármacos antidepressivos é importante, mas a relevância das terapêuticas psicossociais nos transtornos depressivos não pode ser neglicenciada no arsenal terapêutico. O primeiro passo para orientar o tratamento é o diagnóstico para que se possa formular a estratégia terapêutica mais adequada. Quando se está diante de uma depressão, é fundamental a diferenciação diagnóstica entre transtorno bipolar, transtorno depressivo maior e distimia.

Esta última é denominada também neurose depressiva ou depressão reativa. A diferenciação é fundamental para a decisão terapêutica. Os dois primeiros são transtornos do humor que requerem o uso de psicofármacos, notadamente estabilizadores de humor para os bipolares e medicamentos com efeitos antidepressivos para as depressões maiores, enquanto a distimia, neurose depressiva ou depressão requerem principalmente tratamento psicoterápico.

O que quero destacar é que, não raro, na divulgação feita na mídia do tratamento das depressões, a ênfase recai sobre a abordagem biológica-medicamentosa, ao invés de incidir na abordagem pluridimensional,recomendada pela literatura internacional no campo da saúde mental.

Tal recomendação fundamenta-se em resultados de pesquisas por amostragem de pacientes portadores de depressões, comparando os resultados de três modalidades de tratamentos:

1) pacientes tratados exclusivamente com antidepressivos

2) pacientes tratados exclusivamente com psicoterapia; e 3) pacientes que receberam abordagem terapêutica combinada de psicofármaco e psicoterapia.

Evidenciou-se que este último grupo teve resultados terapêuticos superiores aos anteriores, que usaram exclusivamente medicamentos e psicoterapia. Desse modo, nas depressões maiores, seja de tipo bipolar ou unipolar, a medicação é indispensável, mas a psicoterapia melhora ainda mais os resultados terapêuticos. Nas distimias, neuroses depressivas ou depressão reativa, as psicoterapias são as indicadas, ainda que possam algumas vezes necessitar também do uso de antidepressivos.

Quanto às modalidades psicoterápicas recomendadas para as depressões, novamente vale a pena recorrermos às pesquisas como norte de indicação desse recurso terapêutico. Nas pesquisas quantitativas, a terapia cognitiva comportamental, ou TCC, é a primeira modalidade de psicoterapia recomendada, mas, nas pesquisas qualitativas, a psicanálise e a psicoterapia psicanalítica são as modalidades de psicoterapia mais recomendadas. Enfim, existe lugar tanto para a TCC, como para as psicoterápicas psicanalíticas e psicanálise na terapêutica das depressões, sendo que, nas depressões de média e grande gravidade, precisam ser associadas à terapêutica antidepressiva, enquanto que nos transtornos bipolares torna-se, também, indispensável o uso de estabilizadores de humor.

Por fim, fica a questão: por que será que, em geral, a ênfase é dada à terapêutica medicamentosa ao invés de uma abordagem biopsicossocial que tem evidência científica inquestionável?

  1. Theodor Lowenkron é psiquiatra e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro

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