Alcântara e o babaçu

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Por José Sarney

O Maranhão teve vários sonhos de salvação. Na Colônia e no Império foram os do algodão e do açúcar. Vivemos com um e outro momentos de euforia. Uns mais e outros menos. O que mais nos realizou foi o do algodão, assim mesmo porque, quando os Estados Unidos se separaram da Inglaterra, esta perdeu o seu grande fornecedor de algodão — era o início da revolução industrial e a indústria têxtil era o carro-chefe da economia inglesa. A esse tempo devemos a bela cidade de São Luís, construída pela riqueza do algodão.

Depois veio o açúcar. Não vingou. Nossas terras eram pobres e não tinham a fertilidade das terras do Estado do Rio nem de Pernambuco ou Bahia.

Outro sonho foi o do babaçu. O interventor Paulo Ramos era um crente fanático de que a riqueza do babaçu ia salvar o Maranhão. Depois, vimos que pelo babaçu só mantínhamos a pobreza.

Nossa geração pensou na vocação maranhense. Como iríamos sair do ciclo de coletor e delegado, de roças pobres e vaqueiros sem futuro.

Coube-me liderar os que começaram a pensar no desenvolvimento do Maranhão. Tínhamos apenas um trunfo, já que o Criador não nos dera minérios nem terras boas. Qual era? O Itaqui, sabendo que em torno de um grande porto sempre se desenvolve uma civilização. A primeira grande luta foi construí-lo e convencer o Ministério do Transporte de que ele seria o porto do Nordeste e da grande exportação.

Lutamos com o Pará e trouxemos o minério da Serra dos Carajás para o Maranhão. Presidente da República, pensei na Norte-Sul para completar a integração do Porto, que teria como carga de volta combustível para o Centro-Oeste, que ia, como vai até hoje, de caminhão e carro.

Depois o sonho da refinaria e da siderurgia. Quantas vezes sonhamos com essas hipóteses. Pois bem, agora aconteceu o que de pior podia nos acontecer. Perdemos força política e o Pará nos derrotou: acaba de assinar com a Vale e os chineses a construção, no Pará, da siderurgia que seria no Maranhão.

Agora só nos resta Alcântara. A Base de Lançamento de Satélites de Alcântara. Os foguetes espaciais e os satélites são as indústrias que mais crescem no mundo. Eu sempre acreditei em Alcântara e ajudei a construí-la. Agora temos que agarrá-la com todas as mãos e forças, e nos unir para fazer de Alcântara o grande polo tecnológico e espacial.

Não vamos chorar, vamos lutar. Alcântara pode nos salvar.

Precisamos mais do que nunca de recursos humanos, de ensino básico e de qualificar nossas universidades para isso. Ainda tenho forças para sonhar. O acordo que foi firmado com os EUA é o primeiro. Alcântara não pode ser o fracasso da refinaria ou do velho babaçu.

*Coluna do Sarney

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