Da humildade

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Por José Sarney

Depois da rotina das pesquisas de opinião, governar ficou mais humilde. O poder tem muitas definições e é acusado de produzir muitos efeitos. É considerado perigoso, com aspectos transgênicos que transformam normais em super, fracos em fortes, fortes em débeis, ignorantes em sábios, sábios em bobos, honestos em amorais e estes em respeitáveis criaturas. Aguça vaidades, constrói cegueiras, instiga a maldade e, não raro, transforma virtuosos em pecadores. Mas há os que nele descobrem outras virtudes, como Clinton e Kissinger, que o consideram afrodisíaco, sedutor e sensual. Há os que o vivem como sublimação de vaidades e prazeres. Tem todos os gostos.

Mas o poder político, síntese de todos os poderes, é nobre. Intrinsicamente é bom, seus pressupostos são o governo da sociedade e o bem geral, construído ao longo do tempo, para possibilitar o ordenamento da sociedade e do Estado. Os antropólogos acompanharam o surgimento do poder (como nasceu, como se estruturou, a quem serviu) desde as tribos primitivas até a sofisticação dos tempos atuais, como um instrumento necessário aos níveis de conviver.

Como a criação do homem tem duas faces, é tudo isso e nada disso. O poder, por definição, dá às pessoas a faculdade de se fazer obedecer, pela força, por outras pessoas. É uma arma tão perigosa que Deus, detentor absoluto de todos os poderes, se revelou para não exercê-lo e sufocar o livre arbítrio da criação. E, assim, foi humilde.

O poder se desdobra.

Há poder pessoal e há poder coletivo, mas este, em geral, transforma-se em pessoal,pela tendência a ser delegado. Weber diz haver uma espécie de poder pago pela sociedade, entre cientistas, que não deve ser exercido “como empresarial”.

O poder é sempre ardiloso. No terreno abstrato, a religião tentou cercá-lo pela invocação de preceitos morais. No campo da realidade, criou-se a lei, um poder atemporal e impessoal, como uma maneira de enquadrar os governos, o Estado de direito, das leis e não dos homens, com o controle de um poder sobre o outro, na busca de equilíbrio e harmonia.

Destaco uma característica no poder que deve ser meditada por todos que o exercem: o princípio e o fim. Quando acaba, não resta nada. Plácido Castelo, antigo governador do Ceará, numa imagem simples, falava que o “poder é uma caneta com prazo marcado”. Quando acaba a tinta, não escreve mais. É o que está acontecendo com a de muitos que agora estão em desespero, porque sentem que está chegando ao fim.

Essa noção de fugacidade desperta o único e definitivo antídoto contra suas demoníacas tentações: a necessidade de sermos humildes no exercício do poder. Se exercido com humildade, quando desaparece não faz falta, não destrói as pessoas. A humildade não faz mal a ninguém. Ela é tranquilizadora, benéfica e ajuda a viver.

Isto é o que tem faltado e tem transformado os tempos atuais no Maranhão em tempos de arrogância, de autoritarismo e de desprezo às pessoas.

Certa vez estava com Tancredo e resolvemos indagar quais as dez maiores virtudes para governar. Tancredo falou em primeiro lugar.

Bateu na minha perna e disse: “As sete primeiras são humildade e paciência; as três que faltam você, Sarney, pode preenchê-las.” “As minha três também são em primeiro lugar humildade, em segundo paciência, e em terceiro humildade.”

São duas coisas que têm faltado atualmente no Maranhão: paciência para ouvir e tratar bem aqueles que necessitam ser tratados bem; e humildade, inimiga da arrogância, da perseguição, do ódio, da inveja — e amiga de Deus.

Quero acrescentar também uma advertência: aqueles que fingem e simulam fé não enganam ninguém. Os fariseus são bem conhecidos e aqui, agora, escondem seu autoritarismo e simulam fé. Que bom te ver, Roseana, e saber que vamos ter paciência, humildade e fé.

Coluna do Sarney

3 comentários para "Da humildade"


  1. Magno Cunha Silva

    Está com medinho para liberar meu comentário é seu Zeca Soares é?

    COMENTÁRIO MODERADO. EU NÃO VIVO 24H N BLOG. ENTRO EM MOMENTOS PONTUAIS PARA ATUALIZAR OS COMENTÁRIOS.

  2. SANDOW DE JESUS GOIABEIRA FEQUES

    Muito Bom dia.

    Muito bom ler suas experiências de vida. Tenho um profundo respeito pela sua história de vida, odiada por muitos e também aplaudida por muitos. As vezes fico a pensar o que seria daqueles que o rejeita e também daqueles que o aceitam. AQUELE que pretende ser servidor público (Governador, Prefeito, Senador, Deputado, Vereador)deveria entender muito bem essa função, conhecer seus desafios e saber se realmente tem condições de exercer-la. Governar é uma ação digna e acima de tudo humana. Se preocupar com o semelhante é mandamento divino. Influenciar pessoas para trabalharem entusiasticamente, visando atingir aos objetivos identificados como sendo para o bem comum, é habilidade para poucos. O Governante utiliza a autoridade, não o poder. AQUELES que postulam uma oportunidade de governar uma nação, um estado, um município é um ato humano, de amor, é CONSTITUCIONAL. Queria acrescentar a essa lista(se o Senhor permitir) a CONSCIÊNCIA. A consciência da responsabilidade dada pela maioria, consciência moral, ética, humana que é fundamental para o bom serviço público. Um grande abraço ao senhor.

  3. Magno Cunha Silva

    Que fim triste Sarney, você e sua trupe estão tendo nesse triste e melancólico fim de linha da desastrosa carreira de um oligarca repleto de arrogância, de impaciência e de falsa fé, dentro da arte de bem governar a todos e para o bem de todos. Todos esses adjetivos descritos aqui neste seu melancólico e odiento artigo, na realidade, desvenda toda sua arrogância, toda sua falta de paciência e todo seu autoritarismo que exatamente meio século governando, simularam humildade, paciência e fé!!!!!
    Triste fim…….. do SARNEY!!!

    COMENTÁRIO MODERADO

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