Vargem Grande recebe milhares de romeiros

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“São Raimundo, glorioso. Nosso povo está sofrendo!”, cantam as carolas, fiéis e romeiros que engrossam a procissão de São Raimundo Nonato dos Mulundus a partir da concentração no início ou fim da Avenida São Sebastião. Tudo parece se repetir. Mas, é o sentimento de renovação que move milhares de pessoas desde às 4h30 da manhã deste 22 de agosto, quando um foguetório na alvorada anuncia mais uma edição do Festejo de São Raimundo Nonato dos Mulundus, em Vargem Grande.

O Santo Vaqueiro da cidade ensolarada da região dos Cocais é festejado pelos vargem-grandenses e milhares de fieis que acorrem à cidade até o dia 31 de agosto, quando se encerra com uma grande missa campal.

É um festejo com rígido ritual estabelecido. No prenúncio de um sol tropical, britanicamente às 6 horas a procissão de fiéis carregando o andor de São Raimundo dos Mulundus deixa a Igreja de São Sebastião, onde recebe as reverências como inquilino, e inicia a peregrinação em direção à Paulica. É neste povoado solar, distante cerca de 9 quilômetros do Santuário, um anexo da igreja de São Sebastião em Vargem Grande, que está a igreja dedicada ao Santo Vaqueiro. Existe outra, erguida no passado, em Mulundus, nos cafundós da Vargem Grande, lá pro lado dos Iguarás, onde a Balaiada deixou rastro.

Vaqueiros e vaquejada

Para não deixar dúvidas sobre o homenageado, é uma comissão formada por centenas de vaqueiros e cavaleiros que puxa a multidão. Quase todos em silêncio, eles seguem em trotes contidos misturados aos milhares de fiéis. Há aqueles que estão à caráter com gibão zerado e o cavalo nos trinques. As manifestações pela aprovação do projeto de Lei que legitimou a Vaquejada como cultura estão nas camisas, rédeas e outros apetrechos dos vaqueiros.

O padre Antonio Carlos conduz os féis até a Paulica, animando-os com orações e músicas inspiradas no santo do cancioneiro popular. Uma composição de Djalma Chaves, conterrâneo de São Raimundo, está neste repertório free gospel.

Este ano foi o segundo sem a presença de Mimi Barros, uma vargem-grandense que esteve envolvida com a festa por quase toda vida. Como vizinha da igreja, tratava de tudo. Embora a coordenação da festa seja da Paróquia de Coroatá.

A multidão é anônima. Gabriel Ferreira, um menino que ajuda a mãe Maria Helena a vender comida em Paulica, vence os 40 degraus de acesso à igreja de São Sebastião para adorar São Raimundo Nonato dos Mulundus. Na subida, para um pouco e observa um outro adolescente, personificando o Santo Vaqueiro. “Achei”, diz em resposta se gostou da promessa.

Variedades

Na Paulica, a poeira levantada pelo trote dos cavalos se mistura ao tempero da culinária sertaneja. Bode no leite de coco, panelada, galinha caipira, carne de porco assado, carne de boi assado de panela. O cardápio não tem grandes variedades.

O presidente da Assembleia Legislativa, deputado Othelino Neto; e o deputado federal Gastão Vieira, demonstraram sua fé acompanhando a missa campal na Paulica em quase duas horas de duração sob um sol de 40 graus na sombra. Na pregação, o padre Antonio Carlos falou sobre o problema da água, políticas públicas consistentes e outros temas de conotação política.

Tiago Alves Silva, 27 anos, é um paraense de Belém que corre atrás de festejos religiosos no Maranhão em busca de sobrevivência. Vende produtos milagrosos, como pomada chinesa, uma outra que cura dor de coluna, óleo que tira mancha da pele e espinheira santa, a mais verossímil de todas. “Aqui parece ser uma grande festa. Gosto muito. É a segunda vez que venho. Não me arrependo”, diz o ambulante, de olho nos romeiros curiosos.

Como Tiago, ventenas de vendedores ocupam o descampado da Paulica, onde está uma imagem do santo de 2, 10m confeccionada pela artista plástica nativa Diane Mota. A coordenação da festa cobra a ocupação do solo ao preço de R$ 10,00 por metro ocupado. Não interessa se seja linear ou quadrado. Os fiscais não sabem nem quanta barras estão instaladas no local. Passam para receber o pagamento, destinado à paróquia.

Ritual

A história de São Raimundo Nonato dos Mulundus tem a curiosidade das higiografias. Como toda biografia de santo, é perpassada por milagres repassado oralmente de geração a geração. Contam que o vaqueiro foi ferido mortalmente quando exercia sua forma de ganhar a vida. Querido por muitos, Raimundo Nonato foi encontrado morto dias depois no lugar chamado Mulundus, exalando perfume de rosas, apesar dos espinhos que o mataram. Daí para um fazedor de milagres pela fé foi um passo.

No próximo domingo, dia 25 de agosto, acontecerá a 15ª Missa do Vaqueiro, que se transferiu da Paulica, onde teve início em 2005, para Mulundus. Durante toda semana a programação religiosa e comunitária segue. Uma das mais curiosas é o leilão de cria. São capões, porcos, vacas e cavalos colocados à venda. Ele acontece em um cercado rústico na abertura dos festejos após a missa campal na Paulica, depois se transfere para as redondezas da Igreja de São Sebastião.

Fotos: Divulgação

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