Um maluco beleza chamado Erlanes

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Em 2014 apareceu lá pelo MAVAM (Museu da Memória Audiovisual do Maranhão) um sujeito que ninguém conhecia, dizendo que estava desenvolvendo o projeto de um filme e que gostaria de contar com a nossa ajuda para realizar a tal produção. Perguntei-lhe sobre o conteúdo do curta-metragem que ele pretendia fazer e ele meio sem jeito me disse que não era um curta, e sim um longa! Espantado, continuei querendo saber sobre o projeto! Imaginei que seria um documentário, mas ele me afirmou que seria um filme ficcional e eu fiquei imaginando só comigo: “Tem cada doido nesse mundo! O cara nunca fez nem um curta e já quer fazer um longa-metragem e logo num gênero que requer muito conhecimento e técnicas específicas e apuradas!” Perguntei qual o assunto e ele me disse ser uma comédia, que se chamaria “Muleque Té Doido” e que retrataria um grupo de amigos bem peculiar de nossa cidade, de forma despretensiosa e escrachada. Foi aí que vi que ele sabia exatamente o que pretendia.

Aquele sujeito era Erlanes Duarte, naquele mesmo dia ganhou o meu respeito e já saiu do MAVAM levando alguns equipamentos importantes para realização de seu primeiro filme.

Para quem não sabe, o Museu da Memória Audiovisual do Maranhão, da Fundação Nagib Haickel, tem como objetivo pesquisar, coletar, preservar, digitalizar e difundir a memória maranhense em meios audiovisuais, e uma das formas que nós encontramos de fazer isso é apoiando produções desse setor em nossa terra. Nesse sentido, funciona lá o Polo de Cinema do Maranhão que conta com a participação de diversas produtoras e indivíduos que fazem cinema por aqui. Esse polo agora conta com o importante apoio do Núcleo de Produção Digital do Maranhão, que é gerido pelo IFMA-MA e pela FNH.

Mas, voltando ao “Muleque Té Doido”!… Do sonho deste maluco beleza, o Erlanes Duarte, e de sua trupe, não saiu apenas aquele filme que fez de cara um incrível sucesso de público, pois falou de forma direta e simples exatamente o que uma boa e grande parcela da população gostaria de ouvir e ver. Em 2016 saiu o segundo filme, “A lenda de Dom Sebastião” que obteve um sucesso pelo menos cinco vezes maior que o primeiro em termos de público e conseguiu a façanha de ser o 15º filme mais visto nos cinemas do Brasil naquele ano, superando produções de alguns dos grandes estúdios internacionais. Agora em 2019 eles lançam o “Mais doido ainda” que terá seu lançamento alavancado por um verdadeiro marco do nosso cinema: osegundo filme da franquia será o primeiro filme maranhense exibido em emissora de televisão com sinal aberto, fato que ocorrerá no sábado, dia 26 de janeiro, na faixa Supercine da afiliada Globo do Maranhão, a TV Mirante!

A franquia “Muleque Té Doido” estabeleceu um parâmetro alto no cinema maranhense, no que diz respeito a sucesso de audiência, fato que não ocorre com outras produções de nossa terra, que, em que pese sejam provenientes de um tipo de cinema bem mais sofisticado e autoral, com produções que primam pela existência de roteiros de grande valor literário e artístico, se servindo de temáticas polêmicas, sociais ou históricas, não conseguem a mesma penetração que esse cinema mais simples, despretensioso, pastelão e escrachado, feito por Erlanes e sua turma.

O Cinema maranhense, já faz mais de 10 anos, desde 2008, com a realização de “Ai que vida!”, de Cícero Filho, e “Pelo Ouvido”, deste humilde redator que vos escreve, vem evoluindo de maneira constante e sempre exponencial. Cineastas autorais como Frederico Machado, Arturo Saboia Daniel Drumont, realistas ou naturalistas como Beto Matuck, Breno Ferreira, Francisco Colombo, Leandro Guterres, Mavi Simão, os mais jovens como Lucas Sá, Marcos Pontes, Breno Nina, Al Danúzio, Taciano Brito, Áurea Maranhão, o pessoal da animação, como Beto Nicácio, Iramir Araújo e Adriano Pinheiro, formam a linha de frente de nosso cinema, que conta com muito mais gente, tão capacitada quanto os aqui citados, isso sem contar com profissionais de altíssimo nível que dão suporte e vida aos nossos projetos, como diretores de fotografia, de arte, cenografia, e de produção.

Erlanes Duarte e seus moleques doidos são parte importante do nosso cinema e recebem de mim, e acredito que devam receber de todos que fazem cinema no Maranhão, o mais profundo respeito e os aplausos por conseguirem realizar, com sucesso, aquilo que se propuseram!

Quando analiso um filme, a primeira coisa que observo é se o realizador da obra conseguiu fazer aquilo que se propusera. No caso do “Muleque Té Doido”, esse intento sempre foi alcançado com sobra.

Blog do Joaquim Haickel

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