É tempo de celebrar os amigos

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Das lembranças que guardo de minha primeira juventude no interior do Estado, esta talvez seja a mais importante: as pessoas são muito mais sociáveis e afetivas com os seus circunstantes do que as vivem nos centros mais adiantados.Quando vim morar em São Luís fui, aos poucos, descobrindo que não tinha mais tempo para os amigos. Na minha pequena cidade natal eu tinha os amigos todos os dias para bater papo. 

Hoje, na grande cidade, os amigos se gostam de longe. Têm que tratar dos seus negócios, dos seus empregos ou dos seus desempregos. Estamos todos condenados à lei animal das selvas, à competição bárbara e antropofágica ou pelo lucro ou pela carreira profissional.

É absolutamente irracional que eu não visite com frequência os meus amigos ou não seja visitado por eles. Sinto que os amo, sei que eles me amam também, mas o que é bem bom e essencial, nada: o encontro. Sinto-me cada vez mais distante das pessoas que mais prezo.

Na minha pequena cidade natal, tinha encontro com os meus amigos todas as manhãs bem cedinho, quando os primeiros raios de sol invadiam a minha casa e eu dava de cara na rua ou em cima das árvores colhendo frutos com todos os meus afetos.

Hoje, saio cedo e apressado de casa, na maioria das vezes para encontrar com os meus rivais, competidores e inimigos, fingindo cordialidade. Os amigos ficam para depois, num tempo que nunca encontrarei por serem demasiados e cruentos os combates pela vida, que me tomam todo o tempo.

Na minha pequena cidade natal a gente se via toda hora. Hoje, só consigo ver os amigos com hora marcada. Sei de muitos pais hoje em dia marcando hora para receber os filhos.

Antigamente, todos os homens se encontravam todos os dias e todas as horas espontaneamente, ao natural. Hoje em dia todos os homens se encontram com hora marcada, o que quer dizer que se encontram por obrigação.

Tem hora marcada para sair de casa, começar a aula, iniciar o trabalho. Hora marcada para namorar e para transar. Com prazo inicial e prazo terminal. Sempre com pressa. Hora marcada para o espetáculo, para o médico, para o comício, para a greve, para escrever a coluna e para ler o jornal.

Às vezes não é só hora marcada, é dia, é semana, é mês e ano marcados com antecedência, como nos casos da Justiça do Trabalho, o que por si só já é uma brutal injustiça. É um olho no relógio e outro no futuro, isto não é vida. É um rali.

Eu ainda peguei o tempo de todos os dias me encontrar com meus amigos, pela manhã, ao meio-dia, à tarde e à noite, nos intervalos do trabalho ou durante o seu curso. Hoje, só encontramos tempo para o trabalho. E raramente encontramos tempo para aquele papo furado de fim de tarde no bar da esquina, um chope pra distrair, ouvir um soneto ou um violão.

E principalmente não há mais tempo para ver os amigos, o que se constitui na negação da vida e na autodecretação preventiva, antecipada e anunciada da morte. E, quando se encontra um tempinho para um amigo, ele não tem tempo para a gente.

Hoje, portanto, deixo aqui um lembrete a cada leitor para que não esqueça de dar um abraço naquele que o suporta nos melhores e nos piores momentos. Daquele que é capaz de ouvir suas confissões sem julgamento. Daquele que, junto com os seus pais, talvez seja o único capaz de o aturar: é, ele mesmo, seu melhor amigo. 

Hoje é  o dia dele.

4 comentários para "É tempo de celebrar os amigos"


  1. Luiz Freitas

    É isso aí meu caro amigo, nem sempre a distância geográfica e o dia-a-dia nos permitem demonstrar a amizade como gostaríamos. Mas para demonstrarmos nossa amizade não precisamos estar próximos fisicamente todos os dias. Podemos fazer pequenos gestos de carinho e atenção, como por exemplo simples email´s ou telefonemas apenas para dizer: “você é meu amigo e não esqueço de você”.
    Um forte abraço, do amigo de sempre.
    Luiz Freitas

  2. Luiz Paulo Amorim Martins

    PH , parabéns pelo Blog , tenho a certeza que fara tanto sucesso quanto a sua Coluna e sua Revista .

    Parabéns também pelo dia do amigo , é um privilégio poder desfrutar de sua amizade .

    Um abraço

    Luiz Paulo

  3. Marcia Soares

    Pergentino Holanda,
    A minha admiração por vc, veio através dos olhos do teu irmão e meu amigo Nacor Holanda. O respeito, admiração a cada dia solidificaram-se pelo ser humano especial , por sua força obstinada, por teu amor inconteste por sua mãe e irmãos.
    Quero com o mais profundo respeito ao poeta, escritor, cronista, jornalista, colunista e sobretudo pelo ser humano que és , pois mesmo diante de todo glamur em tua vida , sabes como poucos a doce magia de contemplar os amigos.
    Parabéns pelo texto. Seja bem vindo ao mundo online.
    Com toda admiração e respeito

  4. Rodolfo Silva

    Uma vez lí o seguinte : ” A poesia não precisa necessariamente ser a confissão de um pensamento, ela pode ser dita aleatoriamente com a intenção de emocionar o outro ” …. Penso que no teu caso , escreves porquê pensas, escreves porquê sentes e escreves porquê tens talento natural pra isso, a prova é única: nos faz refletir, nos faz imaginar, viajar e concluir, nos toca profundamente , faz-nos achar até o que imaginávamos não ter mais : nossa sensibilidade, a ponto de descbrimos sermos todos feitos de saudades, de amores e de reascendermos os sentimentos antes esquecidos, teu texo é espetacular , portanto, a farse de João Cabral de Melo Neto acima, não se encaixa a tí. Rodolfo Silva

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